UOL


São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ABASTECIMENTO

Estudo feito por professores da USP mostra que a região metropolitana tem pior relação volume/habitante

SP tem menos água disponível do que o NE

RÔMULO NEVES
DA AGÊNCIA FOLHA

A disponibilidade de água na região metropolitana de São Paulo é menor do que a de qualquer Estado do Nordeste, segundo trabalho elaborado para o Plano da Bacia do Alto Tietê pelos professores da USP Mônica Porto, da Escola Politécnica, e Ricardo Toledo, diretor da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo).
Na bacia do Alto Tietê, que quase coincide com a área da Grande São Paulo, essa disponibilidade é de 201 m3/habitante/ano.
Em Pernambuco, o Estado com a menor disponibilidade de água do Brasil, esse número é de 1.320 m3/habitante/ ano.
O índice é utilizado pela ONU para medir a capacidade de abastecimento de uma região e é tomado a partir do cálculo da vazão anual de todos os rios que estão num determinado território.
A região metropolitana de São Paulo só não enfrenta um racionamento severo porque importa água de bacias vizinhas, principalmente do complexo Piracicaba-Capivari-Jundiaí, que também abastece a região de Campinas.
Segundo a professora Porto, a região metropolitana tem aproveitamento máximo da oferta de água, opera no limite do sistema, mesmo com a importação, e não tem reserva estratégica. "A região está sujeita a enfrentar um problema grave de abastecimento."
A situação ocorre porque a Grande São Paulo concentra 10% da população brasileira, cerca de 17,5 milhões de pessoas, e tem apenas 0,06% dos recursos hídricos do país, de acordo com Antônio Marsiglia, diretor de produção da Sabesp.
Segundo a ANA (Agência Nacional de Água), a necessidade de consumo de água da população do país é de apenas 3% da oferta hídrica nacional. Já na Grande São Paulo, a relação entre necessidade e oferta é de 120%, ou seja, a disponibilidade de água na região é menor do que o consumo.
A importação de água da bacia do rio Piracicaba responde por quase 50% do consumo da Grande São Paulo, segundo a Sabesp. O problema é que a região de Campinas também é muito populosa e sua disponibilidade (408 m3/ habitante/ano) é quase tão baixa quanto a do Alto Tietê. A importação de água de outras bacias, como a da Baixada Santista ou a de Ribeira de Iguape, pode ter um custo muito alto, diz Porto.
Foram investidos, de acordo com a Sabesp, cerca de R$ 3 bilhões no sistema de importação da bacia do Piracicaba. "Nem toda a reversão pode ser feita com canalização simples e com ajuda da gravidade. Em muitos casos, é necessário o bombeamento da água para a transposição de elevações", diz Marsiglia.
A importação é realizada com a reversão de parte do rio Jaguari, a cerca de 100 km de São Paulo, na região de Atibaia. A água é canalizada até a cidade de Mairiporã, onde motores a bombeiam para os reservatórios do sistema Cantareira, já em São Paulo.
Segundo Porto, além do problema dos custos de importação, existe um aumento da demanda nas bacias vizinhas, pois o interior consome muita água nos processos de irrigação, e a negociação política para uma nova reversão de outras bacias pode ser penosa.
Além da questão da quantidade, o abastecimento de água na Grande São Paulo enfrenta um problema de qualidade, tanto pela poluição industrial quanto pela ocupação irregular das áreas de proteção de mananciais, reservatórios de regulação da vazão e do abastecimento, de acordo com o Instituto Socioambiental.
Essa ocupação é realizada de forma desordenada e sem infra-estrutura, o que acarreta a deterioração das reservas.
Para Porto, a solução seria a integração entre as prefeituras, que regulam a ocupação do solo e a infra-estrutura de transporte, e as companhias de abastecimento, que controlam o uso dos recursos hídricos, com a criação de comitês de gestão das bacias.
Já existem comitês de gestão em algumas bacias de controle da União, como a do Paraíba do Sul e a do São Francisco.




Texto Anterior: Morre aos 78 o empresário Geraldo Bordon
Próximo Texto: Cobrança pelo uso de rios pode ajudar
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.