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URBANISMO
Secretário explica que planos regionais são "orientador, não uma obrigação orçamentária" e detalha o que muda em SP
Plano "é cardápio, não comida", diz Wilheim
DA REPORTAGEM LOCAL
Parques ao longo de córregos
na zona leste, estímulo à revitalização de fábricas na zona sul, menos prédios comerciais na Vila
Olímpia. Essas são algumas das
propostas que ganham estrutura
com a aprovação dos planos diretores regionais pela Câmara Municipal, segundo o secretário do
Planejamento, Jorge Wilheim.
Questionado sobre o que vai
sair do papel em breve, o secretário diz que os planos são "um cardápio, não o que você vai comer".
Nascido em Trieste (Itália), Wilheim, 76, chegou ao Brasil aos 11
anos, depois de um ano em Buenos Aires, fugindo na guerra iminente na Europa. É a segunda vez
que dirige a Secretaria do Planejamento. A primeira foi na gestão
Mário Covas, de 1983 a 85. Leia
trechos da entrevista.
(AL e PDL)
"Se dissermos que a cidade de
São Paulo é Vila Olímpia, é Pinheiros, continuaremos a ter uma
visão extremamente viciada e
míope da cidade. Ninguém fala
nos congestionamentos na obra
que vai para Itaquera. Todo mundo fala na avenida Ibirapuera e na
Faria Lima [onde obras têm prejudicado o trânsito]. É um viés
que os jornais carregam."
Para a Vila Olímpia, o plano regional prevê o estímulo a prédios
residenciais, em vez de escritórios, além da readequação do sistema viário. "As pessoas ficam desesperadas porque não conseguem chegar à bela garagem que
construíram."
Na Vila Madalena, a principal
questão, o funcionamento dos bares, ainda está em suspenso. Pelo
plano regional de Pinheiros, nenhum novo bar poderá ser aberto
em vias locais, como a Fidalga.
Os planos regionais prevêem a
implementação dos primeiros
parques lineares, implantados ao
longo de córregos, na região da
zona leste de São Paulo. O Plano
Diretor Estratégico libera a construção de prédios com densidade
maior em troca da adoção de parte desses parques lineares.
"A operação prevista para a zona sul, que não é tão sul assim
-trata-se de Santo Amaro,
M'Boi e Capela do Socorro-, é
mais uma operação de reativação
econômica das fábricas que existem lá e setores de serviços, para
criar núcleo empregador para população pobre de Campo Limpo e
Capela do Socorro."
A idéia é regularizar e manter
baixo o nível de ocupação, com
prioridade na adequação ambiental, com preocupações como instalar rede de esgoto. "Nas zonas
de mananciais tem muita ocupação residencial já existente. Então
foi criada uma zona que é de proteção ambiental, mas permite habitação. Nessa zona são permitidas diversas atividades, mas a
densidade é baixa e a maior preocupação é com a drenagem do solo. Até hoje essa região era tratada
como uma zona de proteção ambiental e ponto final, e o que realmente acontecia lá era ilegal. Nosso princípio foi o de enfrentar a
realidade, aceitar que aquilo existe e prever uma série de mudanças para melhorar a situação."
O secretário diz que gostaria de
repetir um prefeito de Paris e falar
que a solução para o problema se
dará "pelo desespero dos motoristas". No plano concreto, aponta a "garantia de corredores de
ônibus para todas as subprefeituras", mas diz que só haverá melhora "quando tiver metrô e trem
em quantidades suficientes".
"Quando falam em congestionamento, todo mundo fala de
obra, de avenida, mas não pensam no fato de que, todos os dias,
o Detran emplaca 550 veículos
novos. O aumento da taxa de motorização na capital é gigantesco.
Ninguém é contra o seu automóvel, todo mundo é contra o carro
dos outros, que não devia circular, devia ficar em casa."
Wilheim diz que as alterações
viárias foram detalhadas nos 31
novos planos diretores regionais.
"O Plano Diretor Estratégico já
propunha uma série de vias novas
para completar o sistema viário
de São Paulo. Na zona leste, faltam ligações norte-sul, e na zona
norte faltam ligações que levem
de leste a oeste. Essas novas vias
estão nos planos regionais", afirma o secretário do Planejamento.
O secretário diz que as principais intervenções previstas nos
planos diretores regionais que serão incorporadas já no Orçamento de 2005 dizem respeito ao sistema viário.
"Não há um cronograma estabelecido para completar tudo o
que está previsto no plano. Os planos regionais são um orientador,
não uma obrigação orçamentária.
Agora vamos ter os conselhos de
representantes e possivelmente
continuaremos a ter os orçamentos participativos. Essas duas entidades poderão alterar as prioridades de execução do que está previsto no plano. Aqui está o cardápio, não o que você vai comer."
Um dos meios de amenizar o
caos no trânsito, para Wilheim, é
um zoneamento com usos mais
diversificados, para que as pessoas encontrem o que procuram
mais perto de suas casas.
A idéia é que a cidade só pode
existir nas dimensões atuais se
houver vários núcleos, não mais
uma divisão entre áreas centrais e
periféricas. "Em parte, esses núcleos espontaneamente existem,
mas a visão era sempre do centro
para a periferia, nunca se pensando que essa periferia às vezes é um
Tatuapé, uma Penha, um Santo
Amaro, que são cidades, com sua
própria centralidade."
"A fiscalização é feita pela cidadania. Há muitas dificuldades que
vêm da nossa cultura." Como haverá um prazo de 120 dias entre a
sanção da lei e sua entrada em vigor, o secretário acredita que o
tempo será suficiente para que a
população tome conhecimento
das novas regras.
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