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BARBARA GANCIA
"Tá ruim, mas tá bão!"
O leitor com prática da vida já deve ter ouvido a prosaica máxima usada por Tom Jobim para comparar os Estados
Unidos ao Brasil. Jobim costumava dizer que "lá é bom, mas é uma
m..." e que "aqui é uma m..., mas
é bom".
Pois, outro dia, o porteiro do
meu prédio, o Alves, veio com
uma variação sobre o tema. Disse-me ele que seu irmão, que nunca saiu de Feira de Santana, na
Bahia, e que certamente desconhece a opinião que Tom Jobim
tinha sobre Nova York vis-à-vis
ao Rio de Janeiro, é um otimista
no melhor estilo tapuia. Quando
o cinto aperta, o irmão do Alves
diz assim: "Tá ruim, tá não? Tá
ruim, mas tá bão".
Não é que o pensamento linear
do irmão do porteiro do meu prédio consegue sintetizar o atual estado das coisas?
"Tá ruim, mas tá bão." Ano
passado, o verão foi do "Bonde do
Tigrão" e da "cadela". Neste ano,
ele pertence à "Égua Pocotó".
Quem vê pensa que o brazuca divide os anos por bichos, como fazem os chineses com seu horóscopo de animais. Quisera!
A coisa vem descambando desde aquele verão em que Carla Perez inventou de namorar uma
garrafa. Num ano as mulheres viram cadelas, noutro, éguas. Minha aposta é que, no ano que
vem, o tema da trilha sonora do
verão seja inspirado na piranha.
No ano seguinte, podemos ir de
galinha, depois de vaca e assim
por diante.
Fico pensando na garotada que
cresce ouvindo esse funk bestial.
Minha geração também se divertia com invenções chulas, mas a
diferença entre, digamos, o disco
do show de Juca Chaves, que embalou o verão de 1971, e a agressividade sexista das letras de hoje é
mais ou menos a mesma que exis
te entre os Teletubbies e as pegadinhas do Sérgio Mallandro.
"Tá ruim, mas tá bão". A Academia de Artes e Ciências de
Hollywood ficou nos devendo.
Por tudo que "Cidade de Deus"
representa e pelo que fez nas comunidades por onde passou, o filme merecia uma indicação para
melhor filme estrangeiro. Na Inglaterra foi tão bem recebido que
os críticos chegaram a sugerir que
"Cidade de Deus" fosse indicado
na categoria de Melhor Filme,
com "Gangues de Nova York",
"Chicago" e "As Horas".
"Tá ruim, mas tá bão". Não gosto nem de pensar no que vai
acontecer com aquele argentino
que vive dentro do Caetano Veloso se ele se tornar o primeiro brasileiro a ganhar um Oscar (pela
música "Burn it Blue", que interpreta em "Frida").
Torço por ele, mas já imaginou
o tamanho do salto?
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