São Paulo, sábado, 14 de junho de 2008

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Policial diz ser vítima de "guerra institucional"

Everardo Tanganelli Jr., diretor do Denarc, afirma que Promotoria não aceita possível equiparação salarial com Polícia Civil

Delegado se afastou do cargo para se dedicar à sua defesa; ele é acusado de enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro

ROGÉRIO PAGNAN
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Investigado sob suspeita de enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro, o diretor do Denarc (departamento de narcóticos), Everardo Tanganelli Júnior, 56, disse ontem ser inocente e vítima de uma "guerra institucional" entre a Polícia Civil e o Ministério Público.
"Não só eu, Tanganelli, diretor do Denarc. A Polícia Civil está apanhando. É institucional essa guerra. Porque nós estamos com uma PEC [proposta de emenda constitucional], em Brasília, um projeto em que pedimos a equiparação [salarial] ao Ministério Público. Então, eles não aceitam isso daí. Alguns membros, porque tenho grandes amigos no Ministério Público", disse ele.
Em entrevista coletiva, com direto a claque de cerca de 50 policiais (entre eles 16 delegados), Tanganelli anunciou seu afastamento da chefia do Denarc por 45 dias (por meio de licença prêmio), para se dedicar à sua defesa. Disse não ter certeza se retorna ao cargo.
"Eu não consigo trabalhar. Não tenho tempo de me defender", afirmou. "Não vou sair da polícia. Eu continuo, posso não voltar para o Denarc."
O delegado confirmou que seu patrimônio gira em torno de R$ 4 milhões, conforme afirma o Ministério Público, entre imóveis e cabeças de gado. Segundo ele, é fruto de economias ao longo de 40 anos de trabalho dentro e fora da polícia, como empresário e fazendeiro.
"Por que sou delegado de polícia não posso ter patrimônio? [...] Eu conheço dezenas delegados de polícia, de investigadores que já têm patrimônio, mas também conheço promotor que têm um patrimônio muito mais alto do que o meu", afirmou, aplaudido pela claque. O policial não quis dizer o nome do promotor.
"Se eu viver única e exclusivamente da polícia, aí fica difícil você explicar [o patrimônio]. Não tenho isso daqui da polícia. Trabalho há mais de 40 anos. Tive empresa de segurança. Com meu sócio na empresa, nós compramos as fazendas."
O delegado nega que tenha adquirido esmeraldas como forma de lavar dinheiro, como suspeitam promotores. Disse que "umas quatro vezes" comprou pedras de Edson Rodrigues dos Santos, mas para usá-las como caução em processos judiciais, incluindo o de uma empresa de segurança que possuía na década de 90. "Ele vende para o mercado todo", disse.
Foi nessa época que conheceu o comerciante, afirmou ele, e decidiu se dedicar a esse tipo de compra mesmo não entendendo de jóias nem do mercado. Disse acreditar que as pedras são legais, mas não demonstrou certeza. "Só se ele [Santos] me enganou."
Tanganelli nega que as compras tenham somado entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões, como afirmou Santos à Promotoria, mas não informou o valor total. "É porcaria!", disse.
O delegado afirmou que não declarou as jóias em seu Imposto de Renda porque as devolveu. "Vou declarar o quê, se eu já devolvi para ele?"
Santos disse ontem à Folha que não quer comentar as negociações feitas com o delegado, mas confirmou tê-las feito.
O Ministério Público Estadual não quis comentar as declarações do policial.


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