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CRIME
Acusado de matar professora será julgado hoje; depoimentos sobre a vítima, desaparecida em 97, são contraditórios
Defesa de juiz alega que a mulher dele estaria viva
KEILA RIBEIRO
DA FOLHA VALE
LUCIANA ARARIPE
FREE-LANCE PARA A FOLHA VALE
A condenação ou a absolvição
do juiz Marco Antônio Tavares,
47, depende de os 25 desembargadores que compõem o Órgão Especial do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo aceitarem ou
não a tese alegada pela defesa, de
que estaria viva a mulher do juiz, a
professora Marlene Aparecida
Moraes, desaparecida no dia 22
agosto de 1997. Tavares irá a julgamento hoje, a partir das 9h, no
TJ, sob a acusação de ter matado a
mulher, com 40 anos na época, e
ocultado o seu cadáver.
Será o primeiro caso de um juiz
levado a júri por homicídio no Estado e o segundo na história do
Judiciário brasileiro.
Quatro depoimentos considerados centrais embasam os dois
lados da disputa.
A acusação tem os depoimentos
de Morgana D'Addea e Regina
Corrêa de Moraes, amigas de
Marlene que reconheceram o corpo da professora, encontrado no
dia 30 de agosto daquele ano próximo à rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro, em Taubaté, com
dois tiros e as digitais das mãos
raspadas. O juiz trabalhava em Jacareí na época.
Do lado da defesa, há os depoimentos do oficial de Justiça de Jacareí Nivaldo Aparecido Bicudo e
do delegado de polícia de Caçapava Eduardo Kepczynski, que, em
dias diferentes, disseram ter visto
a professora viva.
Bicudo afirma ter visto Marlene
em Jacareí na manhã do dia 26 de
agosto, quatro dias após a data em
que ela teria sido morta. Já
Kepczynski afirma ter visto a professora em Maceió (AL) meses
depois de seu desaparecimento.
Para reforçar sua tese de que o
corpo encontrado não é o de Marlene, a defesa alega, ainda, que o
laudo do exame do DNA do corpo
encontrado foi inconclusivo, ou
seja, não teve condições de afirmar se o cadáver era ou não da
professora.
Além disso, a defesa de Tavares
questiona o exame da arcada dentária que comprovou ser o corpo
de Marlene. Tânia Liz Tizzoni Nogueira, advogada de Tavares,
questiona o reconhecimento do
corpo por Morgana e Regina.
A defesa alega ainda que a roupa e o anel que Marlene usava,
que ajudaram as amigas a identificar o corpo, são peças comuns.
Para a acusação, a estratégia da
defesa de tentar provar que a professora está viva não vai funcionar. "Só se a defesa trouxer a Marlene viva para o julgamento", disse Mário de Oliveira Filho, advogado da família da vítima.
O caso
O inquérito policial sobre o caso
concluiu que Tavares foi o autor
do assassinato de Marlene.
A suspeita começou a recair sobre o juiz quando uma amiga da
professora, Rosa Maria Mattos,
afirmou à polícia ter recebido
uma ligação de Marlene na véspera do suposto crime em que ela dizia estar com medo de ser morta
pelo juiz. Outra evidência foi o depoimento de um porteiro da faculdade de direito onde Marlene
estudava. Ele disse tê-la visto saindo com o juiz na noite anterior ao
seu desaparecimento.
Há ainda o depoimento da funcionária de um supermercado
que disse ter visto o juiz comprando luvas cirúrgicas na véspera do
crime. No local onde o corpo foi
achado, havia luvas cirúrgicas. A
polícia também quebrou o sigilo
telefônico de Marlene, que estava
separada de Tavares havia cerca
de dois meses, e constatou que ela
recebeu ligações do ex-marido
nos dias anteriores.
O juiz nega ter sido o autor do
crime. O processo vem tramitando em segredo de Justiça no TJ.
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