São Paulo, domingo, 14 de março de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Big Brother" indígena escolherá nova "Tainá"

Acompanhadas das mães, meninas têm jornada diária de sete horas, não podem sair de hotel e, na TV, só assistem a desenho animado

Uma delas será escolhida para ser a protagonista do novo longa da série; cachê da vencedora será de aproximadamente R$ 40 mil


JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

"Está vendo?", diz o preparador de elencos Cláudio Barros, apontando para uma indiazinha de seis anos que corre com um ar sério em um parque-hotel nos arredores de Belém. "É isso que queremos. O olhar firme, a serenidade que a selvagem tem, parecida com a árvore, com o rio, mas que, quando é preciso, é forte, é guerreira."
Barros tenta explicar o critério para escolher a protagonista do terceiro filme da série "Tainá", sucesso de público e ignorado pela crítica, que contará as origens da personagem-título e sua saga para salvar a mata. "[A candidata] Tem de compreender o silêncio da floresta."
A indiazinha em questão, que veste o calção vermelho característico da personagem, é uma das dez crianças que disputam o papel. Para selecionar uma delas, a produção faz uma espécie de "Big Brother", num confinamento que começou em 22 de fevereiro e vai até 4 de abril. Hoje começam as eliminações.
Orçado em R$ 8,3 milhões -95% de patrocínio público-, o longa deve começar a ser rodado em meados deste ano.

Pré-seleção
O preparador e um produtor passaram dois anos andando de carro, barco e avião por cerca de 40 aldeias da Amazônia, fotografando mais de 3.000 crianças. Por fim, selecionaram 11 delas, com não mais do que oito anos, para o último estágio, que ocorre num hotel cercado de floresta na capital paraense.
Oito eram de localidades afastadas de qualquer cidade. Cinco nunca haviam nem sequer saído de suas aldeias antes de chegar a Belém. Ao menos três mal falavam português. Apenas uma (da capital) já entrou numa sala de cinema.
Por isso, a escolha do local. A ideia é que o choque da chegada ao universo urbano seja amenizado pelo extenso bosque do hotel, o que facilitaria a futura volta aos locais de origem.

Trabalho intenso
Acompanhadas das mães, as meninas têm em média uma rotina diária de sete horas.
Sempre vestidas com o traje da personagem (o calção vermelho), não têm permissão para sair, a não ser que seja de fato necessário. Na TV, só desenhos animados -telejornais podem tirar a concentração.
A seleção de Belém avalia e filma constantemente as crianças. Em vez de provas de resistência e conchavos políticos característicos de um "Big Brother", elas devem se destacar durante brincadeiras que correspondem a ações do roteiro.
Se no filme Tainá rema uma canoa, as aspirantes têm aulas com caiaques. Com isso, diz Barros, cria-se "memória" na criança, que será "ativada" nas gravações. Uma das 11 indiazinhas não aguentou a rotina e já resolveu voltar para casa.

Expectativas
Entre imitações de leões e macacos e corridas em busca de bolhinhas de sabão, elas recebem atendimento psicológico, odontológico e nutricional.
Também fazem relaxamento ao som de canções de ninar, para aplacar o clima de disputa.
As mães, no entanto, têm atiçado a competição pelo cachê de R$ 40 mil -a maioria das famílias das meninas é pobre.
Algumas mães são mais exigentes do que a equipe de produção durante os exercícios.
Uma das indiazinhas resumiu à Folha por que se esforça para estrelar o novo filme de "Tainá": "Eu quero ganhar dinheiro, comprar um carro e ajudar minha mãe doente".


Texto Anterior: "Dou autógrafo na rua", diz jogador profissional
Próximo Texto: Crescida, 1ª "Tainá" quer distância da Amazônia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.