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Ministério esconde dados sobre PMs
Órgão se recusou a informar a pesquisador do Ipea o número de policiais militares que estão na ativa no país
"É um resquício da ditadura. É um direito de todo mundo saber quantos policiais há", disse economista
MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO
O Ministério do Trabalho
se recusou a informar a um
pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas
e Aplicadas), que é do próprio governo, o número de
policiais militares que estão
na ativa no país -não houve
nenhuma restrição sobre dados da Polícia Civil.
Na resposta, uma técnica
do ministério escreveu que o
dado existe, mas não poderia
fornecê-lo por "motivo de segurança nacional".
A assessoria de imprensa
do ministério confirmou à
Folha que essa é a razão para o veto à divulgação.
O economista Daniel Cerqueira, pesquisador do Ipea
e professor da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, diz que o veto do ministério é "censura".
"É um resquício da ditadura. É um direito de todo mundo saber quantos policiais
militares existem no Brasil",
afirmou Cerqueira.
O sociólogo Renato Sérgio
de Lima, coordenador do Fórum Nacional de Segurança
Pública, classifica o ato de
"ilegal".
"O Ministério do Trabalho
vai contra a política nacional
de segurança do presidente
Lula, que prevê a divulgação
de todos os dados. Até o
Iraque, que está em guerra,
informou que tem 400 mil
policiais", disse.
O advogado Ives Gandra
Martins, que estudou a questão de segurança nacional
nos anos 70, afirma que
a Constituição brasileira
prevê um regime especial
para militares.
"Há assuntos de segurança que merecem sigilo, mas a
Constituição não diz que isso
vale para efetivos da Polícia
Militar. Não há problema em
divulgar o número de PMs",
diz ele, professor emérito da
Escola Superior de Guerra.
MELHOR DADO
O economista procurou a
informação no Ministério do
Trabalho porque ninguém
sabe com precisão o tamanho das polícias no Brasil, de
acordo com ele.
Em 2006, por exemplo, o
Ministério da Justiça dizia
que havia 94.512 PMs e
29.506 policiais civis em São
Paulo. A Pnad, uma pesquisa
feita por amostragem pelo
IBGE (Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e
Estatística), mostrava números completamente diferentes: 73.011 PMs e 18.597 policiais civis.
O Ministério da Justiça tem
um sistema estatístico sobre
segurança, mas muitos Estados não enviam informações. O resultado é que os dados são pouco confiáveis.
O Ministério do Trabalho
tem o melhor dado sobre o tamanho das polícias, segundo
Cerqueira, porque a legislação trabalhista obriga que
empregadores informem o
governo desde 1975 por meio
da Rais (Relação Anual de Informações Sociais).
Um dos objetivos de Cerqueira é saber o quanto as
polícias cresceram quando o
"país pacato" dos anos 80
experimenta a explosão da
violência a partir da década
seguinte.
De acordo com ele, só o Ministério do Trabalho tem esses dados desde 1980.
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