São Paulo, sábado, 14 de março de 2009

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Briga familiar não é para presidentes, diz avó

Silvana Bianchi espera que Lula diga hoje a Obama, durante encontro nos EUA, que disputa pela guarda do neto é "da alçada da Justiça"

Para ela, menino de 8 anos tem condições de dizer à Justiça o que quer; guarda é disputada por pai americano e padrasto brasileiro


DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO

Silvana Bianchi -avó materna do menino de oito anos que virou pivô de uma disputa judicial e diplomática entre Brasil e Estados Unidos- diz que o caso é "briga de família" e não deveria estar na pauta dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Barack Obama, que se encontram hoje em Washington.
Paulistana, ex-proprietária e chef por 20 anos do Quadrifoglio -tradicional restaurante no Jardim Botânico, zona sul -, Silvana, 60, é uma personalidade conhecida no Rio, cidade que adotou. A filha, a estilista Bruna Bianchi, morreu aos 33 anos no parto do segundo filho.
Ela falou à Folha no apartamento onde vive com o neto.

 

FOLHA - A disputa pela guarda pode ser tema do encontro hoje entre os presidentes. O que a sra. espera que o presidente Lula diga?
SILVANA BIANCHI
- É um assunto que presidente não discute. Briga de família não é assunto para presidente da República. É assunto para direito de família. Acho que o presidente Lula tem que dizer que é da alçada da Justiça. Existem no mundo, no momento, milhares de casos iguais e eles não são assuntos para presidentes. Presidente não é para discutir assunto particular de ninguém.

FOLHA - Uma resolução do Congresso americano pede a volta do garoto ao país. Como vê essa politização?
SILVANA
- Somos brasileiros e moramos no Brasil. Meu neto é cidadão brasileiro nato e deve ser julgado pelo Brasil, não pelos EUA. Vamos seguir a orientação da Justiça brasileira.

FOLHA - Vocês rejeitam a tese de sequestro defendida pelo pai?
SILVANA
- Claro. Meu neto veio para o Brasil com a permissão do pai. Isso não é sequestro. O tempo inteiro no Brasil esteve com endereço e telefone conhecidos. Inclusive falava com o pai ao telefone. Mas o pai jamais veio visitá-lo, e quero deixar muito patente, por uma estratégia dos advogados dele. E nos caluniaram durante quatro anos e meio dizendo que impedíamos que viesse visitá-lo.

FOLHA - O pai não pediu essa visita nem extrajudicialmente?
SILVANA
- Quando corre um processo judicial, ele tem que pedir a visita judicialmente.

FOLHA - David Goldman chegou a ligar para Bruna ou mandar um advogado ver se poderia fazer a visita?
SILVANA
- Não. Ele não tinha interesse em visitar o filho porque estava obedecendo a uma estratégia dos advogados. Se viesse ver o filho, segundo a opinião dos advogados dele, ficava descaracterizado o processo de sequestro. Mas acho que é uma coisa de sentimento... Se você é orientado a se jogar pela janela, vai se jogar?

FOLHA - Como foi para o menino o período sem a convivência do pai?
SILVANA
- No início ele falava no pai. Mas depois uma criança de quatro anos vai esquecendo, vai transferindo a afetividade dela para outras coisas. E, um ano depois, Bruna já estava saindo com o João [Paulo Lins e Silva, advogado de família tradicional do Rio que pleiteia a guarda na Justiça] e meu neto transferiu toda a necessidade de afeto de pai para o João, que hoje é seu pai socioafetivo.

FOLHA - A sra. e seu marido chegaram a cogitar pedir a guarda após a morte da Bruna [em setembro]?
SILVANA
- Não. Porque já havia sido constituído um núcleo familiar com a Bruna, o João Paulo e meu neto. Não havia por que a gente pedir a guarda. Ele chama o João de pai.

FOLHA - O que levou a Bruna a decidir não voltar para os EUA?
SILVANA
- Era um casamento de fachada. Não tinham mais ligação, viviam como estranhos.

FOLHA - Mas ela já voltou ao Brasil decidida pelo divórcio?
SILVANA
- Não sei. É aquela história: nas coisas do coração a razão nunca funciona muito. Não posso dizer exatamente que foi esse ou aquele episódio que suscitou [o rompimento].

FOLHA - Vocês contrataram novos advogados que devem tentar levar o caso de volta para a Justiça estadual. A sra. acha que a União não deveria estar nessa causa?
SILVANA
- A União não tem por que estar nessa causa. Temos um documento do primeiro processo, na fase em que a Bruna ainda estava viva, no qual a União diz que não tinha o menor interesse nesse processo.

FOLHA - Como o menino está acompanhando essa história toda?
SILVANA
- Ele está muito incomodado, muito angustiado. Quer ser deixado em paz, ser outra vez uma criança anônima. Já está começando a não querer sair de casa porque diz que todo mundo fica olhando para ele. Está começando a se criar uma situação muito constrangedora para nós e para ele.

FOLHA - A sra. já disse que ele quer ficar com a família brasileira. Vocês já pensaram em fazer com que ele seja ouvido no tribunal?
SILVANA
- Isso fica a critério do dr. Sérgio Tostes [advogado] .

FOLHA - Mas a família concordaria?
SILVANA
- Claro. Mas não sei se ainda é cedo. Nessas coisas de processo tem de dar um passo depois do outro. Mas acho que os advogados consideram isso, inclusive para aliviar o sofrimento da própria criança.

FOLHA - Ele teria segurança em dizer o que quer?
SILVANA
- Ele tem segurança suficiente para expressar a opinião dele.


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