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Rede de emergência falhou e ampliou apagão
Blecaute foi quase quatro vezes maior do que poderia ter sido se sistema tivesse entrado em operação imediatamente
Falha permitiu sobrecarga
em conjunto de linhas de Itaipu e causou um "efeito dominó", o que aumentou
a dimensão do problema
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O corte no fornecimento de
energia no apagão de terça-feira foi quase quatro vezes maior
do que poderia em razão da demora na entrada em operação
do sistema de proteção do ONS
(Operador Nacional do Sistema
Elétrico) que isola falhas e barra o efeito cascata da queda de
usinas e linhas de transmissão.
É que o sistema, todo automatizado, não agiu imediatamente quando o primeiro conjunto de linhas de Itaipu sofreu
a pane -provocada, segundo o
governo, por curto-circuito em
três linhas em razão de fortes
ventos, chuvas e raios na região
da subestação de Itaberá (SP).
Segundo especialistas e o
próprio presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz, o
sistema do ONS -chamado de
Erac (Esquema Regional de
Alívio de Carga)- não funcionou como deveria na região Sudeste e não cortou imediatamente a carga de energia de
cerca de 6.000 MW médios
transportada na linha que liga
Itaipu a Tijuco Preto (SP).
Se isso tivesse ocorrido, uma
área menor, com consumo correspondente a esse volume de
energia, ficaria sem luz. Ao todo, o apagão provocou corte de
28.800 MW médios e deixou 70
milhões de pessoas no escuro.
O professor da Coppe (Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia da
UFRJ) Roberto Schaeffer e o
diretor-executivo da Associação Brasileira das Grandes Empresas de Transmissão de
Energia Elétrica, César de Barros, dizem que o mais grave foi
o fato de o problema não ter sido "isolado" na linha de Itaipu.
O sistema do ONS funciona
em cada subestação e é composto por relés -que monitoram a tensão nas linhas e cortam automaticamente o fornecimento de energia em caso de
queda na tensão. A tensão é a
"força" que permite o transporte de energia entre dois pontos.
Os relés são programados, a
partir de estudos feitos para cada região, para interromper o
fornecimento a determinadas
áreas, de acordo com a redução
na tensão -ou seja, quanto
maior a queda de tensão, mais
áreas ficam sem energia.
Como o sistema não funcionou imediatamente, houve sobrecarga no segundo conjunto
de linhas de Itaipu (de Foz do
Iguaçu a Ibiuna, em SP), que
também não foi desligada. Teve
início, então, o efeito dominó:
SP, Rio e outras regiões que não
foram cortadas começaram a
"puxar" energia e a sobrecarregar outras usinas e linhas, desligadas automaticamente por segurança, segundo Barros.
O diretor de operação do
ONS, Luís Eduardo Barata,
contesta a avaliação e diz que o
sistema funcionou corretamente e impediu uma propagação ainda maior do apagão. Permitiu ainda que as áreas afetadas no Nordeste e no Sul voltassem a receber energia num intervalo entre 15 e 30 minutos.
O presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, diz que o sistema é "sólido e robusto" e defende o modelo interligado por
permitir uma grande economia
na construção de menos usinas
e no deslocamento de energia
de uma região para a outra.
Afirma, porém, que é preciso
"analisar o procedimento de
retomada e avaliar se poderia
ser mais rápido e priorizar os
grandes centros de consumo".
Ele diz que os acontecimentos que levaram ao apagão são
raros: desde 2000, três linhas
de Itaipu caíram em nove ocasiões sem provocar um desligamento dessa proporção. É que
agora, diz, o sistema não teve
tempo de agir porque as linhas
foram "atingidas com diferença
de milésimos de segundo".
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