São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 2005

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SURTO

Doença foi transmitida por morcegos hematófagos infectados; nove crianças de quatro a oito anos estão entre os 13 casos confirmados

Raiva mata 11 pessoas em 11 dias no Pará

THIAGO REIS
DA AGÊNCIA FOLHA

Onze pessoas morreram em 11 dias devido a um surto de raiva humana no município de Augusto Corrêa (256 km de Belém), no nordeste do Pará.
A última morte foi registrada ontem, por volta das 16h, de uma criança de dez anos. O primeiro óbito ocorreu no dia 3.
Outras duas pessoas estavam internadas em estado grave no hospital Barros Barreto, em Belém, até a noite de ontem.
A doença, segundo a Secretaria Estadual de Saúde, foi transmitida por morcegos hematófagos (que se alimentam de sangue) infectados. Eles contraem o vírus de outras espécies e de outros mamíferos, como cães e gatos. Todas as mortes foram decorrentes de mordidas de morcegos. Entre os 13 casos confirmados, nove são de crianças de quatro a oito anos.
De acordo com o órgão, 825 pessoas já foram vacinadas para evitar o desenvolvimento da doença, na zona rural da cidade, distante 60 km da sede. Cerca de 4.000 pessoas vivem na comunidade. A população estimada do município é de 34.435 habitantes.
Caso não seja tratada de forma adequada (vacinação e soro) e rápida, a raiva pode provocar a morte, pois atinge o sistema nervoso central. A doença, em estágio avançado, não tem cura.
A secretaria já montou 12 postos de atendimento num raio de 20 km para atender a população exposta à infecção. Para interromper a transmissão da doença, o órgão também vacinou mais de 1.500 cães e gatos. O objetivo é não permitir que ela se alastre para comunidades vizinhas.
Além disso, já foram capturados 180 morcegos. Testes em laboratório apontaram a presença do vírus nos animais. O órgão estadual utiliza em alguns locais uma pasta vampiricida (composta de warfarina, um anticoagulante, misturado a vaselina) para realizar o controle populacional da espécie, a Demodus rotundus.
No ano passado, os municípios paraenses de Portel e Viseu também tiveram surtos semelhantes. Foram 21 mortes: 15 ocorridas apenas em Portel.
De acordo com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), a principal causa é o desmatamento sem controle, que provocou uma maior concentração dos mamíferos voadores nas regiões de povoamento humano.
O coordenador do Núcleo de Endemias da Secretaria Estadual de Saúde, Bernardo Cardoso, diz que a responsabilidade é do governo federal.
"Tenho certeza absoluta de que não foi de gato nem cachorro, porque está tudo vacinado e nenhum agrediu ninguém. O Ministério da Agricultura que não está fazendo a parte dele."
Segundo Cardoso, o morcego se alimenta do sangue do gado, que não está vacinado.
O Ministério da Agricultura rebate a afirmação dizendo não ter conhecimento da possibilidade de transmissão através do gado. Segundo o órgão, não há relato semelhante na literatura científica.
Para o Ministério da Saúde, "as avaliações iniciais deste surto indicam uma forte associação entre o aparecimento de casos de raiva em suínos, relatados no ano passado, coincidindo com o mesmo período das agressões em pessoas". Segundo dados da pasta, de 1986 até o ano passado ocorreram 703 mortes por raiva no país (90 delas no Pará). Só no ano passado, foram 30 óbitos em todo o Brasil. Neste ano, além dos casos no Pará, uma pessoa morreu no município de Nossa Senhora do Socorro (SE) em decorrência da infecção, depois de ter sido atacada por um cão infectado.


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