São Paulo, sexta-feira, 14 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Trio joga gasolina em motorista e queima ambulância

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

"Cadê a senhora doente?", perguntou o motorista da ambulância ao rapaz de camiseta amarela que acenava para o veículo parar em uma rua de terra, da Vila Esperança, periferia de Santana de Parnaíba. "Aí, ao seu lado", respondeu o moço. Ao virar-se, Florivaldo Pereira de Souza sentiu o cano frio do revólver na têmpora esquerda.
Dois homens encapuzados o puxaram para fora da ambulância, quebraram o giroflex, o rádio. Em seguida, começaram a jogar gasolina no veículo, "vamos queimar, vamos queimar". Jogaram por fim o combustível também no motorista.
Indagaram então se ele tinha fósforo ou isqueiro. Souza disse que não e, aproveitando a distração do trio, começou a correr. Parou 1 km depois, quando achou outro motorista da prefeitura, que, preocupado com a demora, foi ao seu encontro.
Dali, eles escutaram os dois tiros que incendiaram a ambulância. Da Kombi ano 2005, que levava em média 20 doentes por dia, só restaram a carcaça e as marcas de bala. "Foi um pesadelo. Achava que não sairia vivo", contava ontem um assustado Souza, enquanto assentava tijolos da casa que está reformando nos dias de folga.
Para o motorista, o pesadelo ainda não acabou. Os criminosos levaram sua bolsa com roupas, celular e documentos de que constam o endereço da casa onde vive com a mulher e dois filhos. A polícia diz que a bolsa foi queimada no incêndio.
Além do susto, o ataque rendeu um prejuízo de R$ 600 a Souza. Na bolsa havia um telefone sem fio, ainda na caixa, presente que daria à mulher na manhã de ontem, quando encerrasse seu turno de 12 horas.
Funcionário público há cinco anos, ele conta que, por volta da meia-noite, foi chamado para socorrer uma idosa passando mal. Do livro do pronto-socorro consta o chamado, o último da noite: Maria Aparecida Souza, rua 2, número 18. Falso.
Como não viu ninguém, voltou à base. Logo em seguida, recebeu nova ordem: a mulher o aguardava perto da caixa-d'água do bairro, exatamente no local onde o rapaz de camiseta amarela acenou para ele.
Para o delegado Luis Roberto Faria Hellmeister, é cedo para ligar o crime ao PCC. "Pode ter sido por oportunistas, aproveitando a onda de violência."
A Kombi atacada era uma das 12 ambulâncias de Santana de Parnaíba (Grande SP).
O secretário municipal da Saúde, Haryson Lima, diz que os 60 motoristas das ambulâncias agora temem pela segurança. "Mas o que fazer? A doença não tem hora para acontecer."
Segundo ele, a guarda municipal deve fazer a escolta das ambulâncias. "Nunca imaginei que isso pudesse acontecer. Os profissionais e os equipamentos de saúde normalmente são respeitados até pelos bandidos." A ambulância queimada custava cerca de R$ 55 mil.
Caso o medo dos motoristas persista, o secretário estuda fazer um trabalho de psicoterapia em grupo. "Temos que superar, de um jeito ou de outro."


Texto Anterior: Menino é queimado em ataque a ônibus
Próximo Texto: Suspeito é morto pela polícia em Taboão
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.