São Paulo, terça, 14 de julho de 1998

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MEDICINA
Nova técnica torna cirurgia reparadora de artéria coronárias mais eficaz e segura
Cresce eficiência de cirurgia em artérias

ÁLVARO MONTENEGRO
free-lance para a Folha

A utilização de uma nova técnica aumentou no Brasil, nos últimos dois anos, a eficiência e o número de angioplastias (pequenas cirurgias que usam cateteres para desobstruir artérias).
A conclusão é de um estudo publicado na edição de julho da revista "Arquivos Brasileiros de Cardiologia", que avaliou cerca de 39 mil angioplastias coronarianas (feitas nas artérias que irrigam o coração) realizadas de 92 a 97.
Nas angioplastias tradicionais, um pequeno balão é conduzido até o ponto bloqueado da artéria e inflado, expandindo o diâmetro do vaso.
A nova técnica complementa esse procedimento e fixa um pequeno tubo, aproximadamente do tamanho de uma mola de caneta esferográfica, chamado "stent", no local já expandido pelo balão.
Segundo Amanda Souza, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, em São Paulo, coordenadora do estudo, o "stent" confere suporte ao vaso, impedindo que ele volte a fechar, o que aumenta a eficiência e diminui as complicações da angioplastia.
Amanda diz que o novo procedimento, que hoje é utilizado em 51% das angioplastias, foi o principal responsável pelo aumento do índice de sucesso das operações, que passou de 89,7% de 92 a 93 para 92,8% de 96 a 97.
No estudo, foram consideradas angioplastias bem-sucedidas as desobstruções que não fecharam nas 48h seguintes à operação.
Segundo o estudo, a angioplastia passou a ser adotada com mais frequência nos últimos dois anos. Cerca de 17 mil pessoas sofreram angioplastias entre 92 e 93, número que saltou para 22 mil entre 96 e 97, um aumento de 30%.
A cirurgia foi usada num maior número de idosos, que representavam 14,8 % das angioplastias entre 92 e 93 e passaram responder por 19,6% dos casos entre 96 e 97.
A quantidade de mulheres tratadas com a angioplastia também aumentou, subindo de 28% para 30,6% entre os dois períodos.
A familiarização dos cirurgiões com a angioplastia permitiu que a técnica passasse a ser adotada em situações de emergência, como infartos cardíacos, diz Amanda.
A angioplastia demora, em média, uma hora. A maioria dos pacientes volta para casa depois de dois dias no hospital, de acordo com a médica.
Amanda diz que o maior risco da angioplastia é a trombose, ou formação de coágulos, na região operada do vaso. Os coágulos seriam causa da maioria das mortes causadas pela angioplastia, cerca de 0,5% dos casos de pacientes que não estão sofrendo infarto.
A mortalidade atinge 4% quando a angioplastia é realizada em pessoas que passam por infartos.
Segundo a médica, o uso de um segundo balão para fixar o "stent" na parede do vaso e drogas que impedem a formação dos coágulos fizeram com que a incidência de trombose caísse de 10% para menos de 2% nos últimos anos.
A idéia de fixar um tubo no interior de vasos sanguíneos já havia sido proposta, no início do século, por Alex Carrel, médico inglês. Durante os anos 60, pesquisadores dos EUA aprimoraram o conceito.
O primeira angioplastia a implantar com sucesso um "stent" num ser humano foi feita por cientistas franceses em 1986.
No Brasil, o primeiro teste com um "stent" foi realizado em dezembro de 1987, num projeto conjunto do Instituto Dante Pazzanese e de pesquisadores da Universidade do Texas (EUA).



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