São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2008

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No lugar de álcool, freqüentador diz usar drogas

DA REVISTA DA FOLHA

São 37 minutos de domingo e ainda há fila para entrar na boate gay Danger, no centrão. A julgar pela ferveção do público, a lei seca parece não ameaçar a festa, que só deve terminar por volta das 5h30. "Não pode birita? Vamos de padê, bala e muiiita água", diz um rapaz, que preferiu não se identificar.
Traduzindo: padê, na linguagem do candomblé e da umbanda, é oferenda, mas, na noite gay paulistana, é outra coisa: cocaína. Bala é gíria para ecstasy. E água é água mesmo.
Acompanhado por uma mulher, outro jovem chega ao clube à 0h55. "Sou hétero. Não vai pôr meu nome aí não." Disse morar em Santana (zona norte), onde está cheio "de polícia". Por isso preferiu pegar o carro e "encher a cara" no centro.
E a lei seca? "Olha só, o raciocínio é simples", explica ele. "A polícia não faz blitze às 6h. Vai ser o horário que eu vou sair daqui. Dá para dançar, rir e beber sem estragar minha noite."
O subgerente da Danger, Marcos Filé, 30, confirma que uma parcela significativa dos freqüentadores só arreda o pé do salão após as 5h30, para ir para casa em topar com o bafômetro. Mesmo assim, Filé conta que a venda de bebidas alcoólicas caiu pelo menos 10%.
Em frente ao ABC Bailão, outro clube gay do centro, destinado a um público mais maduro, um senhor disse que preferiu ir de táxi. "Moro aqui perto. O preço da corrida é um pouco acima do valor do valet", contou ele, que se identificou como Dorival Silva, 51, empresário.
No largo do Arouche, tradicional reduto de ferveção gay do centro, a boate Cantho não exibia a mesma vivacidade da Danger. O gerente Vinícius Santos, 22, contabiliza queda de 40% na venda de bebidas alcoólicas e de 20% no movimento da casa. O problema, diz, é que as blitze da PM costumam ocorrer a três quadras dali, praticamente na "boca" da boate.
Acostumado a receber 500 pessoas às sextas-feiras, nesta última cerca de 300 deram as caras por lá. Foi a pior sexta-feira em dois anos de funcionamento. Às 3h18 de ontem, Santos não sabia estimar o público de sábado. Só tinha uma certeza: os freezeres continuavam entupidos de cerveja. (RO)


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