São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 2002

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CRIME

Acusado de matar professora será julgado hoje; depoimentos sobre a vítima, desaparecida em 97, são contraditórios

Defesa de juiz alega que a mulher dele estaria viva

KEILA RIBEIRO
DA FOLHA VALE
LUCIANA ARARIPE
FREE-LANCE PARA A FOLHA VALE

A condenação ou a absolvição do juiz Marco Antônio Tavares, 47, depende de os 25 desembargadores que compõem o Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo aceitarem ou não a tese alegada pela defesa, de que estaria viva a mulher do juiz, a professora Marlene Aparecida Moraes, desaparecida no dia 22 agosto de 1997. Tavares irá a julgamento hoje, a partir das 9h, no TJ, sob a acusação de ter matado a mulher, com 40 anos na época, e ocultado o seu cadáver.
Será o primeiro caso de um juiz levado a júri por homicídio no Estado e o segundo na história do Judiciário brasileiro.
Quatro depoimentos considerados centrais embasam os dois lados da disputa.
A acusação tem os depoimentos de Morgana D'Addea e Regina Corrêa de Moraes, amigas de Marlene que reconheceram o corpo da professora, encontrado no dia 30 de agosto daquele ano próximo à rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro, em Taubaté, com dois tiros e as digitais das mãos raspadas. O juiz trabalhava em Jacareí na época.
Do lado da defesa, há os depoimentos do oficial de Justiça de Jacareí Nivaldo Aparecido Bicudo e do delegado de polícia de Caçapava Eduardo Kepczynski, que, em dias diferentes, disseram ter visto a professora viva.
Bicudo afirma ter visto Marlene em Jacareí na manhã do dia 26 de agosto, quatro dias após a data em que ela teria sido morta. Já Kepczynski afirma ter visto a professora em Maceió (AL) meses depois de seu desaparecimento.
Para reforçar sua tese de que o corpo encontrado não é o de Marlene, a defesa alega, ainda, que o laudo do exame do DNA do corpo encontrado foi inconclusivo, ou seja, não teve condições de afirmar se o cadáver era ou não da professora.
Além disso, a defesa de Tavares questiona o exame da arcada dentária que comprovou ser o corpo de Marlene. Tânia Liz Tizzoni Nogueira, advogada de Tavares, questiona o reconhecimento do corpo por Morgana e Regina.
A defesa alega ainda que a roupa e o anel que Marlene usava, que ajudaram as amigas a identificar o corpo, são peças comuns.
Para a acusação, a estratégia da defesa de tentar provar que a professora está viva não vai funcionar. "Só se a defesa trouxer a Marlene viva para o julgamento", disse Mário de Oliveira Filho, advogado da família da vítima.

O caso
O inquérito policial sobre o caso concluiu que Tavares foi o autor do assassinato de Marlene.
A suspeita começou a recair sobre o juiz quando uma amiga da professora, Rosa Maria Mattos, afirmou à polícia ter recebido uma ligação de Marlene na véspera do suposto crime em que ela dizia estar com medo de ser morta pelo juiz. Outra evidência foi o depoimento de um porteiro da faculdade de direito onde Marlene estudava. Ele disse tê-la visto saindo com o juiz na noite anterior ao seu desaparecimento.
Há ainda o depoimento da funcionária de um supermercado que disse ter visto o juiz comprando luvas cirúrgicas na véspera do crime. No local onde o corpo foi achado, havia luvas cirúrgicas. A polícia também quebrou o sigilo telefônico de Marlene, que estava separada de Tavares havia cerca de dois meses, e constatou que ela recebeu ligações do ex-marido nos dias anteriores.
O juiz nega ter sido o autor do crime. O processo vem tramitando em segredo de Justiça no TJ.


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