São Paulo, quinta-feira, 14 de maio de 2009

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análise

Em 400 anos, provas quase não mudaram

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA REDAÇÃO

Apesar da revolução científica e de avanços na pedagogia, a noção de prova escolar sofreu muito poucas alterações desde sua criação pelos jesuítas quatro séculos atrás.
Tamanha estabilidade se justifica: o conceito funciona. Não é preciso mais do que fazer algumas perguntas aos alunos para distinguir aqueles que dominam a matéria dos que aprenderam pouco. Embora muitos tentem, é difícil enganar uma prova.
Mesmo testes de múltipla escolha, criticados por nove entre dez pedagogos, são bastante eficientes na hora de separar bons de maus alunos.
Estudo da Fuvest divulgado em 2005 mostrou que, se a segunda fase do exame (da qual constam as questões dissertativas) fosse eliminada, a relação final dos aprovados mudaria pouco, de 3% a 6%. Ou seja, em um curso com 50 vagas oferecidas, no máximo três vestibulandos que não estivessem entre os 50 mais bem posicionados nos testes da primeira etapa seriam aprovados por conta de seu desempenho nas respostas escritas.
Isso não significa que não haja vantagens em substituir os vestibulares pelo Enem. Elas existem e são muitas. As mais palpáveis são de ordem logística. O candidato a uma vaga no ensino superior não precisaria mais submeter-se a uma maratona de provas. Também seria poupado das múltiplas taxas de exame cobradas pelas universidades.
Igualmente interessante, o sistema de ensino superior ganharia mobilidade. Um aluno formado no Nordeste, por exemplo, munido de sua nota nacional teria melhores condições de pleitear vagas em instituições do Sudeste.
Outro efeito positivo tende a dar-se sobre a organização dos "curricula". Atualmente, são os principais vestibulares que, numa inversão de papéis, acabam definindo o que as escolas ensinam. Um colégio pode até querer ensinar linguística em vez de gramática prescritiva ou mecânica quântica no lugar de física newtoniana -posições em princípio justificáveis-, mas dificilmente o fará porque precisa responder à demanda de preparar seus alunos para o vestibular.
Se o novo Enem de fato ganhar aceitação e firmar-se como uma prova que valorize mais a capacidade de raciocínio do que a memorização de conteúdos, as escolas não precisariam desdobrar-se para cobrir toda a matéria exigida nos vestibulares. Reencontrariam, então, espaço para trabalhar melhor o que consideram ser suas prioridades e até para experimentar um pouco mais.


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