São Paulo, domingo, 14 de fevereiro de 2010

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Polêmica

Desfile "teatral" racha carnavalescos do Rio

Para alguns, coreografias nos carros alegóricos, com movimentos ou teatralizações, "militariza" e tira espontaneidade da festa

Primeiro a usar recurso, Paulo Barros afirma que movimentos são forma de "traduzir o enredo de modo mais fácil para o público"

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Nos últimos anos, as escolas de samba do Rio de Janeiro lançaram mão de mais um artifício na busca pela perfeição na Sapucaí: coreografias nos carros alegóricos, com movimentos ou teatralizações, tendência que deve se repetir nos desfiles das noites de hoje e de amanhã.
O recurso foi usado pela primeira vez em 2004 por Paulo Barros, da Unidos da Tijuca. Agora, é alvo de criticas de outros carnavalescos, segundo os quais as coreografias deturpam o clima de liberdade do Carnaval e deixam o desfile artificial.
O principal opositor é o atual campeão, Renato Lage, do Salgueiro. "Não gosto dessa moda. Sou contra. Tira a espontaneidade, a alegria do Carnaval e a chance de o folião brincar. O desfile fica militarizado. Parece parada de 7 de setembro."
Segundo Lage, já havia "uma tendenciazinha" de coreografar alas e carros, mas foi mesmo Barros que "disseminou e enfatizou" o recurso -que o Salgueiro, diz, só usará numa ala, repleta de negros acorrentados para representar o poema "Navio Negreiro", de Castro Alves.

Tradução
Paulo Barros, da Tijuca, se defende afirmando que os "movimentos" do desfile são uma forma de "traduzir o enredo de modo mais fácil para o público e de fazer um grande espetáculo". Barros rejeita o rótulo de trazer muitas alas coreografadas: "Não é coreografia. Muitas vezes um único movimento, um único elemento coreográfico basta para passar a ideia."
Carnavalesco da Vila Isabel -que desfila amanhã-, Alex de Souza concorda com Barros e diz que que a coreografia "ajuda a compreender o enredo".
Fran Sérgio, um dos carnavalescos da Beija-Flor, afirma que o recurso "será usado [pela escola] só quando o enredo pede" e com "muita cautela" para retratar os 50 anos de Brasília.
"Uma escola toda de passo marcado fica sem alegria, sem espontaneidade", diz o carnavalesco da Beija-Flor -por causa da homenagem a Brasília, a escola recebeu R$ 3 milhões do Distrito Federal por determinação do governador José Roberto Arruda (sem partido), preso na quinta-feira passada.
Com 19 anos de Imperatriz e prestes a estrear na União da Ilha, a veterana carnavalesca Rosa Magalhães também não aprova o abuso de coreografias nos desfiles da Sapucaí: "Vamos usar em um carro, mas sem exagero. Preservei a característica da escola, que é alegria, a simpatia e a animação do folião. E a coreografia em excesso tira um pouco isso."


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