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ABL lança dicionário e põe fim a dúvidas do Acordo
Nova edição traz grafia definitiva de palavras, diz a Academia Brasileira de Letras
As principais indefinições que o dicionário esclarece são em relação ao uso do hífen, em prefixos não especificados no Acordo
LUISA ALCANTARA E SILVA
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
"Re-editar" ou "reeditar"?
"Coabitar" ou "co-habitar"? As
principais dúvidas que o texto
do Acordo Ortográfico, em vigor desde o dia 1º, havia deixado foram esclarecidas pela publicação da segunda edição do
dicionário da ABL (Academia
Brasileira de Letras), que começou a ser distribuído ontem
nas livrarias.
O "Dicionário Escolar da
Língua Portuguesa", editado
pela Companhia Editora Nacional, tem 1.311 páginas e cerca
de 33 mil verbetes.
"O que está no dicionário vai
ser adotado pelo Volp ["Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa"], diz Evanildo Bechara, membro da ABL e da comissão de língua portuguesa do
Ministério da Educação que
trata do Acordo.
Volp é o documento que registra a grafia oficial das palavras. A nova versão, com cerca
de 370 mil palavras da língua
portuguesa, será publicada até
o início de março.
Hífen
As principais dúvidas que o
dicionário esclarece são em relação ao uso do hífen. De acordo com Bechara, o Acordo não
tratava dos prefixos "re", "pre"
e "pro" por "esquecimento".
Palavras com esses prefixos,
segundo o novo dicionário, devem ser grafadas sem hífen, como "reeditar" e "preencher" -e
não "re-editar" e "pre-encher",
como interpretaram alguns estudiosos no Acordo.
Embora o Acordo tenha sido
assinado por todos os países lusófonos -menos Timor Leste,
que deve assiná-lo brevemente-, a ABL afirma que as palavras que geraram dúvidas não
foram discutidas com as outras
nações. Mas estão valendo no
Brasil assim mesmo.
"O Acordo diz que duas vogais têm que estar separadas
por hífen, mas se esqueceu do
[prefixo] "re". Teria que estar
separado, mas isso se choca
com a tradição lexicográfica,
tanto em dicionários brasileiros como em portugueses", diz
Bechara. "Se o Acordo quisesse
contrariar essa tradição, teria
sido explícito, o que não ocorreu. Logo, a conclusão é a de
que houve um esquecimento."
A tradição é um dos princípios do Acordo, segundo a ABL.
O quarto e último princípio geral afirma que o Acordo deve:
"Preservar a tradição ortográfica refletida nos formulários e
vocabulários oficiais anteriores, quando das omissões do
texto do Acordo". "O texto do
Acordo é curto, não ia abranger
as mais de 300 mil palavras que
há no Volp", afirma Bechara.
Outra dúvida que o dicionário esclarece é a grafia da palavra "abrupto". O dicionário diz:
""Ab-rupto" é preferível a
"abrupto'" -ou seja, as duas
formas são consideradas corretas, mas o ideal é usar a hifenizada. Para Bechara, ""ab-rupto"
não deve causar estranhamento". As escolas devem priorizar
a forma com hífen, disse.
Outro ponto questionável do
Acordo que o dicionário esclarece é o caso da acentuação em
palavras como "destróier". "O
Acordo diz que paroxítonas
com ditongos abertos, como "ei"
e "oi", perdem o acento. É uma
regra específica, mas esqueceu
que tem paroxítonas com esses
ditongos que terminam em "r",
que são obrigatoriamente
acentuadas. Como "destróier".
Essa regra se choca com a regra
específica, mas, entre a regra
específica e a geral, ficamos
com a geral. Então, o acento
continua nessas palavras."
Mas ainda há um ponto que
causa confusão: "co-herdeiro"
ficou grafada como "coerdeiro"
no dicionário, embora no Acordo a indicação fosse para escrever "co-herdeiro". A Folha tentou falar com a ABL ontem à
noite, mas ninguém foi localizado para comentar o caso.
Segunda edição
O interessados em consultar
o dicionário devem ficar bastante atentos: os verbetes considerados corretos e esclarecedores aparecem apenas na segunda edição da obra.
A primeira, com 15 mil exemplares -já vendidos-, foi publicada com verbetes errados.
O problema é que não há na capa selo ou identificação que diferencie as edições -isso ocorre apenas na primeira página,
onde está escrito "2ª edição".
Quem comprou a primeira
edição deve encontrar a partir
de hoje os verbetes que saíram
incorretos corrigidos no site da
empresa (www.editoranacional.com.br). Caso não esteja no ar, o consumidor pode
entrar em contato pelo telefone
0/xx/11/2799-7799 ou pelo e-mail (atendimento@editoranacional.com.br).
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