São Paulo, sábado, 14 de junho de 2008

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Maioria dos transplantes de rins depende de doador vivo

Nos últimos 11 anos, 17.494 pessoas receberam o órgão de doadores vivos

Fila para transplante tem, hoje, 35 mil pacientes; para especialistas, problema é a falta de organização na captação de órgãos

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Nos últimos 11 anos, mais da metade dos transplantes de rins no Brasil foram feitos com órgãos de doadores vivos. Dos 31.587 procedimentos, 17.494 usaram órgãos de doadores vivos, contra 14.093 realizados com rins de doadores mortos.
O número corresponde à soma dos balanços anuais da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos) desde 1997, quando a entidade passou a registrar os transplantes.
Os dados da associação mostram ainda que são desperdiçados ao menos 50% dos órgãos potencialmente aptos a transplantes, em razão das deficiências de notificação dos casos de morte encefálica.
Segundo especialistas, essa diferença é um dado crítico porque o número total de transplantes é bastante baixo, principalmente com doadores mortos. Isso significa que quem não encontra um doador vivo precisa entrar em uma fila que tem, hoje, 35 mil pessoas -a cada ano, são realizados pouco mais de 3.000 transplantes, com os dois tipos de doador.
De acordo com Abrahão Salomão Filho, coordenador do SNT (Sistema Nacional de Transplantes), uma melhora no sistema de captação poderia significar que muitas pessoas não tivessem que tirar um de seus rins para doar.
Em 2006, por exemplo, foram 1.768 transplantes de doações por vivos e 1.513 por mortos. Se contarmos que uma pessoa viva pode doar um órgão e a morta, dois, conclui-se que o número de indivíduos vivos envolvidos é ainda muito maior.
Para o presidente da ABTO, Valter Duro Garcia, a possibilidade de menos vivos terem que doar um rim não é tão vantajosa. "Às vezes, o doador vivo é melhor que o doador falecido. Um transplante de um irmão com uma carga genética idêntica vai durar mais de 30 anos sem problema", afirma.
Ele aponta ainda outras vantagens na doação de um vivo, como uma investigação mais profunda do histórico do doador e a possibilidade de fazer a cirurgia com mais calma.

Incentivo à doação
Na opinião de Garcia, para equilibrar a fila de espera, o país deveria ter mais doadores falecidos, mas também muitos doadores vivos. "Precisamos de 11 mil transplantes de rim por ano, mas só fazemos pouco mais de 3.000. Para isso, o ideal seria aumentar em quatro vezes o número de doadores mortos e em duas vezes o de vivos."
Ele diz que é necessário melhorar a captação, pois não é possível aumentar muito o número de doadores vivos. "Algumas pessoas não podem doar e a tarefa de encontrar um doador compatível é difícil em outros casos", afirma.
Quando um paciente entra na lista de espera, não tem previsão de quando irá para a cirurgia. Isso porque é preciso aparecer um doador compatível e ainda esperar que aqueles que estão há mais tempo na fila exerçam a preferência.


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