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análise
Em 400 anos, provas quase não mudaram
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA REDAÇÃO
Apesar da revolução científica e de avanços na pedagogia, a noção de prova escolar
sofreu muito poucas alterações desde sua criação pelos
jesuítas quatro séculos atrás.
Tamanha estabilidade se
justifica: o conceito funciona.
Não é preciso mais do que fazer algumas perguntas aos
alunos para distinguir aqueles que dominam a matéria
dos que aprenderam pouco.
Embora muitos tentem, é difícil enganar uma prova.
Mesmo testes de múltipla
escolha, criticados por nove
entre dez pedagogos, são bastante eficientes na hora de
separar bons de maus alunos.
Estudo da Fuvest divulgado em 2005 mostrou que, se
a segunda fase do exame (da
qual constam as questões
dissertativas) fosse eliminada, a relação final dos aprovados mudaria pouco, de 3% a
6%. Ou seja, em um curso
com 50 vagas oferecidas, no
máximo três vestibulandos
que não estivessem entre os
50 mais bem posicionados
nos testes da primeira etapa
seriam aprovados por conta
de seu desempenho nas respostas escritas.
Isso não significa que não
haja vantagens em substituir
os vestibulares pelo Enem.
Elas existem e são muitas. As
mais palpáveis são de ordem
logística. O candidato a uma
vaga no ensino superior não
precisaria mais submeter-se
a uma maratona de provas.
Também seria poupado das
múltiplas taxas de exame cobradas pelas universidades.
Igualmente interessante, o
sistema de ensino superior
ganharia mobilidade. Um
aluno formado no Nordeste,
por exemplo, munido de sua
nota nacional teria melhores
condições de pleitear vagas
em instituições do Sudeste.
Outro efeito positivo tende
a dar-se sobre a organização
dos "curricula". Atualmente,
são os principais vestibulares
que, numa inversão de papéis, acabam definindo o que
as escolas ensinam. Um colégio pode até querer ensinar
linguística em vez de gramática prescritiva ou mecânica
quântica no lugar de física
newtoniana -posições em
princípio justificáveis-, mas
dificilmente o fará porque
precisa responder à demanda de preparar seus alunos
para o vestibular.
Se o novo Enem de fato ganhar aceitação e firmar-se
como uma prova que valorize
mais a capacidade de raciocínio do que a memorização de
conteúdos, as escolas não
precisariam desdobrar-se
para cobrir toda a matéria
exigida nos vestibulares.
Reencontrariam, então, espaço para trabalhar melhor o
que consideram ser suas
prioridades e até para experimentar um pouco mais.
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