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USP faz testes com asfalto antienchente
Escola Politécnica estuda uma camada que retarda em 50% a velocidade com que as águas chegam aos rios e córregos
Outras tecnologias, como
o fim da canalização de rios com concreto poderiam reduzir os impactos de inundações na cidade
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto São Paulo submergia na última terça-feira, uma
rua dentro da USP (Universidade de São Paulo) enfrentava o
temporal como se fosse uma
chuvinha: as águas acumuladas
no asfalto não ultrapassaram a
altura da sarjeta. O segredo
dessa rua, criada dentro do Laboratório de Hidráulica da Escola Politécnica, é uma nova
tecnologia de asfalto.
"O asfalto fica tão poroso
quanto a areia da praia", compara José Rodolfo Martins,
professor de engenharia hidráulica da Escola Politécnica
da USP, que conduz o experimento com dez pesquisadores.
A pesquisa da Politécnica
tem uma ligação direta com o
alagamento e o caos da última
semana: a meta é criar um revestimento que retarde em
50% a velocidade com que as
águas chegam aos rios e córregos da cidade. "O objetivo é reter a água nas ruas para evitar
enchentes", diz Martins.
O asfalto antienchente faz
parte de um novo arsenal contra as cheias, junto com a abertura de córregos que foram canalizados e a construção de reservatórios para guardar a água
da chuva em prédios, batizados
de "piscininhas".
Aumento da porosidade da
cidade é essencial para reduzir
o impacto das enchentes por
duas razões, segundo o engenheiro Mario Thadeu Leme de
Barros: eleva a absorção de
água e reduz a criação de ilhas
de calor, que potencializam as
tempestades. Segundo ele, asfalto poroso pode ser usado em
grandes áreas impermeáveis,
como estacionamentos.
"As técnicas tradicionais de
controle de cheias já não funcionam numa cidade tão complexa como São Paulo", afirma
Sadalla Domingos, também
professor da Poli e defensor de
um movimento que mal começou no país -a renaturalização
dos rios, com o fim da canalização de concreto e o plantio de
vegetação nas margens.
Retirar o concreto de córregos ajuda a combater enchentes porque a água é absorvida
pelas margens e demora mais
para chegar aos pontos críticos.
A prefeitura, com a Sabesp, já
destampou cinco córregos, todos na periferia da cidade. Cada
cem metros de rio reaberto
custa R$ 750 mil, segundo Elisabete França, superintendente da Secretaria de Habitação
-o valor inclui até a remoção
de famílias que viviam nas margens. "Não é um custo absurdo
para recuperar a nascente de
um rio", afirma.
Regina Monteiro, diretora da
Emurb (Empresa Municipal de
Urbanização) que articulou o
projeto Cidade Limpa, acha a
iniciativa da prefeitura tímida:
"Tinha de destampar o Tamanduateí, mas só eu e o Eduardo
Jorge [secretário do Verde] defendemos isso", diz, referindo-se ao rio que corre ao lado da
avenida do Estado.
A ideia de tirar o concreto das
margens do Tamanduateí ganhou força depois que o prefeito Gilberto Kassab (DEM) visitou em maio deste ano o rio
Hangang, em Seul, na Coreia do
Sul, que foi despoluído e descanalizado. O projeto do Tamanduateí não foi adiante, segundo
Monteiro, "porque os técnicos
têm medo [do resultado] e deixam os políticos inseguros".
Seul tornou-se um caso
exemplar porque um rio fétido
foi convertido em parque. Mas
há exemplos de renaturalização em Paris, onde o La Bièvre
está perdendo canais construídos há 200 anos, em Londres e
nos EUA. Lá, a agência ambiental criou até manual para ensinar a renaturalizar rios.
Não é por falta de leis que São
Paulo patina no uso de novas
técnicas antienchente. A cidade tem leis que obrigam estacionamentos a céu aberto a reservar uma área para árvores
(2002), empreendimentos a
criar calçadas permeáveis
(2006) e prédios a construírem
reservatórios para guardar
água da chuva (2007).
Os números não são animadores. A prefeitura bancou a
construção de 353 quilômetros
de calçadas permeáveis entre
2005 e 2007 -equivalem a 1%
dos 30 mil quilômetros de calçadas. Nesse ritmo, seriam necessários 255 anos para mudar
todas as calçadas da cidade.
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