São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2008

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Até Palácio é "reprovado" em teste do cigarro

Convidada pela Folha para verificar tolerância em locais fechados, atriz fumou na sede do governo paulista sem ser incomodada

Manuela Alvim, 25, foi repreendida em Congonhas e dentro de lanchonete; funcionário fumava no plenário da Assembléia

Fotos Alex Almeida/Folha Imagem
A atriz Manuela Alvim fuma em área proibida na Assembléia Legislativa de SP; cigarro durou 3 minutos e 32 segundos e ninguém falou nada

ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Dos lábios da atriz Manuela Alvim, 25, um cordão de fumaça rompe o ar. O inconfundível odor contamina o ambiente, mas parece não chamar a atenção de quem passa: nenhuma reclamação, nenhum pedido para que apagasse o cigarro.
E ela não estava em um bar, café ou na rua. Manuela fumava ostensivamente no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista e residência do governador José Serra (PSDB).
O tucano é o autor do projeto de lei enviado à Assembléia Legislativa que visa banir o fumo em locais fechados de uso coletivo -públicos ou privados.
Também foi o governador quem tornou o Palácio um ambiente considerado livre do tabaco, cheio de placas informando sobre a proibição do fumo (até nas áreas externas). Mesmo assim, ela não foi incomodada nos seis minutos e nove segundos que durou o cigarro.
Estava a cerca de cinco metros dos funcionários que controlam o principal acesso de visitantes e outros funcionários. Fumou ao lado de uma placa antitabagista de Serra.
Muita gente passava sem nada dizer. Um grupo de homens até olhou para a moça, mas parecia tentar uma paquera, sem nenhuma advertência em relação ao produto que inalava.
Fumante há dez anos, Manuela aceitou convite da Folha para ajudar a testar a reação das pessoas, em locais públicos e privados, ante ao desrespeito.
Além da casa do governador, ela aceitou o desafio de fumar dentro da Assembléia, que discutirá o projeto do governador sobre a restrição ao cigarro.
Lá, Manuela fumou um cigarro inteiro no corredor do primeiro andar, em três minutos e 32 segundos.
Ninguém falou nada. Como não havia placas informando sobre restrição de fumo, aquilo pareceu tão normal que a reportagem questionou, posteriormente, os policiais militares se era permitido fumar ali. Informaram que só ao lado de janelas abertas, o que não era o caso "encenado" pela atriz.
Para não deixar dúvidas, porém, de ser um local proibido ao tabagismo, Manuela foi ao plenário principal da Assembléia testar a tolerância dos parlamentares. Não foi possível. Além de as sessões já terem terminado, um funcionário da Casa, que se identificou como Orivaldo, já fumava lá dentro.
O teste de tolerância proposto pela Folha também incluiu o interior de um dos principais aeroportos do país, o de Congonhas, em São Paulo.
No corredor das lojas, próximo a um espaço dos seguranças, Manuela fumou por quatro minutos e nove segundos. Quase no fim do cigarro, foi abordada pela segurança do aeroporto, que informou, educadamente, da proibição. "Só pode fumar lá fora", disse a funcionária, mas sem obrigar a transgressora a apagar o cigarro. A única "hostilidade" foi a cara amarrada da funcionária.
Agora era a vez de um restaurante. Para não ter dúvidas de se tratar de local proibido para fumantes, a reportagem foi com a atriz ao McDonald's da avenida Faria Lima. Quem fuma dentro de McDonald's com janelas fechadas?
Manuela sentou-se numa mesa do piso superior e acendeu o cigarro. Avisado por outro funcionário, o segurança Ivanilson Batista de Almeida, 27, subiu as escadas aos pulos para adverti-la. "Moça, aqui não pode fumar não. Só lá fora", disse, cravados 74 segundos após a primeira chama. A mais rápida advertência do dia.
Almeida admitiu que quando soube da "transgressora" achou muita provocação porque "todo mundo" sabe que ali não pode fumar. Mesmo assim, foi educado e nem obrigou a atriz a apagar o cigarro -que deixou o prédio fumando. "Aqui, vem gente de todo o lugar. Poderia ser alguém de um país onde seja permitido fumar em restaurante", explica o funcionário sua ponderação.
O outro teste de tolerância ocorreu no shopping Iguatemi, um dos mais luxuosos da capital. Nada. Manuela fumou o quanto quis, mesmo perto de crianças e idosos.
Ficou três minutos e sete segundos no vão principal, ao lado dos namorados Jairo Santana dos Santos, 30, e Sheila Cristina Pereira, 22. "Não me importo. Nunca reclamo. Até porque tem funcionário para isso", disse ele, agente de segurança.
E, por falar em segurança, dois funcionários do shopping só pediram explicações para o fotógrafo. Não poderia fazer fotos ali dentro sem autorização. Manuela não foi incomodada.


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