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Vizinhos do acidente deverão ficar em hotéis até quarta-feira, pelo menos
PAULO SAMPAIO
ANDRESSA ROVANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os moradores ameaçados pelo desmoronamento na estação
Pinheiros do metrô devem ficar, pelo menos, até quarta-feira nos hotéis oferecidos pelo
Consórcio Via Amarela, informou a assessoria da empresa.
Como foram orientados a deixar suas casas já na sexta-feira,
em situação de emergência,
muitos voltaram ontem para
pegar mais roupas.
O técnico em prótese Alex
Azevedo, 43, que está hospedado com a mulher e o filho no
hotel Golden Tower, trouxe as
peças em uma mala grande.
"A gente costuma fazer malas
para viajar, não para se hospedar a algumas quadras de casa",
lamenta a mulher de Azevedo, a
restauradora Adriana, 41.
Apesar dos transtornos, ela
diz que a sua família está recebendo suporte de estadia, alimentação e transporte. "Eles
vão cobrir até despesas com pet
shop", diz. O Consórcio Via
Amarela alojou outra parte dos
moradores no hotel L'Opera,
que cobra R$ 99 a diária.
O corretor de imóveis Antônio Manuel Teixeira, 53, olha
para cima e pede a Deus que o
braço de guindaste que paira
sobre o prédio em que mora
despenque. "Não vou conseguir
morar ali depois desse susto. E,
pensa bem, quem vai alugar um
apartamento naquele lugar?",
pergunta Teixeira, que está
com mulher e filho no Golden
Tower, cuja diária é R$ 129,00.
Ele dá como alternativa à
drástica queda do guindaste a
desapropriação do imóvel de 88
m2: "Ao menos nos pagariam o
que ele vale".
O restaurante do hotel teve
um movimento incomum já
desde o jantar de sexta-feira,
quando cerca de 50% das mesas estavam ocupadas.
Na sobremesa, o comerciante Hilton Tapxure, 43, conta
que perdeu no buraco o estacionamento com capacidade
para 45 automóveis. Estão na
mesa também os três filhos do
comerciante, de 17, 12 e 7 anos,
e a mulher, Daniela.
Enquanto Eduardo, 7, come
um filé com fritas, Daniela conta que a região do apartamento
da família -um sala e dois
quartos de cerca de 100 m2- foi
invadida por repórteres de TV.
"Um deles viu a porta de casa
aberta e foi entrando, na hora
em que eu me trocava para descer. Eu estava meio sem roupa,
e disse: "Mas o que é isso?" Ele
não deu a mínima: Queremos
gravar com a senhora exatamente assim, se trocando desesperada para sair de casa!".
O ambiente no restaurante
lembra o de um filme em que o
navio afunda. Sentada em um
banquinho do bar, a adolescente Pamela Schlemper, 18, rosto
redondo, topa fazer a foto mas
se queixa: "Gente, fazer foto comendo é uó. Ainda mais sem
maquiagem!"
Ela vai dividir o quarto com o
tio; sua mãe dorme no quarto
ao lado, com a vizinha, Adelaide Videira, 67, que na hora do
desmoronamento estava ouvindo o terço da rádio Nove de
Julho com o seu walkman:
"Soube apenas pelo meu irmão,
que me ligou e contou. Só então
percebi que a sirene da polícia
tocava sem parar lá fora."
Indenização
Se a perícia a ser feita no local
do acidente indicar que o desabamento poderia ter sido evitado, os moradores que tiveram
de ser retirados de suas residências poderão entrar com
ação contra o Estado ou contra
as empresas do consórcio.
"Houve ausência de controle? Se ficar provado que houve,
o Estado é obrigado a indenizar", afirma o advogado Carlos
Maluf Sanseverino, conselheiro estadual e presidente interino da comissão do Meio Ambiente da OAB-SP (Ordem dos
Advogados do Brasil).
"Por exemplo, se moro ao lado [do local], posso ser indenizado duplamente: por danos
materiais, que são fáceis de serem dimensionados, como
trincas na parede, falta de água
etc., e por danos morais, que
são mais subjetivos, como
constrangimento, susto, atraso
no trabalho", afirma ele.
As 78 famílias desalojadas
das casas vizinhas da cratera da
obra do metrô estão se mobiliando para montar uma comissão de moradores. O objetivo
do grupo, que já conta com
mais de 30 assinaturas, é cobrar dos responsáveis o ressarcimento pelos danos e perdas
dos imóveis e estabelecimentos
comerciais. "Tive um prejuízo
de mais de R$ 150 mil", disse
Tapxure, o dono do estacionamento avariado.
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