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Cadeias para preso à espera de julgamento são as mais lotadas
Os dados da população carcerária da última sexta-feira mostram unidades com quase o triplo de suas capacidades
CDP 1 de Pinheiros abriga quase o triplo da capacidade; governo promete, até 2010, 45 novas prisões e cerca de 35 mil vagas a mais
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
BRUNA SANIELE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os CDPs (Centro de Detenção Provisória), presídios destinados ao encarceramento de
detentos à espera de julgamento, são as prisões mais superlotadas atualmente no Estado de
São Paulo. Dados de 17 das 33
unidades prisionais desse tipo,
obtidos pela Folha e referentes
à população carcerária de cada
uma delas na última sexta-feira
(10), revelam excesso de presos
em pelo menos 16 CDPs.
A situação mais grave é do
CDP 1 de Pinheiros, localizado
na zona oeste de SP: tinha, no
último dia 10, 1.516 detentos
confinados em um espaço
construído para 520 detentos,
quase o triplo de sua capacidade original -191,5% a mais.
O CDP de Santo André
(ABC) tem 512 vagas, mas abrigava 1.477 presos na sexta
-188% mais. Os dois CDPs do
Belém, na zona leste, tinham
2.301 detentos a mais do que as
capacidades de 1.536 vagas de
ambos - 149% acima do que
suportam os dois CDPs.
Um desses presos do complexo Belém, segundo o departamento jurídico da Pastoral
Carcerária Cristã, é o lavador
de carros David Gedison de
Oliveira, 30, pai de cinco filhos,
e acusado de roubar R$ 0,80.
Ele não tinha antecedentes.
De acordo com o censo penitenciário do Depen (Departamento Penitenciário Nacional), órgão do Ministério da
Justiça, realizado em junho, as
prisões do Estado de São Paulo
operam com 50% mais presos
do que o número de vagas existentes. São 145.096 presidiários em 95.540. Déficit: 48.556.
Só 1 em 17
Ainda de acordo com os dados das populações carcerárias
de 17 dos 33 CDPs, apenas uma
das unidades projetadas para
presos provisórios, o CDP de
Franco da Rocha (Grande SP)
operava sem superlotação. Em
864 vagas estavam 857 presos
-0,81% das vagas estavam à
disposição.
A população carcerária de
São Paulo deixou de ser revelada publicamente pelo governo
do Estado em maio de 2006, logo após a primeira onda de ataques da facção criminosa PCC
(Primeiro Comando da Capital) contra as forças de segurança, quando o ex-policial militar Antonio Ferreira Pinto assumiu a SAP (Secretaria da Administração Penitenciária).
"Na cela projetada para 12
pessoas, sempre encontramos
pelo menos 50 nos CDPs. E
quase sempre é gente que não
foi julgada, jovem, mas que já é
vítima do descumprimento da
lei por parte do Estado", afirma
a missionária católica Margaret
Gaffney, 68, 36 deles dedicados
aos presos. "A situação é bem
pior nos CDPs porque, na
maior parte dos casos, o Estado
não consegue nem mesmo dar
itens de higiene pessoal para
esses detentos", continua.
"Dorme todo mundo que
nem valete [de costas, com os
pés na cabeça do outro]. A gente dorme no meio dos ratos.
Tem rato do tamanho de um
gato, tudo dormindo lado a lado
com a gente", diz W.C.S., 25, libertado em setembro do CDP 1
de Guarulhos (Grande SP). W.
foi preso em 2006 sob a acusação de estupro, homicídio e
ocultação de cadáver.
Depois de dois anos e 13 dias
à espera de julgamento no CDP
1 Guarulhos, W. foi solto quando um outro homem, chamado
pela polícia paulista de "Maníaco de Guarulhos", confessou os
crimes que o levaram à prisão.
Na sexta-feira, o CDP 1 funcionava com uma população carcerária 159% superior ao seu
número de vagas. Eram 1.990
homens para 768 vagas.
Outro lado
A assessoria de imprensa do
governador José Serra (PSDB)
informou sexta-feira que o Estado deverá ter, até 2010, 45
novas prisões e cerca de 35 mil
vagas a mais.
O governo também prevê que
o Orçamento de 2009 terá R$
2,37 bilhões para a Secretaria
da Administração Penitenciária, 24% a mais do que o aplicado neste ano.
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