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Brasil apura tráfico de meninos haitianos
Investigação foi desencadeada após criança do Haiti ter sido achada sozinha na estação de metrô Corinthians-Itaquera
Segundo desembargador de SP, esquema usaria o Brasil como escala para a Guiana Francesa; destino final de crianças é desconhecido
AFONSO BENITES
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal e a Interpol
investigam se o Brasil virou rota do tráfico internacional de
crianças haitianas. A suspeita
surgiu depois que um garoto de
11 anos, raptado no Haiti, foi
encontrado sozinho na estação
de metrô Corinthians-Itaquera
(zona leste de São Paulo) em
dezembro do ano passado.
Segundo o coordenador de
Infância e Juventude do Tribunal de Justiça de SP, desembargador Antonio Carlos Malheiros, várias crianças do Haiti foram trazidas ao Brasil em 2009
em um esquema internacional
de tráfico de seres humanos.
O destino delas era a Guiana
Francesa. A investigação ainda
tenta descobrir por que o Brasil
seria rota de passagem para
aquele país e se, de lá, as crianças iriam para outros destinos.
Outra dúvida é a finalidade.
"Não sabemos ainda qual o motivo desse tráfico. Pode ser para
adoção, exploração sexual, trabalho escravo ou tráfico de órgãos", afirmou Malheiros.
O desembargador disse também que ainda não é possível
dizer quantos foram vítimas
desse esquema, mas, segundo
ele, o menino encontrado no
metrô em Itaquera afirmou à
Justiça que foi trazido ao Brasil
com outras crianças haitianas.
"Aparentemente, saíram [do
Haiti] clandestinamente. Mas
só a investigação da polícia poderá dizer ao certo como foi."
O caso do menino achado em
São Paulo foi revelado ontem
pelo "Jornal da Tarde".
A ONG Mães da Sé, que reúne dados de pessoas desaparecidas, chegou a divulgar em seu
site uma foto com informações
do menino haitiano. Isso levou
um homem até a entidade em
busca de dados sobre o garoto.
Depois que a organização
soube que o menino estava com
a Justiça, os dados dele foram
retirados da internet. Ontem, a
PF orientou a ONG a não informar mais sobre o caso.
Desde a véspera do Ano-Novo, diz o desembargador, o garoto haitiano encontrado em
São Paulo está em um abrigo.
Segundo a Justiça, a mãe do
menino morreu no terremoto
que atingiu o Haiti em 12 de janeiro deste ano. O pai dele está
vivo e aguarda o seu retorno.
"Ele já demonstrou vontade de
voltar para o Haiti. Em breve,
deverá ser enviado de volta."
A PF não deu detalhes sobre
o caso. O Ministério das Relações Exteriores informou o governo haitiano, mas disse que
não sabe como estão as negociações para a volta do garoto.
Antecedentes
Esse não foi o único caso recente envolvendo o tráfico de
crianças haitianas. Dezenove
dias depois do terremoto, dez
americanos foram detidos em
Porto Príncipe quando tentavam atravessar a fronteira para
a República Dominicana com
33 crianças com idades entre
dois meses e 12 anos. Eles foram acusados de atuar num esquema de adoção ilegal.
Dois meses após o terremoto,
um casal haitiano e uma boliviana foram presos na Bolívia
sob a suspeita de tráfico humano para a exploração sexual e
de trabalho. Com eles, estavam
27 crianças e adolescentes com
idades entre seis e 17 anos.
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