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Briga familiar não é para presidentes, diz avó
Silvana Bianchi espera que Lula diga hoje a Obama, durante encontro nos EUA, que disputa pela guarda do neto é "da alçada da Justiça"
Para ela, menino de 8 anos tem condições de dizer à Justiça o que quer; guarda é disputada por pai americano e padrasto brasileiro
DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO
Silvana Bianchi -avó materna do menino de oito anos que
virou pivô de uma disputa judicial e diplomática entre Brasil e
Estados Unidos- diz que o caso é "briga de família" e não deveria estar na pauta dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva
e Barack Obama, que se encontram hoje em Washington.
Paulistana, ex-proprietária e
chef por 20 anos do Quadrifoglio -tradicional restaurante
no Jardim Botânico, zona sul
-, Silvana, 60, é uma personalidade conhecida no Rio, cidade
que adotou. A filha, a estilista
Bruna Bianchi, morreu aos 33
anos no parto do segundo filho.
Ela falou à Folha no apartamento onde vive com o neto.
FOLHA - A disputa pela guarda pode ser tema do encontro hoje entre
os presidentes. O que a sra. espera
que o presidente Lula diga?
SILVANA BIANCHI - É um assunto
que presidente não discute.
Briga de família não é assunto
para presidente da República.
É assunto para direito de família. Acho que o presidente Lula
tem que dizer que é da alçada
da Justiça. Existem no mundo,
no momento, milhares de casos
iguais e eles não são assuntos
para presidentes. Presidente
não é para discutir assunto particular de ninguém.
FOLHA - Uma resolução do Congresso americano pede a volta do
garoto ao país. Como vê essa politização?
SILVANA - Somos brasileiros e
moramos no Brasil. Meu neto é
cidadão brasileiro nato e deve
ser julgado pelo Brasil, não pelos EUA. Vamos seguir a orientação da Justiça brasileira.
FOLHA - Vocês rejeitam a tese de
sequestro defendida pelo pai?
SILVANA - Claro. Meu neto veio
para o Brasil com a permissão
do pai. Isso não é sequestro. O
tempo inteiro no Brasil esteve
com endereço e telefone conhecidos. Inclusive falava com
o pai ao telefone. Mas o pai jamais veio visitá-lo, e quero deixar muito patente, por uma estratégia dos advogados dele. E
nos caluniaram durante quatro
anos e meio dizendo que impedíamos que viesse visitá-lo.
FOLHA - O pai não pediu essa visita
nem extrajudicialmente?
SILVANA - Quando corre um
processo judicial, ele tem que
pedir a visita judicialmente.
FOLHA - David Goldman chegou a
ligar para Bruna ou mandar um advogado ver se poderia fazer a visita?
SILVANA - Não. Ele não tinha
interesse em visitar o filho porque estava obedecendo a uma
estratégia dos advogados. Se
viesse ver o filho, segundo a
opinião dos advogados dele, ficava descaracterizado o processo de sequestro. Mas acho
que é uma coisa de sentimento... Se você é orientado a se jogar pela janela, vai se jogar?
FOLHA - Como foi para o menino o
período sem a convivência do pai?
SILVANA - No início ele falava
no pai. Mas depois uma criança
de quatro anos vai esquecendo,
vai transferindo a afetividade
dela para outras coisas. E, um
ano depois, Bruna já estava
saindo com o João [Paulo Lins
e Silva, advogado de família tradicional do Rio que pleiteia a
guarda na Justiça] e meu neto
transferiu toda a necessidade
de afeto de pai para o João, que
hoje é seu pai socioafetivo.
FOLHA - A sra. e seu marido chegaram a cogitar pedir a guarda após a
morte da Bruna [em setembro]?
SILVANA - Não. Porque já havia
sido constituído um núcleo familiar com a Bruna, o João
Paulo e meu neto. Não havia
por que a gente pedir a guarda.
Ele chama o João de pai.
FOLHA - O que levou a Bruna a decidir não voltar para os EUA?
SILVANA - Era um casamento
de fachada. Não tinham mais ligação, viviam como estranhos.
FOLHA - Mas ela já voltou ao Brasil
decidida pelo divórcio?
SILVANA - Não sei. É aquela história: nas coisas do coração a
razão nunca funciona muito.
Não posso dizer exatamente
que foi esse ou aquele episódio
que suscitou [o rompimento].
FOLHA - Vocês contrataram novos
advogados que devem tentar levar
o caso de volta para a Justiça estadual. A sra. acha que a União não deveria estar nessa causa?
SILVANA - A União não tem por
que estar nessa causa. Temos
um documento do primeiro
processo, na fase em que a Bruna ainda estava viva, no qual a
União diz que não tinha o menor interesse nesse processo.
FOLHA - Como o menino está
acompanhando essa história toda?
SILVANA - Ele está muito incomodado, muito angustiado.
Quer ser deixado em paz, ser
outra vez uma criança anônima. Já está começando a não
querer sair de casa porque diz
que todo mundo fica olhando
para ele. Está começando a se
criar uma situação muito constrangedora para nós e para ele.
FOLHA - A sra. já disse que ele quer
ficar com a família brasileira. Vocês
já pensaram em fazer com que ele
seja ouvido no tribunal?
SILVANA - Isso fica a critério do
dr. Sérgio Tostes [advogado] .
FOLHA - Mas a família concordaria?
SILVANA - Claro. Mas não sei se
ainda é cedo. Nessas coisas de
processo tem de dar um passo
depois do outro. Mas acho que
os advogados consideram isso,
inclusive para aliviar o sofrimento da própria criança.
FOLHA - Ele teria segurança em dizer o que quer?
SILVANA - Ele tem segurança
suficiente para expressar a opinião dele.
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