São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 2005

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URBANISMO

Famílias desocupam terreno na rua Djalma Coelho; Justiça determinou reintegração de posse no fim de 2004

Demolida última favela do Alto de Pinheiros

Rogério Cassimiro/Folha Imagem
Funcionários trabalham na demolição da última favela do Alto de Pinheiros, bairro nobre de SP


AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

A última favela do Alto de Pinheiros -bairro nobre da zona oeste de São Paulo- chega ao fim. Até o dia 27, todos os moradores do local terão de desocupar os imóveis. Das 105 casas da favela, localizada na rua Djalma Coelho, 60 já foram derrubadas nos últimos 15 dias.
A saída foi negociada no mês passado entre os moradores e os proprietários do local -representados por uma empresa que não quer ser identificada.
A reintegração da posse do terreno foi determinada pela Justiça no fim do ano passado, após mais de 20 anos de disputa nos tribunais. Embora ainda fosse possível recorrer da decisão, os moradores, com medo de serem despejados sem receber nada, aceitaram negociar os imóveis.
O valor varia conforme o tamanho da construção mas, segundo o líder comunitário Jesuíno de Oliveira Rocha, 34, a maioria recebeu menos de R$ 10 mil.
A quantia, afirma Rocha, não dá nem para comprar um barraco em outras favelas. "O pessoal não tem nada e achou que era muito dinheiro. Agora, está percebendo que é insuficiente", afirma.
Rocha recebeu R$ 10 mil pela casa onde vive e comprou um terreno na favela Vila Nova Jaguaré (também na zona oeste). Agora procura um lugar para alugar enquanto constrói a nova casa. "O lado psicológico de todo mundo aqui está péssimo. É uma família que se separa."
No caso do comerciante Dilton Jesus Lima, 36, os laços eram literalmente familiares. Nove irmãos do comerciante, além de tios, tias e primos, moravam na favela. Lima chegou há 18 anos ao local, vindo da Bahia. Nesse período, casou, teve cinco filhos e montou um bar. "Não sei como vou fazer para morar, para trabalhar e para manter os filhos na escola -condução para todo mundo, eu já fiz as contas, não vai dar para pagar. Aí eu acordo todos os dias às 4h, suando, lembrando disso, e não consigo mais pegar no sono."
Para o advogado Getúlio Muramoto, que representou os moradores, a prefeitura foi omissa diante do problema. À reportagem, moradores disseram que não estão recebendo nenhuma ajuda da Subrefeitura de Pinheiros no processo de mudança.
A subprefeitura, por meio de sua assessoria, diz que assistentes sociais têm acompanhado os moradores.

Vizinhos
A notícia dividiu os moradores do entorno da favela. Alguns, como a aposentada Dea Fonseca, 81, comemoraram a mudança. "Vai limpar o bairro. Eu pago R$ 3.200 de IPTU [Imposto Predial e Territorial Urbano] e não quero favela do meu lado", disse. Segundo ela, sua casa já foi assaltada por moradores da favela.
Outra moradora, que não quis se identificar, conta que precisou erguer o muro da casa para evitar assaltos, assim como a invasão das crianças da favela em busca de pipas desgarradas e de bolas de futebol. Outra queixa é relacionada ao barulho do forró realizado aos fins de semana.
Já a estudante Mayne Astolfi Duarte Neves, 26, lamentou a forma como ocorreu a saída dos moradores da favela Djalma Coelho. "A gente nunca teve nenhum problema com eles. São pessoas como nós, que enfrentam uma situação social mais difícil."
"Tem gente que mora aí há 20 anos, como podem mandar embora assim? Não está certo. Eles têm direito a uma assistência", diz o aposentado José Reis, 83.


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