São Paulo, quarta-feira, 14 de julho de 2004

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ANENCEFALIA

No caso fluminense, mulher de 24 anos estava no quinto mês de gestação de gêmeos; igreja evangélica apoiou

SP e RJ realizam três abortos após liminar

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Três abortos de fetos com anencefalia (sem cérebro) foram realizados em São Paulo e no Rio desde 1º de julho, quando o ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou, em liminar, a realização desse tipo de procedimento.
Dois desses casos foram em São Paulo. Uma terceira interrupção da gravidez por anencefalia foi feita na capital paulista nesse período, mas valendo-se de autorização judicial obtida antes.
O procedimento realizado no Rio aconteceu no último domingo. A mãe tem 24 anos, uma filha saudável de cinco anos e estava há cinco meses grávida de gêmeos.
"É bastante raro um caso de gêmeos anencefálicos", diz a antropóloga Debora Diniz, diretora do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis), ONG que deu assessoria técnica à ação que obteve a liminar no STF.
Um bebê anencefálico sobrevive, no máximo, sete dias depois de nascer, e metade dos bebês que têm a enfermidade morre no útero da mãe. Segundo a Sociedade Brasileira de Genética Clínica, para cada mil gestações no Brasil, uma é de feto com anencefalia.
O parto foi realizado entre as 10h10 e 10h40 de domingo, num hospital de Teresópolis, região serrana do Estado do Rio. Na segunda-feira, a mãe foi para casa. Ela não quer falar com a imprensa nem ter seu nome divulgado. Seu marido falou com a Folha e também não quis dar entrevista.
Nas últimas semanas, a gestante foi apoiada pela Igreja Ceifa de Teresópolis, igreja evangélica da qual é fiel. Uma líder religiosa que acompanhou de perto o caso disse que o silêncio de todos à volta tem como objetivo preservar o casal. Os dois sofreram muitas pressões de grupos católicos para manter a gravidez.
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) é contrária à decisão do ministro Marco Aurélio de Mello e defende que o plenário do Supremo a derrube em agosto.
"[A interrupção da gravidez] Foi um alívio para ela. É importante divulgar o fato como exemplo para outras famílias que estão passando por isso", diz a promotora criminal Soraya Gaya, que vem acompanhando os casos de gestação de crianças anencefálicas em Teresópolis.
Segundo a promotora, uma das pessoas que ligaram para a gestante pedindo para que ela mantivesse a gravidez foi uma jovem de 19 anos, também de Teresópolis, cujo caso foi citado pelo ministro Marco Aurélio de Mello em seu despacho.
No fim do ano passado, a jovem pediu autorização judicial para interromper sua gravidez, não a obteve a tempo, e sua filha nasceu para morrer sete minutos depois. A jovem não quer dar entrevistas.
Outro caso de Teresópolis é o de uma jovem de 18 anos que também não conseguiu autorização e enfrentou muitos problemas de saúde depois do parto.
Está sendo esperada para os próximos dias uma nova interrupção de gravidez. A gestante é de Brasília.
Hoje, às 22h30, o programa "Diálogo Brasil" (TV Cultura e mais 19 canais da Rede Pública de Televisão) apresentará um debate sobre o tema reunindo Debora Diniz e o secretário-geral da CNBB, d. Odilon Pedro Scherer.


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