|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Rebelião no Rio deixa 8 presos feridos a bala
MAURÍCIO THUSWOHL
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Uma rebelião que durou mais
de nove horas no presídio Hélio
Gomes, no Complexo Penitenciário Frei Caneca, no centro do Rio,
terminou ontem com oito presos
feridos a bala. A rebelião foi provocada por disputas entre facções
criminosas rivais e só acabou depois que o governo atendeu à
principal reivindicação dos rebelados, transferindo 17 detentos
para outros presídios.
O presídio tem cerca de mil detentos e, segundo informações do
Desipe (Departamento do Sistema Penitenciário), pelo menos
metade participou da rebelião.
Os tumultos começaram às 23h
de domingo e só terminaram às
8h30 de ontem. Os agentes penitenciários Marcelo Souza, Cléber
Caldas e Jamilton Rodrigues foram mantidos reféns, mas foram
liberados sem ferimentos.
Os presos feridos foram levados
para o Hospital Penitenciário,
dentro do complexo, e, segundo o
Desipe, não correm risco de morte. O departamento não soube
precisar, no entanto, nem a origem dos tiros nem a gravidade
dos ferimentos. Só uma arma de
fogo, um revólver calibre 38, foi
apreendida com os rebelados.
Uma briga entre integrantes das
facções criminosas Terceiro Comando e Terceiro Comando Jovem deu início à rebelião. O Terceiro Comando, que "domina" o
presídio Hélio Gomes, exigia a
transferência imediata de 17 integrantes da facção rival, além do
aumento do horário de visita de
duas para quatro horas.
Os três agentes foram rendidos
pelos presos nas galerias A, B e E
do presídio. Em seguida, presos
da galeria D incendiaram colchões e danificaram parte do telhado da unidade. O sistema elétrico do presídio foi totalmente
destruído e o Hélio Gomes passou
o dia de ontem em completa escuridão. O sistema interno de televisão das galerias também foi parcialmente destruído.
O secretário estadual de Direitos Humanos e Sistema Penitenciário, João Luiz Duboc Pinaud,
chegou ao presídio por volta de
1h30 para negociar com os presos.
A rebelião terminou pela manhã,
com a entrada no presídio de 40
homens do Bope (Batalhão de
Operações Especiais da Polícia
Militar) e do Serviço de Operações Especiais do Desipe.
Assim que acabou a revolta, os
17 detentos pertencentes ao Terceiro Comando Jovem foram
transferidos. Acompanhados de
Pinaud e do diretor do Desipe,
Manoel Pedro da Silva, eles foram
levados para o presídio Ary Franco, no Complexo Penitenciário de
Água Santa.
Além do revólver calibre 38,
com cano curto e placa de identificação raspada, foram apreendidos estiletes de fabricação manual. Presos abriram buracos nas
paredes das galerias B, D e E. Segundo o Desipe, não houve fugas.
Os agentes penitenciários foram
levados para depor na 6ª DP, (Cidade Nova) onde, por coincidência, encontraram o governador
Anthony Garotinho (PSB) e o deputado federal Alexandre Cardoso (PSB). O governador, que
acompanhava o presidente da Assembléia Legislativa do Ceará em
uma visita à delegacia, minimizou
o episódio. "Isso foi apenas uma
briga de presos", disse.
No depoimento, os agentes disseram não poder identificar os líderes da rebelião, pois eles teriam
permanecido encapuzados. Após
serem rendidos, os agentes disseram que foram vendados e mantidos sob a ameaça de estiletes.
Texto Anterior: Crime: Julgamento de skinhead começa hoje Próximo Texto: Facção é a maior rival do Comando Vermelho no narcotráfico Índice
|