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SEGURANÇA
Relatório confidencial mostrava riscos de ação do tráfico em busca de armas; quartel roubado era considerado seguro
Exército alertou sobre ataques em 2002
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Um documento confidencial do
Exército há quatro anos já alertava para ações de traficantes em
busca de armas em suas dependências e apontava o quartel de
São Cristóvão (zona norte do
Rio), de onde foram roubados dez
fuzis e uma pistola, como um dos
mais seguros do órgão. O material
foi distribuído pelo CIE (Centro
de Informações do Exército) aos
Comandos Militares de Área.
Segundo a Apreciação nš 3, cujo
assunto são "Ameaças às Instalações do Exército", de 2002, as unidades devem ter, "como determinação", sentinelas armadas, desarmadas e força de reação, capacidade de opor resistência a eventual ataque externo. O assalto à
unidade de suprimentos resultou
numa megaoperação do Exército
para recuperar o armamento.
As nove páginas, com divulgação urgentíssima, mostram que o
Exército já alertava há quatro
anos para os riscos de ataques do
crime organizado a unidades militares, em busca de armas. A desatenção das sentinelas e do pessoal de serviço em geral, a falta de
reação adequada e o sucesso de
roubos anteriores encorajam o
crime organizado a atacar quartéis do Exército, diz o documento,
com orientações do então comandante sobre a segurança dos
aquartelamentos.
As 23 propostas de procedimentos para evitar ataques não
foram suficientes para evitar o assalto ao ECT (Estabelecimento
Central de Transportes), em São
Cristóvão. Uma das recomendações, o Plano de Defesa do Aquartelamento -que deveria ser atualizado-, se existia, não funcionou. Os militares foram rendidos
e não reagiram; as sentinelas não
atiraram nem deram alarme.
Houve até militares agredidos.
O relatório confidencial trata do
aumento do número de ações
contra instalações militares para
obter armas e munições e relaciona o "modus operandi" dos criminosos, semelhante ao do caso
recente: ações fora do horário de
expediente, à noite ou de madrugada (no ECT, foi às 3h50); emprego de surpresa; finalidade de
obter armamento e munição;
ação para abastecer o crime organizado com "os cobiçados materiais militares" (fuzis, no ECT);
costume de participação direta ou
indireta de militares da ativa ou
de ex-militares, conhecedores das
normas e procedimentos internos
da guarnição de serviço (ao menos dois suspeitos do roubo são
ex-militares).
A preocupação com a desmoralização do Exército é evidente. Segundo o texto, a falta de reação
"compromete a imagem da instituição, pois tais casos são explorados negativamente pelos veículos
de comunicação de massa".
O material sugere que seja abandonado o conceito defensivo de
planos anteriores e adotada uma
conduta "exclusivamente ofensiva". Para isso, sugere a criação de
"um grupo de reação imediata e
de grupos de captura, constituídos por militares de serviço armados e bem municiados". O primeiro deve ser usado no local e o
outro "tem por missão realizar
uma varredura em toda a área da
unidade, bem como estar em condições de reforçar o grupo de reação imediata". Com os militares
rendidos, nada disso ocorreu.
O plano "deve ser simples e de
fácil execução, por intermédio de
um único planejamento, a ser desencadeado independentemente
do dia e do horário".
A Folha enviou e-mail à assessoria de Comunicação do CML
para saber se os procedimentos
de segurança citados no relatório
de 2002 foram seguidos, mas não
obteve resposta até a conclusão
desta edição.
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