São Paulo, sexta-feira, 13 de novembro de 2009

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Rede de emergência falhou e ampliou apagão

Blecaute foi quase quatro vezes maior do que poderia ter sido se sistema tivesse entrado em operação imediatamente

Falha permitiu sobrecarga em conjunto de linhas de Itaipu e causou um "efeito dominó", o que aumentou a dimensão do problema

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O corte no fornecimento de energia no apagão de terça-feira foi quase quatro vezes maior do que poderia em razão da demora na entrada em operação do sistema de proteção do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) que isola falhas e barra o efeito cascata da queda de usinas e linhas de transmissão.
É que o sistema, todo automatizado, não agiu imediatamente quando o primeiro conjunto de linhas de Itaipu sofreu a pane -provocada, segundo o governo, por curto-circuito em três linhas em razão de fortes ventos, chuvas e raios na região da subestação de Itaberá (SP).
Segundo especialistas e o próprio presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz, o sistema do ONS -chamado de Erac (Esquema Regional de Alívio de Carga)- não funcionou como deveria na região Sudeste e não cortou imediatamente a carga de energia de cerca de 6.000 MW médios transportada na linha que liga Itaipu a Tijuco Preto (SP).
Se isso tivesse ocorrido, uma área menor, com consumo correspondente a esse volume de energia, ficaria sem luz. Ao todo, o apagão provocou corte de 28.800 MW médios e deixou 70 milhões de pessoas no escuro.
O professor da Coppe (Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia da UFRJ) Roberto Schaeffer e o diretor-executivo da Associação Brasileira das Grandes Empresas de Transmissão de Energia Elétrica, César de Barros, dizem que o mais grave foi o fato de o problema não ter sido "isolado" na linha de Itaipu.
O sistema do ONS funciona em cada subestação e é composto por relés -que monitoram a tensão nas linhas e cortam automaticamente o fornecimento de energia em caso de queda na tensão. A tensão é a "força" que permite o transporte de energia entre dois pontos.
Os relés são programados, a partir de estudos feitos para cada região, para interromper o fornecimento a determinadas áreas, de acordo com a redução na tensão -ou seja, quanto maior a queda de tensão, mais áreas ficam sem energia.
Como o sistema não funcionou imediatamente, houve sobrecarga no segundo conjunto de linhas de Itaipu (de Foz do Iguaçu a Ibiuna, em SP), que também não foi desligada. Teve início, então, o efeito dominó: SP, Rio e outras regiões que não foram cortadas começaram a "puxar" energia e a sobrecarregar outras usinas e linhas, desligadas automaticamente por segurança, segundo Barros.
O diretor de operação do ONS, Luís Eduardo Barata, contesta a avaliação e diz que o sistema funcionou corretamente e impediu uma propagação ainda maior do apagão. Permitiu ainda que as áreas afetadas no Nordeste e no Sul voltassem a receber energia num intervalo entre 15 e 30 minutos.
O presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, diz que o sistema é "sólido e robusto" e defende o modelo interligado por permitir uma grande economia na construção de menos usinas e no deslocamento de energia de uma região para a outra. Afirma, porém, que é preciso "analisar o procedimento de retomada e avaliar se poderia ser mais rápido e priorizar os grandes centros de consumo".
Ele diz que os acontecimentos que levaram ao apagão são raros: desde 2000, três linhas de Itaipu caíram em nove ocasiões sem provocar um desligamento dessa proporção. É que agora, diz, o sistema não teve tempo de agir porque as linhas foram "atingidas com diferença de milésimos de segundo".


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