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ADMINISTRAÇÃO
Prefeita acata reivindicação para barrar dispositivos que foram feitos para atender interesses localizados
Marta veta zoneamento do Plano Diretor
PALOMA COTES
SÉRGIO DURAN
MELISSA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Pressionada por especialistas e
moradores, a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), resolveu
sancionar o Plano Diretor com
vetos aos artigos que tratam de
zoneamento. Entre os vetados, está o artigo 165, cuja proposta era
transformar trechos de 11 regiões
da cidade, hoje residenciais, em
mistas, que permitem prédios e
comércios, causando alta de até
400% no preço dos terrenos.
O artigo 165 foi modificado horas antes da votação final do plano na Câmara Municipal, dia 23.
A maioria dos autores das emendas que propunham as alterações
no artigo é desconhecida até hoje.
As emendas secretas são investigadas pelo Ministério Público.
Marta, porém, resolveu não só
vetá-las, como também outro artigo que transformava bairros
classificados como zonas mistas
em residenciais -estes apoiados
por moradores e entidades. Ao
todo, foram 16 vetos.
Logo após a aprovação, a prefeita dizia que "a tendência era respeitar" tudo que havia sido feito
pelos vereadores. Uma semana
depois, Marta já afirmava que "estava estudando o plano", e que
não havia tomado decisão definitiva. Os vetos só foram citados
dois dias depois pela prefeita, que,
no entanto, não os especificou.
"Foram motivados pela polêmica, mas também por achar que [o
plano" ficou meio fragmentado,
porque alguns pontos mereciam
ser referendados em outro lugar.
Muita coisa ali, dos [pontos" polêmicos, eu teria aprovado. Como o
plano não é lugar de emenda de
zoneamento, vamos discutir isso
nas subprefeituras", afirmou.
O Plano Diretor prevê a criação
de outros planos, de alcance regional, elaborados nas 31 subprefeituras da cidade.
Uma das emendas que Marta
pretendia sancionar é a que transformava a rua Canadá (zona oeste) de estritamente residencial para corredor de comércio e serviços. "A rua já é um corredor, mas
achei por bem, para evitar maiores polêmicas. Por isso, vetei todos os pontos de uso do solo."
Questionada sobre uma possível reação de vereadores a sua decisão, Marta disse que considerava difícil a derrubada dos vetos.
Os vetos de Marta ao projeto
chegaram ontem à Câmara e têm
30 dias, contados a partir de segunda-feira, para serem votados.
No plenário, serão necessários 28
votos, em uma única votação, para derrubar os vetos da prefeita.
Mas, de acordo com o presidente
do Legislativo paulistano, José
Eduardo Cardozo (PT), isso não
deverá acontecer.
A decisão de Marta foi elogiada
pelos vereadores ontem. Para
Cardozo, "foi uma excelente decisão". Segundo o relator do projeto, Nabil Bonduki (PT), foi uma
boa solução para resgatar as
idéias principais do projeto.
Na avaliação do líder do governo, Arselino Tatto (PT), apesar de
as mudanças terem sido parte de
um acordo para aprovar o plano
na Câmara, os vetos não devem
prejudicar as relações na Casa. "O
Executivo tem essa liberdade." O
ex-líder do governo, José Mentor
(PT), foi procurado pela Folha
mas não respondeu as ligações.
Vereadores da oposição e da base governista também elogiaram
a decisão de Marta. "Mais uma
vez, minha facção foi vencedora
porque, na Comissão de Justiça,
nós retiramos tudo o que se referia a zoneamento do plano. A prefeita fez o mesmo", disse Antônio
Carlos Rodrigues (PL). Gilberto
Natalini (PSDB) divulgou nota na
qual afirma que os vetos de Marta
são uma "vitória da ética".
Já na avaliação do Ministério
Público do Estado de São Paulo,
que investiga a autoria das emendas que alteraram o zoneamento
da cidade, os vetos não encerram
o problema. "Vamos aguardar a
decisão da Câmara Municipal. Os
vetos demonstram o bom senso
da prefeita", afirmou o promotor
de Habitação e Urbanismo, Mário
Malaquias.
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