|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Muro na favela Rocinha vai remover 415 famílias no Rio
Obras no local e em outras duas comunidades do Rio foram licitadas por R$ 21 milhões; removidos irão para apartamentos ou receberão indenizações, diz o governo
ANDRÉ ZAHAR
DA SUCURSAL DO RIO
O governo do Rio de Janeiro
licitou na semana passada a
construção de 3,4 km de muros
nas favelas da Rocinha, Pedra
Branca e Chácara do Céu. A
obra custará R$ 21 milhões.
Na Rocinha, maior favela da
zona sul, 415 famílias terão que
ser removidas de suas casas durante a construção dos paredões de três metros de altura.
A equipe do governador Sérgio Cabral (PMDB) divulgou a
intenção de murar 13 favelas
sob o argumento de que é preciso conter o avanço das casas e
barracos sobre a mata ao redor.
A construtora Midas Engenharia Ltda. venceu a licitação
da Emop (Empresa de Obras
Públicas do Estado do Rio), na
terça passada, para a construção do muro nas três favelas.
As obras devem começar até
o fim do mês. A Rocinha, em
São Conrado, receberá 2,8 km
de muro. Segundo a Emop, 114
famílias serão transferidas para
apartamentos construídos na
própria comunidade e as outras
301 vão receber indenizações.
Na favela do Parque da Pedra
Branca, em Jacarepaguá (zona
oeste), será feito um muro de
400 m. Já a murada da Chácara
do Céu, no Leblon (zona sul),
terá 250 m. As duas áreas não
estavam entre as 11 previstas no
início do projeto. O custo dos
três muros, chamados pelo governo de eco-limites, será de R$
2.071 por metro quadrado
construído.
A associação de moradores
da Rocinha se reúne hoje para
avaliar a obra. O presidente da
entidade, Antônio Ferreira de
Melo, o Shaolin, diz que o crescimento da Rocinha é vertical e
o muro não trará benefícios.
"A Rocinha hoje não está se
expandido para a mata. O muro
vai impedir que as crianças peguem fruta na mata e as donas
de casa busquem água, enquanto a favela sofre com o problema de falta de água tratada."
Segundo o IPP (Instituto Pereira Passos, ligado à prefeitura), a Rocinha cresceu 12 mil
m2, ou 1,41%, de 1999 a 2008.
Na cidade inteira, a área ocupada por favelas subiu 6,88%.
A construção de muros ao redor de favelas cariocas começou no morro da Dona Marta,
em Botafogo (zona sul). Ali a
empresa Vento Sul Engenharia
ergue 634 m de eco-limites, a
um custo de R$ 982 mil.
A iniciativa de murar favelas
divide a opinião pública carioca. Conforme pesquisa do Datafolha divulgada ontem, 47%
são favoráveis e 44%, contra.
Cabral, que disse em entrevista à revista "Veja" ter idealizado o projeto, minimizou as
reações contrárias à proposta.
"Fiquei extremamente satisfeito ao ver que 67% da população acredita que os muros vão
ajudar a conter a expansão de
moradias irregulares em áreas
de vegetação. Da mesma forma,
fiquei muito satisfeito quando
vi que 60% da população declara que a construção não vai separar ricos e pobres."
Texto Anterior: Há 50 Anos Próximo Texto: Comissão da Câmara proíbe motos de trafegar entre carros Índice
|