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Trio joga gasolina em motorista e queima ambulância
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
"Cadê a senhora doente?",
perguntou o motorista da ambulância ao rapaz de camiseta
amarela que acenava para o veículo parar em uma rua de terra,
da Vila Esperança, periferia de
Santana de Parnaíba. "Aí, ao
seu lado", respondeu o moço.
Ao virar-se, Florivaldo Pereira
de Souza sentiu o cano frio do
revólver na têmpora esquerda.
Dois homens encapuzados o
puxaram para fora da ambulância, quebraram o giroflex, o rádio. Em seguida, começaram a
jogar gasolina no veículo, "vamos queimar, vamos queimar".
Jogaram por fim o combustível
também no motorista.
Indagaram então se ele tinha
fósforo ou isqueiro. Souza disse
que não e, aproveitando a distração do trio, começou a correr. Parou 1 km depois, quando
achou outro motorista da prefeitura, que, preocupado com a
demora, foi ao seu encontro.
Dali, eles escutaram os dois
tiros que incendiaram a ambulância. Da Kombi ano 2005,
que levava em média 20 doentes por dia, só restaram a carcaça e as marcas de bala. "Foi um
pesadelo. Achava que não sairia
vivo", contava ontem um assustado Souza, enquanto assentava tijolos da casa que está reformando nos dias de folga.
Para o motorista, o pesadelo
ainda não acabou. Os criminosos levaram sua bolsa com roupas, celular e documentos de
que constam o endereço da casa onde vive com a mulher e
dois filhos. A polícia diz que a
bolsa foi queimada no incêndio.
Além do susto, o ataque rendeu um prejuízo de R$ 600 a
Souza. Na bolsa havia um telefone sem fio, ainda na caixa,
presente que daria à mulher na
manhã de ontem, quando encerrasse seu turno de 12 horas.
Funcionário público há cinco
anos, ele conta que, por volta da
meia-noite, foi chamado para
socorrer uma idosa passando
mal. Do livro do pronto-socorro consta o chamado, o último
da noite: Maria Aparecida Souza, rua 2, número 18. Falso.
Como não viu ninguém, voltou à base. Logo em seguida, recebeu nova ordem: a mulher o
aguardava perto da caixa-d'água do bairro, exatamente no
local onde o rapaz de camiseta
amarela acenou para ele.
Para o delegado Luis Roberto
Faria Hellmeister, é cedo para
ligar o crime ao PCC. "Pode ter
sido por oportunistas, aproveitando a onda de violência."
A Kombi atacada era uma das
12 ambulâncias de Santana de
Parnaíba (Grande SP).
O secretário municipal da
Saúde, Haryson Lima, diz que
os 60 motoristas das ambulâncias agora temem pela segurança. "Mas o que fazer? A doença
não tem hora para acontecer."
Segundo ele, a guarda municipal deve fazer a escolta das
ambulâncias. "Nunca imaginei
que isso pudesse acontecer. Os
profissionais e os equipamentos de saúde normalmente são
respeitados até pelos bandidos." A ambulância queimada
custava cerca de R$ 55 mil.
Caso o medo dos motoristas
persista, o secretário estuda fazer um trabalho de psicoterapia em grupo. "Temos que superar, de um jeito ou de outro."
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