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ENSINO
Segundo o ministro Fernando Haddad, recursos aplicados de fato no setor não superam os 4% do PIB divulgados pelo governo
País investe em educação menos do que diz
KENNEDY ALENCAR
DO ENVIADO ESPECIAL AO PORTO
O ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou ontem
em viagem a Portugal que o Brasil
investe "menos do que 4%" do
PIB (Produto Interno Bruto) na
sua área, ao contrário do que indicam as estatísticas oficiais dos últimos anos.
Segundo ele, gastos em outras
áreas, como saúde, são contabilizados como despesas em educação. Disse ainda que o país deveria investir durante 20 anos pelo
menos 6% do PIB se quiser realmente resolver seus problemas na
área educacional.
Ao afirmar que o Brasil gastava
menos do que 4% do PIB em educação, Haddad se referia a cálculos que serão divulgados em breve
por sua pasta. Ele diz acreditar
que essa conta norteará futuras
discussões sobre investimentos.
Formalmente, disse o ministro, o
Brasil tem gastado dentro da média prescrita pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), entidade internacional que reúne os
países mais ricos do mundo e avalia regularmente políticas educacionais. Aplicar 6% seria adotar a
recomendação da Unesco (Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura).
Haddad atribuiu as raízes do
que chamou "atraso educacional"
do Brasil a três fatores que só teriam acontecido simultaneamente no país: "Colonização retrógrada, escravidão longa e patrimonialismo". Afirmou que "o Brasil
é o Estado menos republicano" da
América Latina se levada em conta a sua história até os dias atuais.
Para o ministro, a colonização
portuguesa, a independência do
país (1822) e a proclamação da
República (1889) aconteceram
sem "rupturas" que ocorreram
em todo o continente americano.
Ele lembrou que o Brasil foi o último país a abolir a escravidão
(1888). E disse que o patrimonialismo (grosso modo, quando a elite usa o Estado como um bem privado e a seu serviço individual) é
uma característica contemporânea do país.
O ministro afirmou que o governo do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva tem feito esforços
para superar os problemas na
educação, mas destacou que a solução virá apenas quando eles se
transformarem numa prioridade
de "toda a sociedade". Com a consolidação da democracia e a estabilidade econômica, "a educação
formaria o tripé para aumentar o
desenvolvimento."
Haddad disse que hoje já existiria consenso de 90% entre União,
Estados e municípios a respeito
do que fazer para melhorar a educação. Ele considera que um grande plano nessa área uniria todos
os partidos políticos e lembrou
que o Congresso tem tomado medidas pró-educação.
Ele conta que recebeu um telefonema recente do ministro da
Fazenda, Antonio Palocci Filho,
que relatou ter participado de um
jantar com empresários para discutir educação. "Acho que é a primeira vez na nossa história que
um ministro da Fazenda vai tratar
disso com empresários."
O assessor especial de Lula para
assuntos internacionais, Marco
Aurélio Garcia, que participou da
conversa de Haddad com jornalistas no Porto, disse que o presidente recebeu uma pesquisa do
NAE (Núcleo de Assuntos Estratégicos) que mostra que a população elegeu a educação como sua
prioridade número um. Sob o comando do assessor especial e ex-ministro Luiz Gushiken, o NAE
propõe fazer um plano para a formação e qualificação de professores. Haddad e Garcia estavam na
comitiva de Lula na viagem presidencial à Europa.
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