São Paulo, sábado, 14 de setembro de 2002

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TRÁFICO EM GUERRA

Transferência de Fernandinho Beira-Mar, cuja escolta foi de 20 carros, provocou temor de tumultos no complexo penitenciário de Bangu

Rio aciona polícia para evitar nova rebelião

Divulgação
Os traficantes Orelha, Robertinho do Adeus e Robô, mortos na rebelião


DA SUCURSAL DO RIO

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Apontado como principal líder da rebelião em Bangu 1, o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, 34, foi transferido ontem para o BPChoque (Batalhão de Choque) da Polícia Militar. Sua saída provocou temor de novas rebeliões em todo o complexo penitenciário de Bangu (zona oeste), e o policiamento na área teve de ser reforçado.
Além de Beira-Mar, outros líderes do CV (Comando Vermelho) foram levados à tarde de Bangu 1 para o BPChoque: Marcos Marinho dos Santos, o Chapolim, Márcio Silva Macedo, o Gigante, Marcos Antônio Firmino da Silva, o My Thor, e Marcos Nepomuceno, o Marcinho VP.
Beira-Mar chegou ao BPChoque, no Estácio (zona central), às 15h50. Foi escoltado por 20 carros e oito motos da PM e da Polícia Civil. Um helicóptero com atiradores de elite acompanhou o comboio.
Enquanto isso, na zona oeste, as unidades de Bangu 3, 4 e 5 tiveram o policiamento reforçado. Nos dois últimos, a Folha apurou que os próprios presos alertaram os funcionários sobre o risco de uma nova rebelião.
Na casa de custódia Bangu 5, um funcionário afirmou que houve um aviso dos presos para que deixassem a unidade, ou poderiam ser tomados como reféns.
Por volta das 17h, cerca de 150 policiais civis entraram em Bangu 3 para uma vistoria de surpresa. Até as 19h, permaneciam lá dentro. Cerca de 300 estavam de prontidão do lado de fora.
Um caminhão do BPChoque ficou de prontidão na frente de Bangu 4 e Bangu 5, que são vizinhos. Até as 19h, as secretarias de Segurança Pública e de Justiça negavam a ocorrência de novas rebeliões no complexo.
À noite, o governo anunciou que os presos voltarão em 15 dias para Bangu 1, que entrará em obras para recebê-los de volta.

"Passaporte para a Bolívia"
Durante as obras em Bangu 1, o governo do Rio continuará tentando tirar Beira-Mar do Estado. O secretário de Justiça, Paulo Saboya, fez um contato com governo do Acre, sem sucesso.
"O meu colega secretário [de Justiça, Cassiano Marques de Oliveira" do Acre disse que não tem condições de ficar com ele. Para usar as palavras dele, levar o Beira-Mar para lá seria dar a ele o passaporte para a Bolívia."
Um dos advogados do CV disse à Folha que, caso Beira-Mar seja retirado do Rio, podem acontecer rebeliões em todo o sistema penitenciário estadual.
Um dos advogados de Beira-Mar, Lydio da Hora, negou que o cliente tenha sido o líder da rebelião em Bangu 1. Segundo Hora, Beira-Mar estava dormindo quando soube que presos de uma outra galeria dominada pelo CV teriam iniciado o tumulto.
Beira-Mar chegou ao BPChoque em um carro com quatro policiais. Do lado de fora do batalhão, os advogados dos presos protestavam contra a transferência. Eles pediam a presença de dirigentes da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) para ter acesso aos clientes. A reivindicação não foi atendida.
(TALITA FIGUEIREDO, MARIO HUGO MONKEN, FERNANDA DA ESCÓSSIA E CLÁUDIA CAMARGO)

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