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Polêmica
Desfile "teatral" racha carnavalescos do Rio
Para alguns, coreografias nos carros alegóricos, com movimentos ou teatralizações, "militariza" e tira espontaneidade da festa
Primeiro a usar recurso, Paulo Barros afirma que movimentos são forma de "traduzir o enredo de modo mais fácil para o público"
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Nos últimos anos, as escolas
de samba do Rio de Janeiro lançaram mão de mais um artifício
na busca pela perfeição na Sapucaí: coreografias nos carros
alegóricos, com movimentos
ou teatralizações, tendência
que deve se repetir nos desfiles
das noites de hoje e de amanhã.
O recurso foi usado pela primeira vez em 2004 por Paulo
Barros, da Unidos da Tijuca.
Agora, é alvo de criticas de outros carnavalescos, segundo os
quais as coreografias deturpam
o clima de liberdade do Carnaval e deixam o desfile artificial.
O principal opositor é o atual
campeão, Renato Lage, do Salgueiro. "Não gosto dessa moda.
Sou contra. Tira a espontaneidade, a alegria do Carnaval e a
chance de o folião brincar. O
desfile fica militarizado. Parece
parada de 7 de setembro."
Segundo Lage, já havia "uma
tendenciazinha" de coreografar alas e carros, mas foi mesmo
Barros que "disseminou e enfatizou" o recurso -que o Salgueiro, diz, só usará numa ala,
repleta de negros acorrentados
para representar o poema "Navio Negreiro", de Castro Alves.
Tradução
Paulo Barros, da Tijuca, se
defende afirmando que os "movimentos" do desfile são uma
forma de "traduzir o enredo de
modo mais fácil para o público
e de fazer um grande espetáculo". Barros rejeita o rótulo de
trazer muitas alas coreografadas: "Não é coreografia. Muitas
vezes um único movimento,
um único elemento coreográfico basta para passar a ideia."
Carnavalesco da Vila Isabel
-que desfila amanhã-, Alex de
Souza concorda com Barros e
diz que que a coreografia "ajuda
a compreender o enredo".
Fran Sérgio, um dos carnavalescos da Beija-Flor, afirma que
o recurso "será usado [pela escola] só quando o enredo pede"
e com "muita cautela" para retratar os 50 anos de Brasília.
"Uma escola toda de passo
marcado fica sem alegria, sem
espontaneidade", diz o carnavalesco da Beija-Flor -por causa da homenagem a Brasília, a
escola recebeu R$ 3 milhões do
Distrito Federal por determinação do governador José Roberto Arruda (sem partido),
preso na quinta-feira passada.
Com 19 anos de Imperatriz e
prestes a estrear na União da
Ilha, a veterana carnavalesca
Rosa Magalhães também não
aprova o abuso de coreografias
nos desfiles da Sapucaí: "Vamos usar em um carro, mas
sem exagero. Preservei a característica da escola, que é alegria, a simpatia e a animação do
folião. E a coreografia em excesso tira um pouco isso."
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