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Câmara defende uso de placa especial para burlar rodízio
Argumento é de que agora a população poderá acompanhar o uso desses veículos
Norma do Contran diz que só o presidente tem direito ao benefício; especialistas dizem que vereadores podem ser multados
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A Câmara Municipal de São
Paulo divulgou ontem uma nota oficial defendendo a decisão
de utilizar placas especiais em
seus veículos, de bronze, como
forma de evitar as multas pelo
desrespeito ao rodízio.
Segundo a nota, a medida foi
tomada "com a anuência dos
vereadores" para "que a população tenha a possibilidade de
acompanhar a utilização desses
veículos". "Inúmeros setores,
inclusive privados, são liberados da restrição de circulação",
diz outro trecho da nota.
Conforme a Folha revelou
ontem, parte dos 54 parlamentares de São Paulo passou a utilizar nesta semana as placas especiais, mesmo em desacordo
com a legislação.
Pelas normas do Contran
(Conselho Nacional de Trânsito), apenas o presidente da Câmara tem o direito ao benefício
da placa de bronze, com letras
pretas e a identificação do Poder Legislativo.
O argumento dos parlamentares para utilizar as placas de
representação é "eqüidade", já
que os tribunais e as Assembléia Legislativas também utilizam. Eles se respaldam num
parecer do advogado Cyro Vidal, especialista em trânsito.
"Em nenhum momento procurou-se buscar artifícios para
burlar as leis de trânsito válidas
em todo país. Quanto ao rodízio de veículos em São Paulo,
informamos que 55 carros numa frota de 6 milhões nada representam", diz trecho da nota.
A nota é assinada apenas pela presidência e vice-presidência da Casa, sem citar os nomes
de Antônio Carlos Rodrigues
(PR), presidente, e Adilson
Amadeu (PTB), primeiro-vice.
"A Câmara Municipal de São
Paulo é um órgão público e
presta serviço da mesma natureza, portanto não há razão para receber tratamento diferente", finaliza o documento.
Multa
O vereador que decidir utilizar as novas placas estará sujeito a ter essas identificações especiais apreendidas pela polícia e a ser multado.
Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, o uso de
placas não-autorizadas fere o
artigo 221 do Código Nacional
de Trânsito. É uma infração
média (quatro pontos da carteira), no valor de R$ 85,13.
A Câmara tenta conseguir
uma autorização do Detran
(Departamento Estadual de
Trânsito) desde o ano passado.
Como o órgão estadual não
pode autorizar, a consulta foi
repassada ao Denatran (Departamento Nacional de Trânsito),
que ainda não se manifestou.
De forma genérica, o órgão diz
que só poderá autorizar os vereadores a utilizar a placa se
houver mudança na lei.
A Câmara foi questionada
pela reportagem sobre o custo
da compra, o nome da empresa
escolhida e o total de vereadores que estão utilizando as placas em seus veículos modelo
Astra. Nenhuma das questões
foi respondida.
A Câmara também não comentou o fato de os próprios
funcionários estarem fazendo a
lacração dos automóveis.
PSDB recusa
Em meio à polêmica, os 12
vereadores da bancada do
PSDB decidiram não utilizar as
placas. Segundo o líder da bancada, Gilberto Natalini (PSDB),
todas as placas ficarão guardadas na sala da liderança até todos os "questionamentos da sociedade" sobre o tema estarem
diluídos. "Não estamos criticando nem interferindo na decisão de ninguém. Cada um
tem a liberdade de usar ou não
usar as placas", afirmou.
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