|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANENCEFALIA
No caso fluminense, mulher de 24 anos estava no quinto mês de gestação de gêmeos; igreja evangélica apoiou
SP e RJ realizam três abortos após liminar
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Três abortos de fetos com anencefalia (sem cérebro) foram realizados em São Paulo e no Rio desde 1º de julho, quando o ministro
Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF),
autorizou, em liminar, a realização desse tipo de procedimento.
Dois desses casos foram em São
Paulo. Uma terceira interrupção
da gravidez por anencefalia foi
feita na capital paulista nesse período, mas valendo-se de autorização judicial obtida antes.
O procedimento realizado no
Rio aconteceu no último domingo. A mãe tem 24 anos, uma filha
saudável de cinco anos e estava há
cinco meses grávida de gêmeos.
"É bastante raro um caso de gêmeos anencefálicos", diz a antropóloga Debora Diniz, diretora do
Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis), ONG que
deu assessoria técnica à ação que
obteve a liminar no STF.
Um bebê anencefálico sobrevive, no máximo, sete dias depois
de nascer, e metade dos bebês que
têm a enfermidade morre no útero da mãe. Segundo a Sociedade
Brasileira de Genética Clínica, para cada mil gestações no Brasil,
uma é de feto com anencefalia.
O parto foi realizado entre as
10h10 e 10h40 de domingo, num
hospital de Teresópolis, região
serrana do Estado do Rio. Na segunda-feira, a mãe foi para casa.
Ela não quer falar com a imprensa
nem ter seu nome divulgado. Seu
marido falou com a Folha e também não quis dar entrevista.
Nas últimas semanas, a gestante
foi apoiada pela Igreja Ceifa de
Teresópolis, igreja evangélica da
qual é fiel. Uma líder religiosa que
acompanhou de perto o caso disse que o silêncio de todos à volta
tem como objetivo preservar o casal. Os dois sofreram muitas pressões de grupos católicos para
manter a gravidez.
A CNBB (Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil) é contrária à
decisão do ministro Marco Aurélio de Mello e defende que o plenário do Supremo a derrube em
agosto.
"[A interrupção da gravidez]
Foi um alívio para ela. É importante divulgar o fato como exemplo para outras famílias que estão
passando por isso", diz a promotora criminal Soraya Gaya, que
vem acompanhando os casos de
gestação de crianças anencefálicas em Teresópolis.
Segundo a promotora, uma das
pessoas que ligaram para a gestante pedindo para que ela mantivesse a gravidez foi uma jovem de
19 anos, também de Teresópolis,
cujo caso foi citado pelo ministro
Marco Aurélio de Mello em seu
despacho.
No fim do ano passado, a jovem
pediu autorização judicial para
interromper sua gravidez, não a
obteve a tempo, e sua filha nasceu
para morrer sete minutos depois.
A jovem não quer dar entrevistas.
Outro caso de Teresópolis é o de
uma jovem de 18 anos que também não conseguiu autorização e
enfrentou muitos problemas de
saúde depois do parto.
Está sendo esperada para os
próximos dias uma nova interrupção de gravidez. A gestante é
de Brasília.
Hoje, às 22h30, o programa
"Diálogo Brasil" (TV Cultura e
mais 19 canais da Rede Pública de
Televisão) apresentará um debate
sobre o tema reunindo Debora
Diniz e o secretário-geral da
CNBB, d. Odilon Pedro Scherer.
Texto Anterior: Panorâmica - Infância: ECA faz 14 anos com problemas na implantação Próximo Texto: Rede hospitalar paulista é ampliada Índice
|