São Paulo, sexta-feira, 13 de novembro de 2009

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Eletrobrás investe menos da metade da verba

Maior estatal do setor energético do Brasil gastou apenas 48% do orçamento e culpa problemas legais e ambientais

Para especialistas, tornar o sistema elétrico do país menos exposto a situações imprevisíveis tem um preço alto e exige investimentos

FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

O Grupo Eletrobrás, que controla grande parte dos sistemas de geração e transmissão de energia elétrica do Brasil, investiu, até o fim de setembro, 48% da verba prevista no orçamento do ano, tanto para geração quanto para transmissão. No total, o orçamento prevê R$ 7,2 bilhões em investimentos.
Tornar o sistema elétrico mais seguro e menos exposto a situações imprevisíveis, como raios e falhas humanas, tem um preço alto e exige investimentos, afirmam especialistas.
A Eletrobrás é a empresa controlada pelo governo que detém metade do capital da Itaipu, desligada totalmente pela primeira vez na história durante o apagão que atingiu 18 Estados nesta semana.
A Eletrobrás prevê que, até o fim de ano, executará de 70% a 80% do orçamento. Segundo a estatal, a execução depende de fatores como "procedimentos legais e ambientais que necessitam ser cumpridos". Como exemplo cita a usina Angra 3, cuja construção deveria começar em março, mas, devido à espera pelo licenciamento ambiental, só iniciou em outubro.
Nos últimos nove anos, os investimentos da Eletrobrás ficaram abaixo de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto). Em 2000, um ano antes do maior apagão energético do país, as aplicações no setor foram equivalentes a 0,18% do PIB.
"Quando acontece algo assim [blecaute], todo mundo acha que investiu pouco. Mas só o planejamento do setor pode definir o investimento ideal", afirmou o deputado Nelson Bornier (PMDB-RJ), vice-presidente da Comissão de Minas e Energia da Câmara.

Investimentos
De imediato, o custo para aperfeiçoar, expandir, modernizar e dar mais segurança à rede de fios que trazem energia das usinas ao consumidor seria de R$ 6 bilhões. O cálculo é da Trevisan Consultoria e não inclui a construção de usinas de geração. Em relação à segurança, os investimentos seriam dirigidos ao uso de equipamentos com maior precisão, computadores e sistemas de tecnologia da informação mais avançados.
"Depois de investir em geração, o Brasil apostou em um modelo que dá prioridade ao preço da tarifa e optou por não dar prioridade à segurança na transmissão. Foi uma aposta, que agora se mostrou errada", diz Antônio Carlos Porto, consultor de energia e sustentabilidade da Trevisan.
Porto defende a criação de sistemas "redundantes", em que, na falta de energia das hidrelétricas, cidades ou regiões tivessem capacidade para gerar energia e uma rede para transportá-la internamente, criando ilhas de abastecimento.
Independentemente disso, já deveria estar em discussão no país a substituição dos equipamentos para monitorar a rede.
"Essa rede permitiria ampliar a quantidade de dados disponíveis. Poderíamos ter dados meteorológicos ou informações mais precisas de sobrecarga, de forma automatizada e menos dependente da análise do homem", diz Jamil Haddad, da Sociedade Brasileira de Planejamento Energético.
A decisão de pagar para criar redes inteligentes com capacidade de geração de energia não é uma unanimidade. "É muito dinheiro a ser investido que poderia ser aplicado em outra coisa. A sociedade deveria fazer as contas e decidir: é melhor pagar uma conta muito mais alta ou sofrer um risco de raio a cada dez anos?", diz Ennio Peres, professor de física da Unicamp.


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