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No lugar de álcool, freqüentador diz usar drogas
DA REVISTA DA FOLHA
São 37 minutos de domingo e
ainda há fila para entrar na boate gay Danger, no centrão. A
julgar pela ferveção do público,
a lei seca parece não ameaçar a
festa, que só deve terminar por
volta das 5h30. "Não pode birita? Vamos de padê, bala e
muiiita água", diz um rapaz,
que preferiu não se identificar.
Traduzindo: padê, na linguagem do candomblé e da umbanda, é oferenda, mas, na noite gay paulistana, é outra coisa:
cocaína. Bala é gíria para ecstasy. E água é água mesmo.
Acompanhado por uma mulher, outro jovem chega ao clube à 0h55. "Sou hétero. Não vai
pôr meu nome aí não." Disse
morar em Santana (zona norte), onde está cheio "de polícia".
Por isso preferiu pegar o carro e
"encher a cara" no centro.
E a lei seca? "Olha só, o raciocínio é simples", explica ele. "A
polícia não faz blitze às 6h. Vai
ser o horário que eu vou sair daqui. Dá para dançar, rir e beber
sem estragar minha noite."
O subgerente da Danger,
Marcos Filé, 30, confirma que
uma parcela significativa dos
freqüentadores só arreda o pé
do salão após as 5h30, para ir
para casa em topar com o bafômetro. Mesmo assim, Filé conta que a venda de bebidas alcoólicas caiu pelo menos 10%.
Em frente ao ABC Bailão, outro clube gay do centro, destinado a um público mais maduro, um senhor disse que preferiu ir de táxi. "Moro aqui perto.
O preço da corrida é um pouco
acima do valor do valet", contou ele, que se identificou como
Dorival Silva, 51, empresário.
No largo do Arouche, tradicional reduto de ferveção gay
do centro, a boate Cantho não
exibia a mesma vivacidade da
Danger. O gerente Vinícius
Santos, 22, contabiliza queda
de 40% na venda de bebidas alcoólicas e de 20% no movimento da casa. O problema, diz, é
que as blitze da PM costumam
ocorrer a três quadras dali, praticamente na "boca" da boate.
Acostumado a receber 500
pessoas às sextas-feiras, nesta
última cerca de 300 deram as
caras por lá. Foi a pior sexta-feira em dois anos de funcionamento. Às 3h18 de ontem, Santos não sabia estimar o público
de sábado. Só tinha uma certeza: os freezeres continuavam
entupidos de cerveja.
(RO)
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