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PRÉ-NATAL
Levantamento feito a partir de dados de 2002 de programa do Ministério da Saúde mostra que a assistência é parcial
Só 5% das gestantes têm atendimento ideal
GABRIELA ATHIAS
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Enquadrado entre os países
com alta mortalidade materna, de
acordo com critérios da Organização Mundial da Saúde, o Brasil
ainda não cuida das gestantes
com a devida atenção. Oferece,
em alguns casos, assistência desarticulada e parcial.
Pesquisa inédita realizada com
dados do próprio Ministério da
Saúde mostra que, no ano passado, apenas 5% das gestantes inscritas no Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento
receberam o conjunto de atendimento previsto no projeto.
O pacote integral inclui pelo
menos seis consultas de pré-natal,
a consulta de puerpério (período
após o parto até que o organismo
da mãe volte às condições pré-gravidez), exames básicos como o
de sangue e de urina e doses de
vacinas -antitetânica, por exemplo. Incluindo-se o teste de HIV
nesse pacote, o percentual de
atendimento cai para 4%.
O índice melhora se consideradas apenas as seis consultas ou
mais de pré-natal -benefício que
chegou a 22,63% das inscritas-
ou se contabilizados, além de consultas, só os exames -11,35%.
Os dados constam da tese de
doutorado da médica Suzanne Jacob Serruya, defendida na última
semana na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
No estudo realizado, a médica
avaliou a experiência de implantação do Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento,
gerido pelo Ministério da Saúde,
que começou a funcionar no país
em junho de 2000.
"Os pontos de estrangulamento
detectados na atenção, como a
realização de exames laboratoriais e a consulta puerperal, sinalizam a necessidade de rever mecanismos atuais e propor novas medidas", afirma a médica em suas
conclusões no estudo.
Mesmo fazendo a ressalva de
que o programa está em fase de
implantação e conseguiu instituir
importante sistema de informações, a médica afirma que ele
aponta um retrato "preocupante
e desafiador".
Segundo Márcia Cavalcante Vinhas Lucas, consultora da área
técnica de saúde da mulher da
pasta da Saúde, o programa de
humanização mostra apenas uma
parte da realidade do Brasil. Ainda não inclui todos os municípios.
"A partir de diagnósticos como
esse é que poderemos redimensionar as ações de pré-natal", disse ela (leia texto nesta página).
O que é
Para fazer parte do programa de
pré-natal, o município assina com
o ministério um termo de adesão.
O documento é, depois, homologado pelo Estado.
Antes de firmar o acordo, o prefeito precisa organizar o sistema
de saúde de seu município, dotando-o de unidades de referência
para diagnóstico, assistência ambulatorial e hospitalar à gestante.
Exige-se também a organização
de um sistema de informações.
Em contrapartida, o município
inscrito recebe incentivos financeiros. Por exemplo: R$ 10 por
gestante cadastrada e R$ 40 após a
conclusão do pré-natal, desde que
todos os critérios mínimos exigidos sejam cumpridos.
Lançado com o objetivo de melhorar o acesso, a cobertura e a
qualidade do pré-natal, do parto e
do puerpério, o programa de humanização recebeu a adesão de
3.983 municípios. Desses, 3.183
registraram dados no sistema. Há
informações disponíveis sobre
720.871 gestantes.
Mortes
Apesar de a mortalidade materna não ter sido objeto da pesquisa,
Serruya diz que a qualidade do
pré-natal é um dos fatores que influenciam nessa taxa.
As principais causas de morte
materna no país são hipertensão
arterial, hemorragias e infecção
pós-parto, todas evitáveis com
um pré-natal de qualidade e outras medidas simples.
Em 2001, eram 74,5 mortes maternas para cada 100 mil nascidos
vivos nas capitais. Em países desenvolvidos, a taxa varia de 6 a 20
mortes por 100 mil. O Ministério
da Saúde diz ainda que os dados
brasileiros são subnotificados.
"É possível prevenir e evitar cerca de 98% das mortes maternas.
Isso mostra deficiências no pré-natal e na atenção ao parto e ao
pós-parto", disse a médica Maria
de Fátima Oliveira Ferreira, presidente da Rede Feminista de Saúde. Para ela, o programa de humanização é importante, mas
precisa de alterações.
"Medidas simples, como aumentar o horário de atendimento
nos postos de saúde e melhorar a
qualidade do pré-natal, podem
prevenir mortes. Não estamos
nem falando em gastar mais, mas
em oferecer serviço de qualidade", afirmou Ferreira.
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