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AMBIENTE
País tem 39 espécies, quase todas da mata atlântica, entre quase 800 sob risco "imediato" de extinção, diz estudo
Brasil é o 3º colocado na "UTI da extinção"
DA REPORTAGEM LOCAL
Se nada for feito, e rápido, os
pontos vermelhos e amarelos no
mapa ao lado em breve vão corresponder a 794 espécies a menos
na Terra -três vezes mais que as
criaturas extintas desde o ano de
1500. Um novo levantamento indica que essas espécies estão, na
prática, totalmente restritas a locais únicos do planeta, sob o cerco
da pressão humana.
A notícia é especialmente ruim
para o Brasil e sua já debilitada
mata atlântica (não sobra mais
que 7% da cobertura original do
ecossistema). O país ocupa o terceiro lugar do mundo em número
de espécies na UTI da extinção:
39, quase todas nativas da mata
que cobria boa parte do litoral
brasileiro há cinco séculos.
Tudo está perdido? Não para a
equipe internacional de pesquisadores que realizou a análise. Em
vez de carregar nas tintas da hecatombe, eles preferem enfatizar a
oportunidade que os dados oferecem. "Pela primeira vez, nós agora sabemos quais são os lugares
onde as extinções muito provavelmente vão acontecer a seguir.
Ou seja, o resultado é imediatamente relevante para a ação prática", disse à Folha o biólogo Michael Hoffmann, do Centro de
Ciência Aplicada da Biodiversidade da ONG Conservação Internacional, em Washington.
"É claro que esses não são os
únicos lugares onde precisamos
trabalhar, e os dados não são perfeitos, mas isso não é motivo para
deixarmos de agir agora, levando
em conta o que já sabemos", avalia o sul-africano Hoffmann, que
integra a chamada AZE (Aliança
para a Extinção Zero).
Não é de hoje que os biólogos da
conservação quebram a cabeça
para fazer escolhas ingratas. "Alguns anos atrás, a coisa começou
com o esforço de identificar as 25
áreas que continham grande diversidade de espécies e já tinham
sido muito devastadas", conta o
biólogo Stuart Pimm, da Universidade Duke (EUA). "O desafio é
ir além disso, e é o que esse trabalho faz, trazendo uma receita mais
detalhada e global das áreas que
precisam de proteção imediata."
Hoffmann e seus colegas trabalharam a partir de dados conhecidos sobre espécies ameaçadas e
seus habitats mundo afora. Os dados se restringiram a mamíferos,
aves, anfíbios, alguns répteis (tartarugas, jacarés e iguanas) e coníferas (árvores como os pinheiros)
-grupos sobre os quais há boas
informações disponíveis.
A "nota de corte" do risco iminente de extinção designava locais com pelo menos uma espécie
ameaçada, que abrigassem pelo
menos 95% de toda a população
dela que ainda existe no mundo
(veja quadro). Foi assim que eles
chegaram a 595 locais, com 795
espécies à beira do abismo. No
Brasil, são dois mamíferos (dois
macacos, os guigós), 13 aves e 24
rãs, sapos e pererecas.
Enquanto 80% das 245 extinções de 1500 para cá nesses grupos
ocorreram em ilhas, lugares vulneráveis por natureza, mais da
metade das espécies sob risco iminente agora mora em continentes. Mais de 40% dos locais "insubstituíveis" da lista não estão
protegidos legalmente. E, na média, eles estão próximos de áreas
com população humana muito
densa -como a serra dos Órgãos, na esquina da área metropolitana do Rio de Janeiro.
Essa proximidade pode não ser
tão ruim quanto parece, diz Stuart
Pimm. "Em áreas como Roraima,
onde eu faço trabalho de campo, a
falta de presença do Estado e da
sociedade acaba facilitando a destruição. Mais gente por perto
também pode significar mais
pressão pela preservação."
A mensagem é clara: proteger o
que resta. "Estamos falando de
uma sobrevida entre dez e 30 anos
-e muito menos que isso para algumas dessas espécies."
(REINALDO JOSÉ LOPES)
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