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Publicidade de carro terá alerta educativo
Ainda neste mês, anúncios de veículos e de acessórios terão frases sobre a exigência do cinto e respeito à velocidade
Lei sancionada em julho do ano passado aguardava regulamentação, que sairá nas próximas semanas; multa inicial pode passar de R$ 5.000
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Numa propaganda estrelada
pela modelo Gisele Bündchen,
um carro faz manobras arriscadas, canta pneu e sobrevive à
perseguição de um helicóptero,
como num filme de aventura
do ator Sylvester Stallone.
Em outro comercial de TV,
uma montadora exalta um novo modelo com motor turbo e
"rápido demais" -prestigiado,
nesse caso, nada menos do que
pelo piloto de F-1 Michael
Schumacher, que foge dos paparazzi e, de tão veloz numa estrada, não é alcançado nem por
seus próprios seguranças.
A partir das próximas semanas, conteúdos desse tipo na
publicidade da indústria automobilística, polêmicos por glorificar comportamentos inseguros no trânsito, podem até
continuar, mas serão seguidos
de uma mensagem educativa.
O padrão será similar ao que
já ocorre com a propaganda de
cigarro e de bebida alcoólica,
que difundiram expressões como "fumar é prejudicial à saúde" ou "beba com moderação".
Agora, será a vez de frases sobre
a exigência do cinto de segurança, do capacete e do respeito
à velocidade, por exemplo.
Essa obrigatoriedade foi sancionada em julho passado pelo
presidente Lula (PT), não aplicada ainda por falta de regulamentação do Contran (Conselho Nacional de Trânsito).
O presidente do órgão, Alfredo Peres da Silva, revelou à Folha que a normatização será
concluída neste mês (quando
serão definidas as frases e tamanhos) e que a regra terá de
ser obedecida imediatamente.
"A partir do momento em
que soltar a resolução, estará
valendo [a lei]", afirmou Silva,
acrescentando que a medida
valerá tanto para anúncios de
carros quanto para de insumos
-incluindo baterias, pneus e
amortecedores-, veiculados
em televisão, rádio, jornal, revista e outdoor.
Quem descumprir a lei estará
sujeito a penas que envolvem
advertência por escrito, suspensão de qualquer outra propaganda do produto por 60 dias
e multas de R$ 1.064 a
R$ 5.320, que podem ser quintuplicadas pela reincidência.
Nas rodovias, aliás, todos os
outdoors, de qualquer tipo de
produto (até os eleitorais), deverão exibir as mensagens.
Procurados, Anfavea (associação das montadoras), Conar
(conselho de autorregulamentação publicitária) e Abap (associação das agências de publicidade) não se manifestaram.
O presidente do Contran diz
que não há resistência por parte das entidades, que deram sugestões para a regulamentação.
"Mesmo que de brincadeira,
só por ser repetido exaustivamente já é melhor do que nada.
Ajuda a criar uma cultura do
uso do cinto de segurança, por
exemplo", defende Paulo Cesar
Marques da Silva, que fez doutorado em transportes em Londres e é professor da UnB (Universidade de Brasília).
Para ele, a tendência é que
haja uma influência a médio
prazo na própria elaboração
das propagandas, pelo temor de
expor uma contradição da
mensagem publicitária.
Já Florindo Enoki, especializado em educação do trânsito
pela UnB, avalia que frases do
tipo não tendem a funcionar
porque "caem no vazio", "sem
ninguém prestar atenção".
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