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"Big Brother" indígena escolherá nova "Tainá"
Acompanhadas das mães, meninas têm jornada diária de sete horas, não podem sair de hotel e, na TV, só assistem a desenho animado
Uma delas será escolhida para ser a protagonista do novo longa da série; cachê da vencedora será de aproximadamente R$ 40 mil
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
"Está vendo?", diz o preparador de elencos Cláudio Barros,
apontando para uma indiazinha de seis anos que corre com
um ar sério em um parque-hotel nos arredores de Belém. "É
isso que queremos. O olhar firme, a serenidade que a selvagem tem, parecida com a árvore, com o rio, mas que, quando é
preciso, é forte, é guerreira."
Barros tenta explicar o critério para escolher a protagonista
do terceiro filme da série "Tainá", sucesso de público e ignorado pela crítica, que contará as
origens da personagem-título e
sua saga para salvar a mata. "[A
candidata] Tem de compreender o silêncio da floresta."
A indiazinha em questão, que
veste o calção vermelho característico da personagem, é uma
das dez crianças que disputam
o papel. Para selecionar uma
delas, a produção faz uma espécie de "Big Brother", num confinamento que começou em 22
de fevereiro e vai até 4 de abril.
Hoje começam as eliminações.
Orçado em R$ 8,3 milhões
-95% de patrocínio público-,
o longa deve começar a ser rodado em meados deste ano.
Pré-seleção
O preparador e um produtor
passaram dois anos andando de
carro, barco e avião por cerca
de 40 aldeias da Amazônia, fotografando mais de 3.000
crianças. Por fim, selecionaram
11 delas, com não mais do que
oito anos, para o último estágio,
que ocorre num hotel cercado
de floresta na capital paraense.
Oito eram de localidades
afastadas de qualquer cidade.
Cinco nunca haviam nem sequer saído de suas aldeias antes
de chegar a Belém. Ao menos
três mal falavam português.
Apenas uma (da capital) já entrou numa sala de cinema.
Por isso, a escolha do local. A
ideia é que o choque da chegada
ao universo urbano seja amenizado pelo extenso bosque do
hotel, o que facilitaria a futura
volta aos locais de origem.
Trabalho intenso
Acompanhadas das mães, as
meninas têm em média uma
rotina diária de sete horas.
Sempre vestidas com o traje
da personagem (o calção vermelho), não têm permissão para sair, a não ser que seja de fato
necessário. Na TV, só desenhos
animados -telejornais podem
tirar a concentração.
A seleção de Belém avalia e
filma constantemente as crianças. Em vez de provas de resistência e conchavos políticos característicos de um "Big Brother", elas devem se destacar
durante brincadeiras que correspondem a ações do roteiro.
Se no filme Tainá rema uma
canoa, as aspirantes têm aulas
com caiaques. Com isso, diz
Barros, cria-se "memória" na
criança, que será "ativada" nas
gravações. Uma das 11 indiazinhas não aguentou a rotina e já
resolveu voltar para casa.
Expectativas
Entre imitações de leões e
macacos e corridas em busca de
bolhinhas de sabão, elas recebem atendimento psicológico,
odontológico e nutricional.
Também fazem relaxamento
ao som de canções de ninar, para aplacar o clima de disputa.
As mães, no entanto, têm atiçado a competição pelo cachê
de R$ 40 mil -a maioria das famílias das meninas é pobre.
Algumas mães são mais exigentes do que a equipe de produção durante os exercícios.
Uma das indiazinhas resumiu à Folha por que se esforça
para estrelar o novo filme de
"Tainá": "Eu quero ganhar dinheiro, comprar um carro e
ajudar minha mãe doente".
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