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União investe R$ 6 mi, mas registro de armas não avança
Após início de campanha, foram registradas só 5.602 armas, nº considerado irrisório
A partir de 1º de janeiro, possuir arma sem registro será considerado crime, e o dono ficará sujeito a pena de detenção de um a três anos
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um mês depois de o Ministério da Justiça lançar campanha
publicitária de R$ 6 milhões
para estimular o registro de armas de fogo, a Polícia Federal
contabilizou o registro de apenas 5.602 armas e o recadastramento de outras 12.706. A partir de 1º de janeiro, possuir arma sem registro será considerado crime, e o dono ficará sujeito a pena de detenção de um
ano a três anos, além de multa.
O baixo número de registros
uniu adversários na questão do
desarmamento. "É um número
irrisório, insignificante é a palavra mais exata", avalia Bené
Barbosa, presidente do Movimento Viva Brasil, entidade
contrária ao desarmamento.
O cadastro da PF contabiliza
6.382.780 armas registradas;
calcula-se que cerca de 4 milhões delas estejam nas mãos
da população. Segundo Marcos
Dantas, chefe do Serviço Nacional de Armas, de 300 mil a 500
mil outras armas deveriam ser
entregues ou registradas. Mas a
campanha não tem metas.
"Isso não é nada, é preciso cadastrar milhões de armas que
estão na ilegalidade", observa
Denis Mizne, diretor-executivo
do Instituto Sou da Paz, que defendeu a proibição da venda de
armas no referendo de 2005.
O secretário-executivo do
Ministério da Justiça, Luiz
Paulo Barreto, endossa: "Os
números são muito pequenos
mesmo, isso preocupa". Ele reconheceu que os interessados
em fazer o registro enfrentam
dificuldades. O endereço eletrônico que deveria permitir o
registro provisório de armas na
internet nem sequer começou
a funcionar, apurou a Folha.
Também estão atrasados os
convênios que permitiriam o
registro em cidades onde não
há unidades da Polícia Federal.
"Existe uma parcela que tem
medo de fazer o registro, mas o
problema é que a lei não está
funcionando", disse Barbosa.
O prazo para registro das armas no Sinarm (Sistema Nacional de Armas), da Polícia
Federal, já se esgotou duas vezes desde a sanção do Estatuto
do Desarmamento, em 2003. E
uma nova mudança na lei, em
julho, permitiu que o registro
seja feito até dezembro. O Ministério da Justiça descarta a
hipótese de outra prorrogação.
Sem taxa
Até dezembro, os donos de
armas que ainda não foram registradas no Sinarm estão dispensados de pagar a taxa de R$
60 e não precisam se submeter
a testes de capacidade técnica e
aptidão psicológica.
A suspensão das exigências
tem por objetivo ampliar o número de registros - uma opção
para quem não quer entregar as
armas em troca de indenização
de R$ 100 a R$ 300.
As estimativas sobre armas
ilegais são incertas. "Esse número é complicado, não sabemos quantas armas importadas
entraram no país, quantas estão na ilegalidade; a gente não
trabalha com metas", diz Dantas. Pesquisa da ONG Viva Rio
contabiliza 8,4 milhões de armas ilegais no país.
Barreto diz que a prioridade
do governo ainda é tirar armas
de circulação. A prioridade é
baseada na redução do número
de mortes provocadas por armas de fogo desde 2003, ano do
Estatuto do Desarmamento.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, essa queda
superou 10% entre 2003 e
2006. Ainda assim, a taxa brasileira de mortes por armas de fogo continua alta. São 19,3 mortes por ano em 100 mil habitantes. E 200 municípios concentraram quase 80% do total de
mortes por armas. Encabeçam
a lista Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Belo Horizonte, Salvador, Maceió, Curitiba, Fortaleza, Brasília e Duque de Caxias, segundo o Mapa da Violência editado neste ano pelo
Ministério da Justiça.
Apesar de o objetivo principal da campanha ser o registro
de armas, o governo mantém
por tempo indeterminado o pagamento de indenização a
quem entregar armas. Desde
2004, as indenizações consumiram mais de 41 milhões.
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