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Ato contra racismo lembra morte de motoboys
Evento em alusão aos 122 anos de abolição da escravatura ocorreu na praça do Patriarca (centro de SP)
DA REPORTAGEM LOCAL
O assassinato de dois motoboys por policiais militares foi
lembrado ontem em um ato
contra o racismo na praça do
Patriarca, centro de São Paulo.
Coordenado por entidades
do movimento negro, o evento
foi alusivo ao aniversário de 122
anos da abolição da escravatura
no país. O tema foi "Mais um
maio sem abolição, crimes de
maio sem apuração".
Cerca de 150 pessoas compareceram ao local, entre elas a
pedagoga Elza Pinheiro dos
Santos, 62, mãe do motoboy
Eduardo Luís dos Santos, 30,
achado morto em 10 de abril.
"Se ele fosse loiro, de olhos
verdes, claro que a abordagem
da polícia teria sido outra", disse. "Somos um país preconceituoso. Temos que começar a
mudar isso." Elza foi bastante
cumprimentada no evento.
Parentes do também motoboy Alexandre Santos, 25, morto no último sábado, também
estavam presentes. Dezesseis
PMs foram presos acusados de
matar ou participar dos crimes;
12 no caso de Eduardo e quatro
no de Alexandre.
Outro grupo no local foram
as Mães de Maio, formado na
Baixada Santista por mães que
perderam filhos sobretudo em
maio de 2006, quando o Estado
esteve sob ataque da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
As mães atribuem os crimes à
reação policial -493 pessoas
morreram por arma de fogo entre 12 e 21 de maio daquele ano.
"Perdi meu filho e agora luto
por Justiça", disse Vera Lúcia
Andrade de Freitas, 58, cujo filho, Mateus, 21, foi assassinado
por motociclistas encapuzados.
No chão, o grupo colocou cruzes e fotos dos mortos.
"Espancado"
Entremeado por poesias e
apresentações musicais, o
evento teve discursos que pregavam a necessidade de mais
respeito à população negra.
Faixas falavam em "Estado genocida" e criticavam a PM -a
menos de cem metros dali, policiais militares apenas observavam o público no local.
"Nosso povo tem sido espancado e morto", disse ao público
Douglas Belchior, membro da
Uneafro Brasil (União de Núcleos de Educação Popular para
Negros e Classe Trabalhadora).
Na terça, o movimento protocolou documento em que pede explicações ao governador
Alberto Goldman (PSDB) sobre a "violência sistêmica da
PM" contra a população negra.
Segundo Belchior, 5.000 pessoas passaram no local durante
o dia. A PM não confirmou.
Procurada para comentar as
críticas, a PM não havia se manifestado até as 20h30.
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