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NUTRIÇÃO
Máquinas que oferecem guloseimas são tentação, por exemplo, para criança que faz tratamento contra obesidade
Hospital vende alimento que faz mal à saúde
DA REPORTAGEM LOCAL
Chocolates, chicletes, batata frita, salgadinhos de bacon... Com as
mãos sobre o vidro, Evelyn observa todas as guloseimas que lhe são
proibidas: aos dez anos, ela pesa
71 quilos, quase 30 a mais do que é
recomendável para sua idade. O
curioso é que a máquina que oferece à menina todas essas tentações está localizada justamente no
local em que Evelyn vai para resolver o problema de obesidade:
no hospital.
Há três meses, ela começou a
freqüentar a Santa Casa da Misericórdia, em São Paulo, para consultar um nutricionista e um endocrinologista devido ao problema de peso.
"O nutricionista já orientou a
gente. Ela está proibida de comer
salgadinhos, chocolates, a alimentação tem que ser totalmente natural. Aí, sempre que venho aqui
[na Santa Casa] tenho que trazer
uma fruta de casa, porque a gente
só encontra salgados, doces, os
sucos são artificiais", afirma a
mãe de Evelyn, Izailda Maria de
Conceição de Sá Leitão, 41.
A permanência das máquinas
de "snacks" no hospital tem sido
alvo de preocupação no setor de
nutrição da entidade. "A gente sabe que do ponto de vista nutricional os salgadinhos não são adequados, mas os clientes hoje estão
cada vez mais exigentes. A maioria dos hospitais hoje conta com
máquinas de salgadinhos, refrigerantes, café. Eles querem ter isso
aqui também", afirma Ana Lucia
Torloni Gradinar, 41, administradora da unidade de nutrição e dietética do hospital.
Na Santa Casa, há duas máquinas. No Hospital Sírio Libanês,
também há duas. No Incor (Instituto do Coração), há só uma máquina, localizada no ambulatório.
No Hospital Nove de Julho, são
cinco máquinas.
Os três últimos hospitais afirmam, porém, que oferecem outras opções de alimentação a seus
clientes, em lanchonetes e restaurantes, e que as máquinas são localizadas em áreas de espera, para
os acompanhantes dos pacientes.
Calorias vazias
O problema dos salgadinhos é
que eles representam o tipo de alimento que os médicos aconselham a evitar. Segundo Gradinar,
geralmente eles são gordurosos,
têm corantes e representam "calorias vazias", ou seja, ao consumi-los, a pessoa ingere muitas calorias, mas poucos nutrientes.
Os riscos à saúde não estão apenas relacionados ao aumento de
peso ou de colesterol. O consumo
em excesso desses alimentos pode
levar a problemas gástricos,
acrescenta a nutricionista Silmara
Truvilho Peres, 37, também da
Santa Casa.
Ainda assim, as máquinas apresentam vantagens. Além de serem
mais baratas e ocuparem um espaço muito menor do que uma
lanchonete, elas oferecem produtos para consumo rápido. "O
acompanhante que está no pronto-socorro, no sétimo andar, prefere comprar um salgadinho na
máquina que está ao lado dele do
que subir até o 12º andar para ir à
lanchonete", exemplifica Patrícia
Ramos, 28, nutricionista do hospital Nove de Julho.
"Essa alternativa foi feita para
suprir as necessidades de acompanhantes em horários críticos,
pois nas proximidades do hospital não existem locais para alimentação. Dentro do hospital,
existem outras alternativas, que
têm horário específico de funcionamento", afirma Mirian Osorio,
do serviço de nutrição dietética
do hospital Sírio-Libanês.
A administradora da unidade
de nutrição e dietética do hospital
aponta outro aspecto positivo.
"Pelo menos a gente sabe a procedência desses salgadinhos. A gente enxerga que eles apresentam
um risco muito menor do que esses pastéis que nossos pacientes
costumam comer em camelô na
rua", diz Gradinar, ressaltando
que o consumo esporádico de salgadinhos não compromete a dieta
de pessoas saudáveis.
Essa é a mesma opinião da dona
de casa Neide Soares de Moraes,
42. "Enquanto a gente espera o
atendimento, vou comendo um
salgadinho, por mais impuro que
seja, é melhor do que comprar
sanduíche na rua."
Mas a questão é controversa
mesmo entre os consumidores.
"Essas máquinas não poderiam
ser permitidas em hospitais porque todo mundo sabe que esses
produtos são cheios de conservantes. Eles não devem endossar
esse consumo, quem quiser que
vá comer na rua", rebate a cineasta Diva Perez, 68.
Para tentar resolver esse dilema,
a nutricionista do Nove de Julho,
Patrícia Ramos, optou por uma
empresa cujas máquinas têm
mais opções de alimentos, como
barras de cereais. Ela também estuda a possibilidade de colocar no
hospital máquinas com sanduíches. "Enquanto isso, a gente tem
a preocupação de colocar também nas máquinas produtos que
são dietéticos."
(AMARÍLIS LAGE)
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