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SURTO
Doença foi transmitida por morcegos hematófagos infectados; nove crianças de quatro a oito anos estão entre os 13 casos confirmados
Raiva mata 11 pessoas em 11 dias no Pará
THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA
Onze pessoas morreram em 11
dias devido a um surto de raiva
humana no município de Augusto Corrêa (256 km de Belém), no
nordeste do Pará.
A última morte foi registrada
ontem, por volta das 16h, de uma
criança de dez anos. O primeiro
óbito ocorreu no dia 3.
Outras duas pessoas estavam
internadas em estado grave no
hospital Barros Barreto, em Belém, até a noite de ontem.
A doença, segundo a Secretaria
Estadual de Saúde, foi transmitida
por morcegos hematófagos (que
se alimentam de sangue) infectados. Eles contraem o vírus de outras espécies e de outros mamíferos, como cães e gatos. Todas as
mortes foram decorrentes de
mordidas de morcegos. Entre os
13 casos confirmados, nove são de
crianças de quatro a oito anos.
De acordo com o órgão, 825
pessoas já foram vacinadas para
evitar o desenvolvimento da
doença, na zona rural da cidade,
distante 60 km da sede. Cerca de
4.000 pessoas vivem na comunidade. A população estimada do
município é de 34.435 habitantes.
Caso não seja tratada de forma
adequada (vacinação e soro) e rápida, a raiva pode provocar a
morte, pois atinge o sistema nervoso central. A doença, em estágio avançado, não tem cura.
A secretaria já montou 12 postos
de atendimento num raio de 20
km para atender a população exposta à infecção. Para interromper a transmissão da doença, o órgão também vacinou mais de
1.500 cães e gatos. O objetivo é não
permitir que ela se alastre para comunidades vizinhas.
Além disso, já foram capturados 180 morcegos. Testes em laboratório apontaram a presença
do vírus nos animais. O órgão estadual utiliza em alguns locais
uma pasta vampiricida (composta de warfarina, um anticoagulante, misturado a vaselina) para realizar o controle populacional da
espécie, a Demodus rotundus.
No ano passado, os municípios
paraenses de Portel e Viseu também tiveram surtos semelhantes.
Foram 21 mortes: 15 ocorridas
apenas em Portel.
De acordo com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis), a principal causa é o desmatamento sem controle, que provocou uma maior concentração dos
mamíferos voadores nas regiões
de povoamento humano.
O coordenador do Núcleo de
Endemias da Secretaria Estadual
de Saúde, Bernardo Cardoso, diz
que a responsabilidade é do governo federal.
"Tenho certeza absoluta de que
não foi de gato nem cachorro,
porque está tudo vacinado e nenhum agrediu ninguém. O Ministério da Agricultura que não está
fazendo a parte dele."
Segundo Cardoso, o morcego se
alimenta do sangue do gado, que
não está vacinado.
O Ministério da Agricultura rebate a afirmação dizendo não ter
conhecimento da possibilidade
de transmissão através do gado.
Segundo o órgão, não há relato semelhante na literatura científica.
Para o Ministério da Saúde, "as
avaliações iniciais deste surto indicam uma forte associação entre
o aparecimento de casos de raiva
em suínos, relatados no ano passado, coincidindo com o mesmo
período das agressões em pessoas". Segundo dados da pasta, de
1986 até o ano passado ocorreram
703 mortes por raiva no país (90
delas no Pará). Só no ano passado, foram 30 óbitos em todo o
Brasil. Neste ano, além dos casos
no Pará, uma pessoa morreu no
município de Nossa Senhora do
Socorro (SE) em decorrência da
infecção, depois de ter sido atacada por um cão infectado.
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