São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 2005

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JUVENTUDE ENCARCERADA

Após estupro, internos seguem sem controle em Franco da Rocha, pois funcionários se recusam a entrar

Mais 44 fogem de dois complexos da Febem

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um complexo ainda sob controle dos internos, mesmo depois do estupro de uma funcionária, e fuga de 44 adolescentes, em dois locais diferentes. Assim terminou, ontem, a semana da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) de São Paulo. Desde quinta-feira, a instituição registrou uma série de incidentes graves, entre eles fuga e rebelião com números recordes.
Anteontem, quatro internos de Franco da Rocha (Grande SP) foram responsabilizados pelo estupro de uma educadora social e pelo crime de atentado violento ao pudor contra outra. Os crimes ocorreram na sexta-feira à noite.
Depois do estupro -um registro oficial sem precedentes na instituição, que chocou funcionários, entidades e a própria Febem-, a situação permaneceu tensa e voltou a sair do controle no complexo de Franco da Rocha.
Ontem de madrugada, 13 internos conseguiram escapar pelos fundos do complexo, segundo a Febem. Não houve feridos. Cinco dos adolescentes que escaparam continuavam foragidos até o fechamento desta edição.
Ainda no sábado à noite, houve outra fuga no complexo do Tatuapé (zona leste de São Paulo) -cerca de 48 horas antes, o mesmo complexo havia registrado uma fuga em massa. Segundo a Febem, 31 internos conseguiram escapar na nova fuga -25 não haviam sido recapturados até o fechamento desta edição.
A fundação disse que um grupo de mais de 100 adolescentes avançou sobre funcionários da segurança no Tatuapé. Eles eram de quatro unidades do chamado circuito grave -que concentra envolvidos em roubos e homicídios.
Seis agentes tiveram ferimentos leves, de acordo com a Febem. Testemunhas dizem que uma ambulância do complexo foi usada pelos adolescentes para romper um dos portões.
Na quinta-feira à noite, o complexo registrou a fuga de pelo menos 307 adolescentes. Foi a segunda maior fuga na história da instituição -a maior ocorreu em 1999, na Febem da Imigrantes, com 644 internos fugitivos. Dos 307, 144 continuavam foragidos até ontem à noite.
A nova fuga no complexo de Franco da Rocha foi mais um sinal do descontrole no complexo. Funcionários afirmam, e a Febem não desmente, que os adolescentes têm o controle das unidades, mesmo depois do estupro de uma funcionária por internos.
Os adolescentes teriam assumido o domínio desde a rebelião registrada na quinta-feira. No dia seguinte, quando a Febem considerava a rebelião encerrada, parte dos funcionários se recusou a entrar por falta de segurança.
Quem entrava era impedido de sair pelos internos. Na sexta-feira à noite, quatro internos da unidade 21 renderam, com facas artesanais, um grupo de funcionários que estava no pátio e separaram duas mulheres.
Uma foi estuprada -os internos ainda ameaçaram matar seu marido, que é funcionário na mesma unidade- e outra sofreu abuso sexual, mas conseguiu evitar o estupro.
Na delegacia, anteontem, as vítimas afirmaram que os internos ficaram toda a sexta-feira cheirando cola e tíner e tomando álcool usado em limpeza. Elas atribuem a ação dos internos também ao uso dessas substâncias.
O secretário da Justiça e Defesa da Cidadania e presidente da Febem, Alexandre de Moraes (PFL), negou falha nos sistema de segurança, apesar das falhas apontadas pelas vítimas.
Ontem, funcionários também se recusaram a entrar, e os internos continuavam soltos no interior das unidades. A tropa de choque da Polícia Militar cercou o complexo para evitar novas fugas.
A Febem informou que 37 internos foram transferidos para o complexo da Vila Maria (zona norte de SP) por causa da destruição verificada nas unidades de Franco da Rocha. Portas e ferrolhos foram destruídos no complexo, o que impede que os internos sejam trancados nos quartos.

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