São Paulo, sábado, 14 de fevereiro de 2009

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Traficante se recusa a identificar policiais

O colombiano Ramón Manuel Yepes Penagos acha que não ganhará nada ao revelar os policiais que lhe extorquiram dinheiro

Polícia Federal queria fazer acordo com Yepes por achar que ele conhecia esquema financeiro de Juan Carlos Abadía, o que ele nega

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O traficante colombiano Ramón Manuel Yepes Penagos contou a seus advogados que decidiu não formalizar a acusação contra os policiais do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos) que o teriam extorquido em US$ 300 mil (R$ 680 mil) para não prendê-lo em São Paulo.
Ele avaliou que não vale a pena identificar os policiais porque não ganharia nada com isso. Só espera ser extraditado para os EUA, tarefa que cabe ao Supremo Tribunal Federal.
O colombiano foi preso em maio do ano passado como se fosse mineiro. Só na semana passada a polícia descobriu que era colombiano. Ele é procurado pelas polícias dos EUA, da Colômbia, da Espanha e da Alemanha sob acusação de tráfico de drogas e formação de quadrilha, entre outros crimes.
Ele contou à Polícia Federal na última quarta-feira que antes de ser preso sofreu uma série de extorsões de dinheiro de policiais do Denarc. Disse que um grupo de policiais do Deic (divisão de combate ao crime organizado) também pediu R$ 2,5 milhões para não prendê-lo. Como ele não tinha mais recursos, acabou preso, segundo ele.
O colombiano é acusado de três crimes no Brasil: teria traficado 80 comprimidos de ecstasy numa ocasião, seis em outra e usava identidade falsa.
Ele afirmou que nunca traficou ecstasy e que os dois flagrantes foram forjados pelos policiais do Denarc. A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo não quis comentar as acusações do traficante pelo fato de serem informais, sem nenhum valor jurídico.
O colombiano também comunicou aos advogados que não vai fazer nenhum acordo de delação premiada com a Polícia Federal -que acreditava que ele conhecia o esquema que abastecia com dinheiro o megatraficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía.
Yepes afirmou que é exagerada a versão de que controlava o dinheiro de Abadía e que conhecia os caminhos que o megatraficante usou para esconder 70 milhões em São Paulo.
Diz ser um mero segurança, função que conquistou depois que Abadía matou seu antigo chefe, Victor Patiño Fomeque. Ele disse que chegou a ser o responsável por levar 12 toneladas de droga para a Espanha, mas ganhava como um segurança: US$ 10 mil pela operação toda e mais US$ 50 por quilo de cocaína -US$ 600 mil pelas 12 toneladas.
Abadía, preso na Grande São Paulo em agosto de 2007 e extraditado para os EUA um ano depois, chegou a oferecer US$ 35 milhões ao juiz Fausto Martin de Sanctis, em um acordo de delação, para que sua mulher fosse excluída do processo. O juiz recusou a proposta porque Abadía se negou a revelar o esquema que usava para trazer dinheiro da Colômbia.
Yepes disse à PF que nunca soube exatamente onde estava escondido o dinheiro de Abadía em São Paulo. Disse que ouviu na Colômbia a versão de que Abadía retirou os 70 milhões por meio de homens enviados daquele país.


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