São Paulo, sábado, 14 de junho de 2008

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Exército pune com prisão outro sargento homossexual

Fernando Alcântara é companheiro de sargento preso há nove dias após falar à TV

Entrevista à RedeTV! sem aval e uso de farda alterada em foto de revista motivaram prisão, diz advogado; o Exército não se manifestou

ANGELA PINHO
JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Exército prendeu ontem o sargento Fernando Alcântara. Ele é companheiro do também sargento Laci de Araújo, preso há nove dias após dar uma entrevista à RedeTV!.
De acordo com o advogado de Alcântara, Marcos Rogério de Souza, a prisão tem prazo de oito dias e é resultado de um processo disciplinar.
Ainda segundo ele, o Exército deu duas justificativas: o sargento não poderia ter ido a São Paulo dar entrevista à TV sem autorização e usou um uniforme militar "alterado" nas fotos da revista "Época", que fez reportagem em que ele assumia a sua relação homossexual.
Em sua defesa, Alcântara afirma que "não houve uso de uniforme, e sim de uma camiseta com estampas camufladas semelhantes às de utilização no Exército". Sobre a ida a São Paulo sem aval, sua defesa diz que ele viajou após o expediente e, não fosse a prisão de seu companheiro, voltaria antes.
O Exército também pediu a ele explicações por ter omitido a localização de seu companheiro, à época procurado sob a acusação de deserção. Ele respondeu que o decreto-lei nº 1.001, de 1969, isenta de pena quem vive de forma conjugal.
Alcântara atribui sua prisão à expressão de "homofobia estatal", já que ele pegou a maior pena de um processo disciplinar -a menor é a advertência.
Ele está na carceragem do Batalhão da Guarda Presidencial, a metros da carceragem de Araújo, no Batalhão de Polícia do Exército.
Segundo o advogado, a preocupação do sargento é com o estado de saúde de Araújo, que teria problemas neurológicos.
Uma comissão formada por um membro do Ministério Público do Distrito Federal e por uma deputada da Câmara Distrital tentou ontem ver Araújo, mas foi barrada -os militares exigiram autorização judicial.
A senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) informou que tentou falar com o comandante do Exército, general Enzo Peri, para saber do caso, mas não conseguiu. A Folha procurou o Exército, que não respondeu.
A homossexualidade no Exército veio à tona após a prisão de Araújo. Segundo o Exército, ele é desertor. Os sargentos dizem ser perseguidos por causa da orientação sexual -o Exército nega.


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