São Paulo, quarta-feira, 14 de julho de 2004

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URBANISMO

Secretário explica que planos regionais são "orientador, não uma obrigação orçamentária" e detalha o que muda em SP

Plano "é cardápio, não comida", diz Wilheim

DA REPORTAGEM LOCAL

Parques ao longo de córregos na zona leste, estímulo à revitalização de fábricas na zona sul, menos prédios comerciais na Vila Olímpia. Essas são algumas das propostas que ganham estrutura com a aprovação dos planos diretores regionais pela Câmara Municipal, segundo o secretário do Planejamento, Jorge Wilheim.
Questionado sobre o que vai sair do papel em breve, o secretário diz que os planos são "um cardápio, não o que você vai comer". Nascido em Trieste (Itália), Wilheim, 76, chegou ao Brasil aos 11 anos, depois de um ano em Buenos Aires, fugindo na guerra iminente na Europa. É a segunda vez que dirige a Secretaria do Planejamento. A primeira foi na gestão Mário Covas, de 1983 a 85. Leia trechos da entrevista. (AL e PDL)
 

"Se dissermos que a cidade de São Paulo é Vila Olímpia, é Pinheiros, continuaremos a ter uma visão extremamente viciada e míope da cidade. Ninguém fala nos congestionamentos na obra que vai para Itaquera. Todo mundo fala na avenida Ibirapuera e na Faria Lima [onde obras têm prejudicado o trânsito]. É um viés que os jornais carregam."
Para a Vila Olímpia, o plano regional prevê o estímulo a prédios residenciais, em vez de escritórios, além da readequação do sistema viário. "As pessoas ficam desesperadas porque não conseguem chegar à bela garagem que construíram."
Na Vila Madalena, a principal questão, o funcionamento dos bares, ainda está em suspenso. Pelo plano regional de Pinheiros, nenhum novo bar poderá ser aberto em vias locais, como a Fidalga.


Os planos regionais prevêem a implementação dos primeiros parques lineares, implantados ao longo de córregos, na região da zona leste de São Paulo. O Plano Diretor Estratégico libera a construção de prédios com densidade maior em troca da adoção de parte desses parques lineares.


"A operação prevista para a zona sul, que não é tão sul assim -trata-se de Santo Amaro, M'Boi e Capela do Socorro-, é mais uma operação de reativação econômica das fábricas que existem lá e setores de serviços, para criar núcleo empregador para população pobre de Campo Limpo e Capela do Socorro."


A idéia é regularizar e manter baixo o nível de ocupação, com prioridade na adequação ambiental, com preocupações como instalar rede de esgoto. "Nas zonas de mananciais tem muita ocupação residencial já existente. Então foi criada uma zona que é de proteção ambiental, mas permite habitação. Nessa zona são permitidas diversas atividades, mas a densidade é baixa e a maior preocupação é com a drenagem do solo. Até hoje essa região era tratada como uma zona de proteção ambiental e ponto final, e o que realmente acontecia lá era ilegal. Nosso princípio foi o de enfrentar a realidade, aceitar que aquilo existe e prever uma série de mudanças para melhorar a situação."


O secretário diz que gostaria de repetir um prefeito de Paris e falar que a solução para o problema se dará "pelo desespero dos motoristas". No plano concreto, aponta a "garantia de corredores de ônibus para todas as subprefeituras", mas diz que só haverá melhora "quando tiver metrô e trem em quantidades suficientes".
"Quando falam em congestionamento, todo mundo fala de obra, de avenida, mas não pensam no fato de que, todos os dias, o Detran emplaca 550 veículos novos. O aumento da taxa de motorização na capital é gigantesco. Ninguém é contra o seu automóvel, todo mundo é contra o carro dos outros, que não devia circular, devia ficar em casa."
Wilheim diz que as alterações viárias foram detalhadas nos 31 novos planos diretores regionais. "O Plano Diretor Estratégico já propunha uma série de vias novas para completar o sistema viário de São Paulo. Na zona leste, faltam ligações norte-sul, e na zona norte faltam ligações que levem de leste a oeste. Essas novas vias estão nos planos regionais", afirma o secretário do Planejamento.


O secretário diz que as principais intervenções previstas nos planos diretores regionais que serão incorporadas já no Orçamento de 2005 dizem respeito ao sistema viário.
"Não há um cronograma estabelecido para completar tudo o que está previsto no plano. Os planos regionais são um orientador, não uma obrigação orçamentária. Agora vamos ter os conselhos de representantes e possivelmente continuaremos a ter os orçamentos participativos. Essas duas entidades poderão alterar as prioridades de execução do que está previsto no plano. Aqui está o cardápio, não o que você vai comer."


Um dos meios de amenizar o caos no trânsito, para Wilheim, é um zoneamento com usos mais diversificados, para que as pessoas encontrem o que procuram mais perto de suas casas.


A idéia é que a cidade só pode existir nas dimensões atuais se houver vários núcleos, não mais uma divisão entre áreas centrais e periféricas. "Em parte, esses núcleos espontaneamente existem, mas a visão era sempre do centro para a periferia, nunca se pensando que essa periferia às vezes é um Tatuapé, uma Penha, um Santo Amaro, que são cidades, com sua própria centralidade."


"A fiscalização é feita pela cidadania. Há muitas dificuldades que vêm da nossa cultura." Como haverá um prazo de 120 dias entre a sanção da lei e sua entrada em vigor, o secretário acredita que o tempo será suficiente para que a população tome conhecimento das novas regras.


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