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JUVENTUDE ENCARCERADA
Após estupro, internos seguem sem controle em Franco da Rocha, pois funcionários se recusam a entrar
Mais 44 fogem de dois complexos da Febem
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um complexo ainda sob controle dos internos, mesmo depois
do estupro de uma funcionária, e
fuga de 44 adolescentes, em dois
locais diferentes. Assim terminou, ontem, a semana da Febem
(Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) de São Paulo. Desde quinta-feira, a instituição registrou uma série de incidentes
graves, entre eles fuga e rebelião
com números recordes.
Anteontem, quatro internos de
Franco da Rocha (Grande SP) foram responsabilizados pelo estupro de uma educadora social e pelo crime de atentado violento ao
pudor contra outra. Os crimes
ocorreram na sexta-feira à noite.
Depois do estupro -um registro oficial sem precedentes na instituição, que chocou funcionários, entidades e a própria Febem-, a situação permaneceu
tensa e voltou a sair do controle
no complexo de Franco da Rocha.
Ontem de madrugada, 13 internos conseguiram escapar pelos
fundos do complexo, segundo a
Febem. Não houve feridos. Cinco
dos adolescentes que escaparam
continuavam foragidos até o fechamento desta edição.
Ainda no sábado à noite, houve
outra fuga no complexo do Tatuapé (zona leste de São Paulo)
-cerca de 48 horas antes, o mesmo complexo havia registrado
uma fuga em massa. Segundo a
Febem, 31 internos conseguiram
escapar na nova fuga -25 não
haviam sido recapturados até o
fechamento desta edição.
A fundação disse que um grupo
de mais de 100 adolescentes avançou sobre funcionários da segurança no Tatuapé. Eles eram de
quatro unidades do chamado circuito grave -que concentra envolvidos em roubos e homicídios.
Seis agentes tiveram ferimentos
leves, de acordo com a Febem.
Testemunhas dizem que uma
ambulância do complexo foi usada pelos adolescentes para romper um dos portões.
Na quinta-feira à noite, o complexo registrou a fuga de pelo menos 307 adolescentes. Foi a segunda maior fuga na história da instituição -a maior ocorreu em
1999, na Febem da Imigrantes,
com 644 internos fugitivos. Dos
307, 144 continuavam foragidos
até ontem à noite.
A nova fuga no complexo de
Franco da Rocha foi mais um sinal do descontrole no complexo.
Funcionários afirmam, e a Febem
não desmente, que os adolescentes têm o controle das unidades,
mesmo depois do estupro de uma
funcionária por internos.
Os adolescentes teriam assumido o domínio desde a rebelião registrada na quinta-feira. No dia
seguinte, quando a Febem considerava a rebelião encerrada, parte
dos funcionários se recusou a entrar por falta de segurança.
Quem entrava era impedido de
sair pelos internos. Na sexta-feira
à noite, quatro internos da unidade 21 renderam, com facas artesanais, um grupo de funcionários
que estava no pátio e separaram
duas mulheres.
Uma foi estuprada -os internos ainda ameaçaram matar seu
marido, que é funcionário na
mesma unidade- e outra sofreu
abuso sexual, mas conseguiu evitar o estupro.
Na delegacia, anteontem, as vítimas afirmaram que os internos ficaram toda a sexta-feira cheirando cola e tíner e tomando álcool
usado em limpeza. Elas atribuem
a ação dos internos também ao
uso dessas substâncias.
O secretário da Justiça e Defesa
da Cidadania e presidente da Febem, Alexandre de Moraes (PFL),
negou falha nos sistema de segurança, apesar das falhas apontadas pelas vítimas.
Ontem, funcionários também
se recusaram a entrar, e os internos continuavam soltos no interior das unidades. A tropa de choque da Polícia Militar cercou o
complexo para evitar novas fugas.
A Febem informou que 37 internos foram transferidos para o
complexo da Vila Maria (zona
norte de SP) por causa da destruição verificada nas unidades de
Franco da Rocha. Portas e ferrolhos foram destruídos no complexo, o que impede que os internos
sejam trancados nos quartos.
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