São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2008

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Para Câmara, uso de militares em morro do Rio foi eleitoreiro

Segundo relatório, Providência foi escolhida para projeto Cimento Social por ser área central e de maior visibilidade

O deputado Carlos Biscaia (PT-RJ) entregou ontem o documento ao presidente da comissão, deputado Raul Jungmann (PPS-PE)

RENATA GIRALDI
DA FOLHA ONLINE, EM BRASÍLIA

Cerca de dois meses depois da morte de três jovens no morro da Providência (no centro do Rio), com suspeita de envolvimento de militares do Exército, a Comissão de Segurança da Câmara analisa o relatório sobre o caso.
O documento conclui que houve uso indevido das Forças Armadas no local e objetivo eleitoreiro na realização de obras na favela. A reportagem teve acesso ao relatório elaborado pelo deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ).
Biscaia entregou o documento nesta quarta-feira ao presidente da comissão, deputado Raul Jungmann (PPS-PE).
No relatório, que possui 26 páginas, o deputado petista afirma que a emenda parlamentar sobre o projeto denominado Cimento Social do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) -candidato a prefeito na cidade do Rio- teve objetivo eleitoreiro.
Para parlamentares da bancada fluminense, o local foi estrategicamente escolhido porque imagens feitas naquela região podem ter repercussão maior do que em outras localidades da cidade.
O petista anexou ao relatório uma série de panfletos e material de campanha emitidos supostamente por funcionários de Crivella para informar aos moradores que as obras realizadas no morro da Providência surgiram a partir de uma proposta do senador.
No relatório, Biscaia usou a expressão "ilegitimidade" para se referir aos repasses financeiros para as obras no morro da Providência. Também levanta dúvidas sobre utilização em "segurança pública" dos militares do Exército no local.
A reportagem tentou entrar em contato com a assessoria de Crivella, mas não conseguiu falar com seus assessores.

Crime
No dia 14 de junho, Wellington Gonzaga Ferreira, 19, David Wilson da Silva, 24, e Marcos Paulo Campos, 17, foram detidos por 11 militares no alto do morro da Providência por desacato. Em seguida, os jovens foram entregues a traficantes do morro da Mineira (centro do Rio), ligados à facção criminosa ADA (Amigos dos Amigos), rival do CV (Comando Vermelho), que controla o tráfico na comunidade da Providência.
Os militares levaram os jovens para o quartel do Exército próximo à Providência, mas o capitão Leandro Ferrari, que comandava o quartel no momento, ordenou que os rapazes fossem liberados.
No entanto, o tenente Ghidetti desobedeceu a ordem e, com outros dez militares, entregou os jovens aos traficantes da Mineira. Horas depois os corpos dos três jovens foram encontrados em um lixão na Baixada Fluminense. Os 11 militares foram presos no dia seguinte e, segundo a polícia, confessaram o crime.

Crise
O caso provocou uma crise sobre a presença do Exército na comunidade. A Justiça Federal determinou a retirada dos militares do morro. O governo federal recorreu e conseguiu que a Justiça mantivesse as tropas, mas somente na rua onde as obras são feitas.
Porém, em meio ao mal-estar, o ministro Nelson Jobim (Defesa) foi ao Rio e pediu desculpas, em nome do governo, às famílias dos mortos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também se manifestou, lamentando o episódio.


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