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São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2003

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PMs são suspeitos de sequestrar dois moradores de favela no Rio

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Policiais militares do 3º Batalhão (Méier, zona norte do Rio) estão sendo investigados pela Corregedoria Geral Unificada das Polícias pelo suposto sequestro de dois moradores da favela da Rocinha (São Conrado, zona sul), desaparecidos desde quarta-feira da semana passada.
A nova acusação contra os PMs surge no momento em que outras denúncias de irregularidades cometidas por policiais são investigadas. Só na semana passada, 11 PMs foram presos sob suspeita de extorsão ou de envolvimento com traficantes de drogas.
Segundo informações passadas à Corregedoria, na tarde do dia 6, o motoboy Lúcio Vagner Nunes, 23, deixou a Rocinha para levar um morador ao morro São João (Engenho Novo, zona norte). O acompanhante estaria carregando um envelope com R$ 500.
Por volta das 14h, o motoboy teria telefonado para a mãe, Maria Lúcia Nunes, dizendo que tinha sido parado em uma blitz da Polícia Militar na rua São Paulo, no bairro do Sampaio, em frente ao hotel Rosa da Vila e próximo ao morro São João. Ele não teria dado maiores detalhes porque o celular ficou mudo.
Duas horas depois, um policial teria ligado para Maria Lúcia dizendo que não liberaria o filho assim tão fácil, porque achava que ele estava "certinho demais". Depois da ligação, mais nenhum contato foi feito.
Depois de receber informações sobre os desaparecimentos, agentes da Corregedoria fizeram uma ronda em Sampaio, onde constataram que havia uma blitz da PM exatamente em frente ao hotel. Os agentes comunicaram o fato ao comando do 3º Batalhão, que alegou desconhecer a ocorrência.
A Corregedoria passou a ligar para o celular de Nunes, mas ninguém atende. Os agentes encarregados da investigação acreditam que o passageiro da motocicleta seja traficante e pode ter sido vítima de uma extorsão.
O comandante do 3º Batalhão, tenente-coronel Paulo Mouzinho, afirmou que é "muito precoce" dizer que policiais de sua unidade estejam envolvidos com o desaparecimento dos dois moradores, mas defendeu a investigação.
O episódio que envolve os moradores da Rocinha é parecido com o ocorrido no morro do Turano na semana passada. Nove PMs do 6º Batalhão (Tijuca, zona norte) foram presos por terem supostamente espancado, extorquido dinheiro e sequestrado dois moradores da favela. As vítimas estão desaparecidas.
Policiais do mesmo batalhão também são investigados pela morte de quatro pessoas no morro do Borel, em abril.
Na sexta-feira, o secretário estadual de Segurança Pública, Anthony Garotinho, anunciou a prisão de um tenente e de um sargento lotados no complexo penitenciário de Bangu (zona oeste). Eles são suspeitos de participação em "bondes" (comboio de traficantes armados) organizados pela quadrilha de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar.
A Corregedoria investiga ainda duas supostas extorsões sofridas pelo traficante Paulo César Silva dos Santos, o Linho, neste ano. Segundo o órgão, Linho, o traficante mais procurado do Rio, teria sido preso duas vezes por uma mesma equipe de policiais civis -e teria pago R$ 800 mil para ser solto.


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