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Rolex nascem no luxo e "morrem" no asfalto
Relógios de grife são quase sempre caçados no trânsito, perto de restaurantes e de lojas
A Figueira Rubayat adotou estratégia após clientes se tornarem alvo; relógio roubado também é vendido
por milhares de reais
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em seu único mês no pulso
da dona, o Rolex Oyster Perpetual da joalheira Natasha Pinheiro (ele, R$ 10 mil; ela, 26
anos) foi testemunha do lado
mais doce do Brasil.
Comprado na butique Daslu
"em oito prestações", banhou-se no mar de Angra dos Reis
-"biquíni com relógio é chique", informa Natasha-, passeou pelas vitrines grifadas dos
Jardins e refletiu em seu vidro
à prova d'água algumas das melhores festas da cidade.
As aventuras pelo mundo do
luxo tiveram fim em um semáforo, como acontece com a
maioria dos relógios de grifes
roubados na cidade, segundo o
Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado). Também foi assim com o
Rolex do apresentador Luciano
Huck, que, após ter sido assaltado, contou a história em artigo sobre violência publicado na
Folha, há duas semanas.
Projetado em Genebra, na
Suíça, feito com pulseira de aço,
o relógio de Natasha era do
mesmo modelo usado pelo James Bond de Sean Connery,
mas com fundo de ouro rosa.
Está desaparecido.
O roubo aconteceu em uma
esquina próxima ao shopping
Iguatemi, de onde Natasha havia saído com a irmã após uma
tarde de compras. Ela havia escondido o acessório. "Eu sei
que "tá" no bolso, me dá o relógio!", gritou o assaltante, na garupa de uma moto, de capacete,
com uma pistola na mão.
Vida na periferia
E lá se foi o Rolex de Natasha.
Mas para onde? Segundo o
Deic, o fim mais comum é o
pulso de receptadores também
endinheirados, que pagam alguns milhares de reais pela máquina roubada.
"Se custou R$ 10 mil na loja,
sai por R$ 2.000, bem mais caro
que meu Citizen", brinca o delegado Edson Santi.
E quem rouba? "São ladrões
que vêm de moto da periferia e
de cidades como Francisco Morato", ele diz. Para Santi, a ousadia dos ladrões aumentou. "Como os relógios têm um número
de registro que permite o reconhecimento, era comum, até há
cinco anos, que fossem vendidos longe dos donos, em países
como Argentina e Uruguai. Hoje em dia estão ficando em São
Paulo mesmo." Entre os motivos, ladrões apreenderam a
adulterar esse "chassi".
Na capital paulista, diz Santi,
"são revendidos em "bocas de
ouro", em escritoriozinhos da
periferia". Ou então entregues
aos compradores em locais públicos, como em lanchonetes de
shopping center.
"Peguei trauma de Rolex.
Prefiro usar um Cartier de ouro, que também é legal e passa
mais despercebido. Qualquer
bandido, hoje, reconhece um
Rolex", diz Natasha, que ainda
combina os relógios com biquíni quando vai a Angra.
Rolex de sobremesa
O roubo do relógio de Natasha é típico, segundo as informações do Deic. Os ladrões caça-Rolex costumam agir perto de
lojas e restaurantes de luxo e ficam à espera das presas no semáforo. Muitas vezes, têm funcionários como informantes.
Há cerca de um ano, o restaurante A Figueira Rubayat, um
dos mais chiques e caros de São
Paulo, detectou o problema:
seus clientes acabavam de almoçar ou jantar e eram abordados alguns quarteirões à frente.
Não houve indícios da participação de nenhum empregado, mas, segundo o Deic, o problema só acabou depois que o
restaurante vetou o uso de celular por funcionários.
Belarmino Iglesias, o proprietário, diz que não foi bem
assim: "Desde a abertura do Figueira, nunca permitimos durante o serviço e nas dependências do restaurante o uso de celulares pelos funcionários.
Acho que o que realmente resolveu essa questão foi que a
polícia na região dos Jardins
passou a atuar diferentemente,
abordando e revistando motos,
colocando mais carros em ronda nessa região." Ele -que diz
saber de apenas dois roubos-
também conta que reforçou a
vigilância no local.
Lá fora, tudo bem
O piloto de Stock Car Luciano Burti teve um Rolex roubado, segundo ele, pelo filho da faxineira. Em São Paulo? "Não,
foi na Inglaterra. A empregada
era de confiança, mas o filho
dela era viciado [em droga]."
Apesar de ter levado o prejuízo na Europa, Burti só costuma
circular com sua coleção de relógios (Chopard, Bulgari, IWC,
entre outros) por lá. No Brasil,
se sente "inseguro".
"Em São Paulo acabo usando
um modelo simples ou vejo horas no celular. Olha, cara, a gente sabe que o perigo existe, não
dá para ficar na neura pensando no relógio", diz o piloto.
E o Rolex Oyster Perpetual
de Natasha? Voltará, um dia, a
enfeitar o pulso da dona? "Tem
gente que recupera o relógio.
Acontece de o receptador levar
na assistência técnica e o roubo
ser descoberto, por exemplo.
Mas não é muito provável",
conclui o delegado do Deic.
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