São Paulo, sábado, 14 de março de 2009

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EMILIA MATHIAS SERAFIM (1928-2009)

Serviu café aos pobres e doces ao papa

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Todo santo dia, de manhã, Emilia Serafim ajudava a patroa a abrir mais de cem pães quentinhos para lambuzá-los com manteiga. Rente ao muro que protegia a casa, na al. Santos, centro de SP, formava-se uma fila de moradores de rua.
Desde os anos 80, Maria Cecília Vicente de Azevedo e sua fiel escudeira Emilia distribuíam o alimento com café com leite aos pobres. "Minha tia achava que todos tinham direto de comer de manhã", conta Francisco, sobrinho de Maria Cecília.
Católicas, ambas levavam uma vida reclusa. Nenhuma teve filhos. Aos 14, Emília começou a trabalhar como copeira na casa dos patrões, descendentes do barão de Bocaina -a família também tem relações de parentesco com frei Galvão. E sua mãe fora babá na mesma casa.
Foi lá que ela aprendeu as receitas da família -seus doces ficaram famosos. Por volta de 2005, doente, teve de amputar parte de uma perna. Os médicos nunca conseguiram explicar sua recuperação; para ela, foram as graças do frei.
Em 2007, durante a visita de Bento 16 ao país, seus dons foram solicitados. O papa, de quem ela não gostava tanto, ganhou seu afeto depois de abocanhar seus doces e de lhe presentear com um terço.
Corintiana e dona de um "sorriso bonito", ocupou o quarto principal da casa, desativada em 2008, mesmo quando a patroa era viva. Ainda funcionária da família, contava com a renda do aluguel de um prédio que ganhou de presente ao fazer 50 anos.
A patroa morreu em 2007, e Emilia, na segunda, aos 80, em consequência de problemas renais. O café não é mais distribuído.

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