São Paulo, sábado, 14 de fevereiro de 2009

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Itamaraty considera caso constrangedor

Ministro Celso Amorim, que havia afirmado existir indícios de xenofobia contra a brasileira, manteve o silêncio ontem

Informalmente, diplomatas comentam que evidências são mais favoráveis à versão do perito do que à da advogada brasileira

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores), que na quinta-feira pedira investigações rápidas, admitindo sinais de xenofobia no suposto ataque a advogada brasileira Paula Oliveira, ontem decidiu calar. Sua assessoria limitou-se a dizer que o Brasil aguarda o "desenrolar das investigações", não descartando nenhuma hipótese -nem mesmo a de que a brasileira teria mentido.
Todo o episódio é considerado extremamente constrangedor, porque Amorim foi duro contra o que seria xenofobia na Suíça. Ontem, porém, multiplicavam-se as dúvidas sobre a veracidade da história e especulações de bastidores sobre os motivos que teriam levado Paula a ir tão longe, caso se confirme suspeita de automutilação.
Informalmente, diplomatas comentavam que as evidências são mais favoráveis à versão do perito e da polícia de Zurique do que à da advogada brasileira, porque os ferimentos são muito superficiais, muito lineares e com uma sutileza feminina em quem estaria sendo atacada e se debatendo. Não combina com a hipótese de ataque rápido e cruel de skinheads verdadeiros.
Chamou atenção, ainda, a alegação de que os ferimentos contrariam o padrão dos feitos por homens em mulheres: não atingiram nem os seios nem a região genital, apenas a barriga e as pernas. Além disso, a advogada brasileira não tinha outros ferimentos visíveis.
Mas o fator decisivo para o freio do Itamaraty foi o resultado dos exames comprovando que a história da dupla gravidez era inventada. A partir daí, o Brasil perdeu o discurso e começou a lamentar os efeitos futuros, quando for preciso engrossar novamente a voz em casos característicos de xenofobia porventura verdadeiros.


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