São Paulo, domingo, 14 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Em Belém, morador é o mais "inseguro"

Em São Paulo, índice de reclamações de violência chega a 40%, o que rende à capital paulista o sexto lugar no ranking

Gerente da Pesquisa de Orçamentos Familiares explica que dado recebe influência de fatos pontuais, como repercussão de crime

DA SUCURSAL DO RIO

A Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que são os moradores da região metropolitana de Belém os que mais reclamaram, no ano da pesquisa (2003), de violência ou vandalismo em sua área de residência, com 60% de famílias fazendo essa queixa.
Apesar de o Estado liderar as estatísticas de homicídio no Brasil, os moradores da região metropolitana do Rio não foram os que mais reclamaram na lista de nove regiões metropolitanas comparadas (39% se queixaram de violência ou vandalismo). O menor percentual foi verificado na região metropolitana de Salvador (37%).
Em São Paulo, as reclamações de violência atingiram 40% dos entrevistados -o sexto lugar no ranking.

Quesito influenciável
Edilson Nascimento da Silva, gerente da Pesquisa de Orçamentos Familiares, explica que, por se tratar de uma percepção da violência, esse quesito é muito influenciado por alguns fatos pontuais.
"Na época em que os pesquisadores foram a campo em Belém, por exemplo, a mídia poderia estar repercutindo algum grande crime e isso influencia a pesquisa", afirmou o gerente da POF. "Se fosse feita a mesma pesquisa no Rio em momentos de crise, o percentual certamente seria maior."
O sociólogo David Morais, do Núcleo de Estudos sobre Segurança e Política Criminal, da Universidade Candido Mendes, e autor de estudos sobre a percepção de violência, também lembra que as notícias sobre violência influenciam a percepção das pessoas e acabam criando a sensação de que algumas áreas ou cidades são mais violentas do que outras.
"Uma violência sofrida por uma criança num bairro de maior poder aquisitivo tende a ter mais estardalhaço na imprensa do que qualquer assassinato em áreas [com moradores] de baixa renda", afirmou. "Isso deixa nas pessoas o medo de sofrer também essa violência. É por isso também que algumas cidades pegam mais do que outras a pecha de serem perigosas", diz Morais.

Barulho no vizinho
O padrão apontado pela POF -mais ricos reclamando mais das condições de moradia- foi observado também quando se perguntou sobre a presença de vizinhos muito barulhentos ou da existência de poluição e outros problemas ambientais.
No caso do barulho, nas famílias com gastos menores que R$ 400, o percentual dos que reclamaram foi de 18%, enquanto entre os mais ricos (despesas superiores a R$ 4.000 mensais) esse percentual chega a 32%. Quando se trata de poluição ou de problemas ambientais, os percentuais variaram entre essas mesmas faixas socieconômicas de 15% para 27%.
O sociólogo David Morais, da Candido Mendes, explica: "Quando você tem mais poder aquisitivo, vai buscar mais tranqüilidade e qualidade de vida. Com isso, tende a reclamar mais de todo elemento que coloque em risco isso".


Texto Anterior: Ricos reclamam mais da violência do que os pobres
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.