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Giannotti critica pós-graduação on line
RICARDO BONALUME NETO
enviado especial a Natal
Pesquisadores ligados à educação à distância estão entusiasmados com as possibilidades que a
Internet está trazendo para o setor, regulamentado no país em fevereiro passado por decreto.
Mas o filósofo José Arthur Giannotti recomenda cautela na importação dessas tecnologias e concordou com a exclusão da
pós-graduação da regulamentação
do decreto.
"Ironicamente", disse ele, iniciou-se um debate sobre tecnologia sem que se conseguisse fazer
funcionar corretamente um simples retroprojetor, em um auditório que era uma massa de concreto
com um aparelho de ar condicionado deficiente, um exemplo de
importação malfeita do modernismo na arquitetura.
Giannotti, que é presidente do
Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), lembrou os
prédios de Brasília: "Tão lindos
que a gente não pode nem ficar
dentro".
"O Brasil tem uma relação escravocrata com a tecnologia, nós
importamos e destruímos", disse
o filósofo Giannotti.
"Vamos importar, e é preciso
saber como funciona", declarou.
Para Giannotti, é preciso saber
conciliar a educação à distância
com aquela "presencial" (isto é,
na sala de aula). Caso contrário,
disse, corre-se o risco de formar
enfermeiras que desmaiam ao ver
sangue pela primeira vez.
"A maioria das enfermeiras foi
formada à distância na Nova Zelândia e na Austrália, e não há provas de que matem mais pacientes
do que as outras", rebateu o britânico Alexander Romiszowski, da
Universidade de Syracuse, dos
EUA, e consultor de projetos na
Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e na
Universidade de São Paulo (USP).
Fredric Litto, da Escola de Comunicações e Artes da USP, acha
que, em uma sociedade pluralista,
é importante que exista uma gama
variada de ofertas de ensino.
Nesses casos, a educação à distância muitas vezes é a única possibilidade de dar uma "segunda
chance" para as pessoas que não
tiveram condições de estudar nos
momentos tradicionais.
"O mercado vai decidir sobre o
profissional", afirma Litto.
"Eu não acredito que o mercado
vá resolver", replicou Giannotti.
Para ele, a regulamentação tem de
ser feita agora. "Todas as vezes
que abrimos o mercado não tivemos como distinguir o fazer do fazer de conta", declarou o pesquisador do Cebrap.
Para Giannotti, o importante
não é formar apenas um mercado
de trabalho, mas sim "formar
uma nação, com gente capaz de
pensar".
Romiszowski, engenheiro de
formação e ex-consultor da Universidade Aberta britânica, disse
que é necessário criar -e que as
novas tecnologias deverão ter esse
potencial- uma revolução no ensino semelhante à que foi feita nas
últimas décadas na agricultura.
A tecnologia na agricultura afastou o espectro de uma crise de falta de comida provocada por uma
explosão demográfica.
Romiszowski diz que o trabalhador do futuro será um "trabalhador do conhecimento" e que a
educação à distância permitirá
uma atualização imediata para
quem está ou não na universidade.
Giannotti não crê nessa "utopia". Ao contrário, diz ele, cada
vez mais há dois tipos de pessoas,
as bem-empregadas e as "com
trabalhos cada vez mais informais
e menos protegidos".
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