São Paulo, terça-feira, 14 de setembro de 2004

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PASSAGENS PAULISTANAS

Na estréia de túnel, marronzinho usa jogo de cintura para evitar brigas com quem se perdeu

Fiscal atende 5 motoristas por minuto

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

Logo às 7h, uma motorista desce a avenida Rebouças, no sentido centro-bairro, e se aproxima vagarosamente da esquina da avenida Faria Lima, gesticulando irritada atrás do volante.
Sem saber se deve invadir a faixa do Passa-Rápido, que cruza a Faria Lima direto, ou seguir o fluxo de veículos que entram à direita na avenida, a publicitária Andrea Mitelman abaixa o vidro, nervosa, e pede auxílio para Nilson Cunha, 48. Cunha é funcionário da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) há 19 anos e foi destacado para orientar os motoristas no primeiro dia útil de funcionamento do corredor de ônibus e do túnel na Rebouças.
"Como é que eu atravesso para lá?", pergunta, ríspida, ao marronzinho. "É um absurdo! Não tem placa nenhuma explicando como faço para pegar a marginal!" Cunha, pacientemente, explica o novo trajeto.
"A gente passa cada coisa...", comenta ele. "Mas não pode esquentar. Senão, você fica doido", diz. "O pessoal fica muito estressado no trânsito. Se a gente [os fiscais da CET] não tiver jogo de cintura, tudo vira briga", continua. "E o pior é que tem duas faixas avisando do novo trajeto. Mas, assim como ela, ninguém vê."
Na manhã de ontem, das 7h às 11h, a cada minuto, uma média de cinco motoristas, confusos com o novo trajeto, paravam ao lado de Cunha para pedir informações.
A costureira Marisa Fernandes, 41, foi um desses motoristas atrapalhados com as mudanças. "Fiquei com medo de pegar o túnel porque não sabia onde ele termina. A faixa da CET diz Castello Branco e Francisco Matarazzo, mas o túnel termina antes da ponte Eusébio Matoso", reclama da indicação a motorista.
"Estou superconfuso", admite o chef de cozinha Waltim de Carvalho, 49. "Só agora que estou na Faria Lima descobri que deveria ter pego o túnel até a marginal."
"Para mim, isso aqui está uma maravilha", diz o incorporador imobiliário Jô Laniado, 65.
"É sempre assim: uns gostam, outros não. Não tem jeito", comenta o marronzinho.
Para estar logo cedo onde o trânsito está, Cunha levanta às 3h30. Tem carro, mas prefere pegar dois ônibus ("de Bilhete Único, é claro") às 4h30 a dirigir até a central da CET. "Detesto pegar trânsito. Prefiro ser um carro a menos na rua e ir de ônibus." Antes mesmo das 6h, ele já está nas ruas. E logo o rádio que carrega na cintura começa a passar os avisos de acidentes, carros parados em locais proibidos, pontos de congestionamento, semáforos com problemas.
Do outro lado do rádio, na central da CET, o técnico Jesus é requisitado o tempo todo para dar solução para a confusão criada pelo novo túnel. Às 7h30: "Jesus, precisa ajustar o semáforo da Henrique Monteiro. Ele tá travando tudo aqui". Às 8h15: "Jesus, tem um semáforo que precisa de manutenção aqui na Lorena com a Haddock Lobo. Copia?". Às 9h45: "Ô Jesus, os carros estão fechando o cruzamento da Rebouças com a Maria Carolina. Precisamos de reforço".
"A gente brinca que, para resolver o trânsito de São Paulo, só chamando Jesus", conta ele.
Para Cunha, os motoristas ainda devem demorar cerca de um mês para se acostumar ao novo trajeto. Durante pelo menos duas semanas, os fiscais da CET não multarão os carros que cometerem infrações no túnel e nas faixas do Passa-Rápido. "Por enquanto, vamos apenas orientar", disse.


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