São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2007

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Vizinhos do acidente deverão ficar em hotéis até quarta-feira, pelo menos

PAULO SAMPAIO
ANDRESSA ROVANI

DA REPORTAGEM LOCAL

Os moradores ameaçados pelo desmoronamento na estação Pinheiros do metrô devem ficar, pelo menos, até quarta-feira nos hotéis oferecidos pelo Consórcio Via Amarela, informou a assessoria da empresa. Como foram orientados a deixar suas casas já na sexta-feira, em situação de emergência, muitos voltaram ontem para pegar mais roupas.
O técnico em prótese Alex Azevedo, 43, que está hospedado com a mulher e o filho no hotel Golden Tower, trouxe as peças em uma mala grande.
"A gente costuma fazer malas para viajar, não para se hospedar a algumas quadras de casa", lamenta a mulher de Azevedo, a restauradora Adriana, 41.
Apesar dos transtornos, ela diz que a sua família está recebendo suporte de estadia, alimentação e transporte. "Eles vão cobrir até despesas com pet shop", diz. O Consórcio Via Amarela alojou outra parte dos moradores no hotel L'Opera, que cobra R$ 99 a diária.
O corretor de imóveis Antônio Manuel Teixeira, 53, olha para cima e pede a Deus que o braço de guindaste que paira sobre o prédio em que mora despenque. "Não vou conseguir morar ali depois desse susto. E, pensa bem, quem vai alugar um apartamento naquele lugar?", pergunta Teixeira, que está com mulher e filho no Golden Tower, cuja diária é R$ 129,00.
Ele dá como alternativa à drástica queda do guindaste a desapropriação do imóvel de 88 m2: "Ao menos nos pagariam o que ele vale".
O restaurante do hotel teve um movimento incomum já desde o jantar de sexta-feira, quando cerca de 50% das mesas estavam ocupadas.
Na sobremesa, o comerciante Hilton Tapxure, 43, conta que perdeu no buraco o estacionamento com capacidade para 45 automóveis. Estão na mesa também os três filhos do comerciante, de 17, 12 e 7 anos, e a mulher, Daniela.
Enquanto Eduardo, 7, come um filé com fritas, Daniela conta que a região do apartamento da família -um sala e dois quartos de cerca de 100 m2- foi invadida por repórteres de TV.
"Um deles viu a porta de casa aberta e foi entrando, na hora em que eu me trocava para descer. Eu estava meio sem roupa, e disse: "Mas o que é isso?" Ele não deu a mínima: Queremos gravar com a senhora exatamente assim, se trocando desesperada para sair de casa!".
O ambiente no restaurante lembra o de um filme em que o navio afunda. Sentada em um banquinho do bar, a adolescente Pamela Schlemper, 18, rosto redondo, topa fazer a foto mas se queixa: "Gente, fazer foto comendo é uó. Ainda mais sem maquiagem!"
Ela vai dividir o quarto com o tio; sua mãe dorme no quarto ao lado, com a vizinha, Adelaide Videira, 67, que na hora do desmoronamento estava ouvindo o terço da rádio Nove de Julho com o seu walkman: "Soube apenas pelo meu irmão, que me ligou e contou. Só então percebi que a sirene da polícia tocava sem parar lá fora."

Indenização
Se a perícia a ser feita no local do acidente indicar que o desabamento poderia ter sido evitado, os moradores que tiveram de ser retirados de suas residências poderão entrar com ação contra o Estado ou contra as empresas do consórcio.
"Houve ausência de controle? Se ficar provado que houve, o Estado é obrigado a indenizar", afirma o advogado Carlos Maluf Sanseverino, conselheiro estadual e presidente interino da comissão do Meio Ambiente da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil).
"Por exemplo, se moro ao lado [do local], posso ser indenizado duplamente: por danos materiais, que são fáceis de serem dimensionados, como trincas na parede, falta de água etc., e por danos morais, que são mais subjetivos, como constrangimento, susto, atraso no trabalho", afirma ele.
As 78 famílias desalojadas das casas vizinhas da cratera da obra do metrô estão se mobiliando para montar uma comissão de moradores. O objetivo do grupo, que já conta com mais de 30 assinaturas, é cobrar dos responsáveis o ressarcimento pelos danos e perdas dos imóveis e estabelecimentos comerciais. "Tive um prejuízo de mais de R$ 150 mil", disse Tapxure, o dono do estacionamento avariado.


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