São Paulo, sábado, 14 de junho de 2008

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Transplantes de rins batem recorde histórico em 2007

Coordenador do Sistema Nacional de Transplantes diz que vai reforçar contato com hospitais para ter mais doadores

Brasil realizou 3.397 transplantes em 2007, de acordo com a ABTO; 1.730 rins vieram de doadores mortos e 1.667 de vivos

DA REPORTAGEM LOCAL

O SNT (Sistema Nacional de Transplantes), órgão do Ministério da Saúde, planeja modificações na legislação que rege os transplantes no país para tentar tornar o sistema mais eficiente, segundo afirmou ontem à Folha o seu coordenador, Abrahão Salomão Filho.
"Vamos estimular um contato maior do que há hoje entre os hospitais e o SNT, por exemplo. Estamos estudando diversas outras alterações e atualizações na legislação, que está completando dez anos, para que passem a vigorar a partir de setembro", diz.
Os esforços para tornar o sistema mais eficiente já produziram resultado em 2007, segundo Salomão Filho.
No ano passado, foi batido o recorde de doações de rins, com 3.397 procedimentos. Além disso, 2007 foi um dos poucos anos em que transplantes com rins de mortos (1.730) superaram os de vivos (1.667).
Considerando todos os órgãos transplantados, a taxa de doadores ficou em 6,2 por milhão de habitantes, melhor que os 6 registrados em 2006. Entretanto, o desempenho foi pior que os 7,2 de 2004, de acordo com a ABTO.
"Conseguimos nos aproximar de nossa melhor marca. Tornando a captação de órgãos mais eficiente, melhoraremos diversos indicadores, inclusive a relação que existe hoje entre doadores de rins vivos e mortos", diz o coordenador.

No mundo
Apesar da pequena melhora apresentada em 2007, o Brasil ainda está muito atrás de outros países no que se refere a transplantes. Um "oceano" separa o país da Espanha, que teve 33,8 doadores por milhão de habitantes em 2006. Países próximos, como o Uruguai, que tem 25,2 doadores por milhão, também superam o Brasil.
As diferenças na captação também causam impacto diretamente na relação entre doadores de rins vivos e mortos em comparação com outros países. Muitos dos que se destacam na captação de órgãos têm uma relação de doadores inversa à brasileira e fazem a maioria de seus transplantes com doadores mortos. É o caso da Espanha, onde menos de 3% dos rins transplantados em 2004 foram de doadores vivos.
José Osmar Medina Pestana, nefrologista e diretor do Hospital do Rim de São Paulo, afirma, porém, que a divisão entre doadores no mundo é cultural.
"Na Índia, por exemplo, há uma série de critérios para habilitar o morto à doação. Já o Irã remunera doadores vivos. Nos Estados Unidos, doadores vivos e mortos estão mais ou menos divididos, como ocorre no Brasil", conta.
Há ainda países como a Suécia em que o número de doadores mortos é baixo. Isso acontece porque a maioria das pessoas tem morte natural. É geralmente nas mortes violentas em que há morte encefálica -o corpo continua funcionando, permitindo que o rim permaneça vivo para doação.
A diminuição do número de mortes violentas também é uma questão que dificulta o crescimento dos doadores mortos no Brasil, segundo Medina. "Felizmente, por um lado, esse dado melhorou no Brasil. Entretanto, perdemos no número de órgãos disponíveis."
Segundo Medina, por mais que se trabalhe para melhorar a captação no Brasil, é impossível acabar com a fila de transplante de rim.
"A saúde hoje não é só o transplante, mas essa área pode melhorar dependendo de ser uma questão prioritária. Mas, mesmo assim, a fila não vai acabar nunca, na medida em que as pessoas envelhecem e acontecem menos mortes violentas."


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